quarta-feira, 14 de março de 2007

Pinhão manso: cultura agrícola viável ou planta promissora?


Muito se tem falado do pinhão manso (Jatropha curcas) como uma excelente alternativa para a produção de biodiesel no Brasil. No entanto, apesar de seu inegável potencial como oleaginosa, a planta é ainda pouco estudada como cultura, o que causa preocupação na comunidade científica.

Encontrada em fundos de quintais desde a Região Sul até o Nordeste brasileiro, o pinhão manso tem sido utilizada para sombra e cerca viva. São comuns os relatos sobre uso medicinal e na fabricação de sabão caseiro. As lavouras comerciais são ainda recentes, com um máximo de 2 ou 3 anos de implantação. Os trabalhos de pesquisa, no Brasil, também se encontram em sua fase inicial. Não existe, ainda, material selecionado, sistema de produção, zoneamento agrícola e pouco se sabe do real potencial da planta. Experiências internacionais e a observação de plantas isoladas têm apontado para um elevado potencial produtivo, mas não existem dados confiáveis de pesquisa até o momento. Sabe-se que a semente contém de 35 a 38% de óleo e sua qualidade é excelente para a produção de biodiesel. A torta proveniente da extração do óleo é tóxica e não pode ser utilizada em rações, tendo como destino o uso como adubo orgânico.

O pinhão manso é uma planta considerada tolerante à seca e adaptada a solos de baixa fertilidade, mas pode ter sua produção bastante influenciada por falta de água e nutrientes. Ao contrário do que se alega, a planta está sujeita a pragas e doenças que, caso não sejam adequadamente tratadas, provocam perdas consideráveis e podem causar a paralisação total do crescimento (caso do ácaro branco, cigarrinha verde e mofo branco). Quanto à suposta baixa exigência nutricional, experimentos preliminares têm apontado para ótimas respostas à calagem e adubação.

O pinhão manso, apesar de ser uma planta com características extremamente interessantes para a produção de óleo, necessita de um grande esforço de pesquisa para a sua completa domesticação. Infelizmente, como foi dito, não existe material selecionado, assim como informações científicas para subsidiar a decisão de implantação de lavouras comerciais. Além disso, o mercado de grãos não se encontra bem definido, pois as indústrias necessitarão de uma quantidade de matéria prima tal que compense os investimentos em adaptar os equipamentos para a extração de óleo do pinhão manso. Essa quantidade de material não estará disponível no mercado em curto prazo. Outra questão importante a se considerar é a baixa densidade dos grãos de pinhão manso, o que implica em grande volume a ser transportado até as unidades esmagadoras. Certamente, a distância entre a área produtora e a indústria mais próxima será um fator decisivo na análise de viabilidade dos empreendimentos.

Portanto, recomenda-se bastante cautela na implantação de lavouras, não devendo ser estimulados plantios em larga escala. Recomenda-se a implantação de pequenas áreas de observação, para que o produtor aprenda a lidar com a planta e o mercado se desenvolva. Uma estratégia importante é a parceria entre os produtores, indústrias, investidores e pesquisadores, no sentido de estabelecer uma rede de informação sobre o pinhão manso, ajudando na identificação de problemas e soluções para transformar “a planta promissora” em uma “cultura agrícola viável”.

Renato Roscoe - Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados-MS

Fonte: Jornal Agora MS

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