quarta-feira, 21 de março de 2007

Aquecimento do mercado de biodiesel com a alta do petróleo


A alta do preço do petróleo reaqueceu o mercado de biodiesel no Brasil. Estima-se que neste mês de março estejam sendo anunciadas de duas a três novas usinas por semana. É o melhor resultado do ano, pois o setor estava praticamente parado devido às cotações menores do combustível e também aos altos valores do óleo de soja - hoje principal matéria-prima do biodiesel.

Diferente de junho do ano passado, quando houve um boom neste mercado - com anúncios semanais de 5 projetos - as usinas em gestação de agora vão usar outras fontes, que não a soja. Naquela época, o preço do petróleo chegou a US$ 78 o barril e o do óleo de soja, a R$ 1,3 mil a tonelada. Hoje estão em US$ 60 e R$ 1,4 mil, respectivamente.

Parte destes novos projetos são voltados para o auto-consumo - indústrias que pretendem reduzir seus custos com combustíveis - variando entre pequenos a grandes investimento. Em média, uma usina grande precisa de um aporte de R$ 40 a R$ 60 milhões, enquanto uma pequena, R$ 5 milhões. "Mas todos os novos projetos estão fugindo da soja", diz Miguel Biegai Júnior, analista da Safras & Mercado.

Ele explica que o mercado estava quase parado até agora porque os preços do petróleo havia caído para níveis de US$ 50 o barril, enquanto os do óleo de soja chegaram a R$ 1,7 mil a tonelada - o que desestimulavam os investimentos. "Agora os projetos que estão saindo estão mais maduros em termos de planejamento. Há uma maior interação indústria e produtores, com contratos de longo prazo para o fornecimento e investimento em pesquisa", diz o analista. Segundo ele, muitas das usinas anunciadas no ano passado nem saíram do papel. Estão registrados atualmente na Agência Nacional de Petróleo (ANP) 80 projetos para 2,5 bilhões de litros, sendo 22 usinas construídas e apenas 13 em operação.

"Há um ‘frisson’ por parte dos produtores para fazerem bom uso dos recursos depois de três anos de vacas magras", diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Biodiesel (Abiodiesel), Nivaldo Trama. Por isso, segundo ele, muitos empresários estão planejamento investimentos em setores que são destaque. "A demanda está surpreendendo", avalia.

O presidente da Abiodiesel teme, no entanto, a falta de matéria-prima. "É preciso dissociar o biodiesel das oleaginosas alimentícias", diz. Segundo ele, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) precisa investir no desenvolvimento de variedades industriais, como a palma, o pinhão-manso, babaçu, mamona, entre outras.

Na avaliação do analista da Safras & Mercado, o futuro do biodiesel no Brasil passa por estas outras matérias-primas, sobretudo as culturas perenes. Segundo Biegai Júnior, os novos projetos já são voltados para o uso destes produtos: tungue (uma árvore asiática) no Sul, a palma para o Norte e o pinhão-manso no Centro-Oeste. A estimativa da consultoria é que entre 60% a 70% da produção de biodiesel do Brasil este ano seja oriunda da soja. No entanto, em até três anos, o quadro se reverte para as outras matérias-primas.

Neila Baldi
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