terça-feira, 6 de março de 2007

O fim da era dos combustíveis fósseis

Professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB). É ex-secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio. Autor de 14 livros entre os quais De estado servil a nação soberana, Reconquista do Brasil, Poder dos trópicos, Brasil, civilização suicida e Dialética dos trópicos.

Vive a humanidade o fim de era que durou 200 anos de uso extensivo de combustíveis fósseis: carvão mineral, petróleo e demais fósseis, que levam eras geológicas para se formarem. Nações hegemônicas situadas em regiões temperadas e frias do planeta, pobres em energias renováveis e limpas, impuseram ao mundo as formas fósseis armazenadas em campos de petróleo: os supergigantes (duas dezenas), que representam 50% do petróleo descoberto; os gigantes (duas centenas), que representam 25% das reservas; e os restantes 25%, com cerca de 20 mil campos.

O crescente consumo de petróleo no mundo vem exaurindo as reservas existentes. A situação de países importantes no poder mundial é desesperadora pelas imensas necessidades de combustíveis fósseis para suas economias. Os Estados Unidos, com apenas 6% da população mundial, consomem 25% da energia disponível. Tinham na origem cerca de 190 bilhões de barris de petróleo. Restam hoje, porém, menos de 20 bilhões, o que daria para pouco mais de três anos de consumo.

O declínio das reservas do Alaska, da Inglaterra e outras acentuam as atuais carências estruturais que têm provocado um acentuado aumento dos preços internacionais do barril de petróleo. Contribuíram para isso problemas crescentes no Iraque, o golpe de Estado na Venezuela e a escalada do terrorismo, com acontecimentos em Madri, Arábia Saudita e outros.

Segundo previsões de especialistas, o preço do barril chegaria em 2006 a US$ 50,00 e a US$ 100,00 até o fim da década. Nos últimos dias, o barril passou dos US$ 55,00! Observadores internacionais identificam questões estruturais em vez de conjunturais para esses aumentos.

Tensões internacionais indicam aumento de conflitos em torno da questão do petróleo. Potências nucleares que dele dependem em suas economias irão intensificar o aumento do controle de acesso garantido ao combustível no Oriente Médio e em outras partes. A perspectiva de garantir formas alternativas aos derivados do petróleo – como o etanol e o biodiesel – é alternativa para os grandes consumidores, como o Japão.

Apesar do tremendo esforço realizado por países como a Alemanha, que interrompeu seu programa nuclear que já abastecia 30% de sua energia elétrica e tornou-se a principal potência mundial em energia eólica, a questão mundial realmente crítica são os combustíveis líquidos somente equacionados pelas regiões tropicais.

Nessas circunstâncias, a única alternativa mundial são as energias renováveis e limpas. Nesse contexto, o Brasil desponta como grande fornecedor, único dos trópicos com a maior proporção de água doce, essencial na formação dos hidratos de carbono pela fotossíntese das plantas. À medida que o Brasil oferece vantagens comparativas excepcionais na produção desses combustíveis renováveis e limpos, sua economia tem de preparar-se para desempenhar crucial papel no futuro energético do mundo.

Na atualidade, o Brasil produz álcool etílico, sem qualquer subsídio, pela metade do preço do segundo produtor, os Estados Unidos. Esse país, por isso, impõe um subsídio de 100% sobre o seu álcool obtido a partir do milho, o que desmoraliza qualquer falaciosa propaganda de livre-mercado sempre alardeado pelos norte-americanos. Em São Paulo, o etanol vem sendo vendido nas bombas por 40% do preço da gasolina.

José Walter Bautista Vidal, foi secretário de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio e é autor de 14 livros, dentre os quais De estado servil a nação soberana, Reconquista do Brasil, Poder dos trópicos, Brasil, civilização suicida e Dialética dos trópicos.

Este artigo foi publicado originalmente no site da Universidade de Brasília/UnB Agência.


Fonte: Verso Brasil Editora - editora@versobrasil.com.br
Foto: Cláudio Reis/UnB Agência

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