segunda-feira, 19 de março de 2007

O biodiesel, por Sachs

Ao longo das últimas décadas, o economista polonês-brasileiro-francês Ignacy Sachs se transformou não apenas no maior especialista no que se poderia denominar de nova economia agrária, como em uma fonte permanente de bom senso e de pensamento não dogmático.

Perto dos oitenta anos, Sachs conviveu com os maiores economistas do século, foi assessor de Michel Kalecky e trabalhou com os pioneiros que, no pós-guerra, ajudaram a moldar a era de ouro do capitalismo.

Defensor intransigente de uma economia do campo (que vai além da atividade agrícola propriamente dita), Sachs está de volta ao Brasil, onde mantém um apartamento em Higienópolis.De sua última visita até agora ocorreram mudanças fundamentais no panorama do Etanol e do Biodiesel. Inclusive a descoberta do tema por grandes investidores internacionais.

Sachs sustenta que o Brasil está em uma corrida contra o relógio. Se não definir regras claras para os novos investimentos, haverá risco concreto da imposição de um modelo calcado exclusivamente na avaliação econômico-financeira, com pouca geração de empregos e distribuição de renda.

Em sua opinião, o Estado deveria intervir e licitar as novas usinas (especialmente em biodiesel) de acordo com critérios mais amplos do que o econômico-financeiro. Seu receio maior é que, sem a definição de uma política rápida, a soja acabe dominando o biodiesel criando uma situação irreversível.

Seriam os seguintes, os critérios a serem atendidos:

Critérios ambientais:

a) efeito sobre os gases estufa;

b) produtividade (quanto maior a produtividade, menor a pressão sobre as terras da alimentação; na cana e no óleo dendê, são seis mil litros por hectare; na soja, menos de mil);

c) demanda por recursos hídricos. Há atualmente uma série de novos estudos sobre "água virtual", ou seja, quanta água é necessária no processo de produzir um produto.

Critérios Sociais:

Há um emprego direto na soja por 200 hectares, um emprego direto no dendê por 10 hectares, e assim por diante. Esse dado tem que ser considerado para a aprovação de novos projetos.

Sachs considera loucura a idéia de que o Brasil pretenderá exportar todo o biocombustível e ser a Arábia Saudita do álcool. Há um estudo da Unicamp sobre a multiplicação do canavial brasileiro por seis (de cinco a 30 milhões de hectares), o que satisfaria 10% da gasolina mundial. Para ele parece duvidoso por várias razões. O primeiro é que se replicaria um modelo social desastroso. Depois, porque 30 milhões de hectares é uma França agrícola e meia - há 20 milhões de hectares na França, que é uma potência agrícola.

Outra preocupação é com a pesquisa tecnológica. O Brasil sai na frente na corrida do álcool. Tem que se que ter um programa de pesquisa, e há uma sinalização extremamente positiva por parte do Governo em criar a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em Bioenergia. Porém - lembra ele - o orçamento da agroenergia da Embrapa deverá ser de R$ 50 milhões por cinco anos, que eles esperam dobrar com recursos privados. E o departamento da agricultura norte-americano está investindo US$ 1,5 bilhão no problema da bioenergia.

Fonte: Folha da Região - Araçatuba/SP

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