terça-feira, 6 de março de 2007

Biocombustíveis, Hidrogênio e Células a Combustível

Que o Brasil apresenta uma enorme capacidade para produzir biocombustíveis não há dúvida. Já foram provados com o álcool os bons resultados das tecnologias baseadas em biocombustíveis e, agora, quem sabe com o biodiesel,. Algumas pesquisas sugerem que o Brasil tenha potencial para sustentar o mundo a partir da biomassa. Pode ser um grande equívoco. Deve-se buscar equilíbrio na diversidade entre as fontes de energia. Nesse contexto, o hidrogênio pode se mostrar uma fonte mais equilibrada devido à sua obtenção a partir de diversas fontes: tais como o álcool, o biodiesel, o biogás, a água das hidrelétricas, o gás natural, e outras fontes, pulverizando o poder.

Aqueles que são contrários ao hidrogênio, não percebem a vantagem das células a combustível, a tecnologia que converte a energia química do hidrogênio em eletricidade e, como resíduo, a água. Não aceitam por não compreenderem o funcionamento desta tecnologia de ponta ou porque atendem a interesses dos tradicionais grupos ligados às fontes de energia já existentes. Note que, enquanto em um motor de combustão movido a álcool ou a gasolina apresenta-se uma eficiência de 13 a 25%, no processo de obtenção de hidrogênio a partir do álcool e sua utilização em células a combustível e em motores elétricos, apresenta-se eficiência global entre 40 e 50%, de acordo com alguns estudos. Tudo isto feito dentro do carro, como já foi provado pela GM (gasolina). Caso seja um carro abastecido totalmente por hidrogênio, o veículo apresenta eficiência maior.

Além disso, os carros elétricos com células a combustível utilizam o sistema de freio regenerativo, isto é, são veículos elétricos híbridos. Este sistema armazena energia em uma bateria quando se freia o carro (convertendo a energia do movimento do carro novamente em energia elétrica). A energia acumulada é usada durante a aceleração, tornando o veículo mais econômico. Outra vantagem é que os motores elétricos apresentam torque superior aos motores de combustão, exigindo menos potência do motor na aceleração e, conseqüentemente, provocando um menor consumo.

Todos nós defendemos a produção de biocombustíveis, como o nosso álcool (etanol) e o recém nascido biodiesel. Entretanto, poderemos produzir a metade ou 2/3 do necessário caso os carros sejam movidos por células a combustível. Além disso, a queima do álcool, ou biodiesel, produz ainda alguns gases como os óxidos de nitrogênio, que são poluentes. A queima também produz duas vezes mais gás carbônico que um carro movido por célula a combustível (que produza o hidrogênio através do álcool ou gasolina a bordo do próprio veículo). Isto faz diferença em grandes centros urbanos.

Um carro com célula a combustível e abastecido com hidrogênio praticamente não vaza óleo, não emite ruído e poluentes, além de ser entre duas e três vezes mais eficiente que um carro com motor a combustão. Ideal para grandes cidades. Como o hidrogênio pode ser produzido a partir de diversas fontes (álcool, biogás, água, gás natural, biodiesel), o proprietário de um carro elétrico a hidrogênio não sofrerá tanto diante de uma crise de fornecimento de qualquer uma das fontes de hidrogênio, pois a crise de uma fonte é amenizada pelas outras fontes. Não teremos um ou dois segmentos que comandarão o mercado de combustíveis, como ocorre atualmente com o petróleo. Alguns setores da economia sugerem que, diante do fim da competitividade do petróleo, aconteça uma substituição integral deste pelo álcool e pelo biodiesel.

É um erro estratégico achar que produzir combustíveis somente a partir da biomassa irá resolver todos os problemas ambientais e energéticos do país ou de todo o mundo. Temos que utilizá-los em equipamentos eficientes como as células a combustível, e fazer mais uso de tecnologias como os painéis solares fotovoltaicos, turbinas eólicas e biodigestores para produção de biogás, obtendo benefícios a partir de resíduos urbanos e no meio rural.

Um grande projeto para iniciar a revolução da chamada “Economia do Hidrogênio” no Brasil, a partir de 2007, está sendo elaborado pelo Ministério de Minas e Energia. Entretanto, poucas informações têm sido divulgadas para a sociedade e instituições de pesquisa, como universidades, que apresentam muitos profissionais e estudantes interessados no desenvolvimento das tecnologias do hidrogênio.

As tecnologias do hidrogênio já estão bem desenvolvidas na Europa, Japão, EUA, Canadá e outros países. E para que isto aconteça também no Brasil, precisamos divulgar e incentivar o desenvolvimento no país o mais cedo possível, desde a base como o ensino médio, até às universidades, envolvendo biólogos, engenheiros, profissionais de economia, empresas privadas e instituições públicas.

Por Emilio Hoffmann Gomes Neto
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