quarta-feira, 28 de março de 2007

CULTIVO DA MAMONA

Há quatro anos, o Ceará tinha 50 municípios zoneados para o cultivo da mamona. Na mais recente Portaria (4 de dezembro de 2006), da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), esse número subiu para 97 para Safra 2006/2007.

Os produtores dos municípios que entram no mapa do zoneamento seguem orientações e ganham, principalmente, a facilidade nos financiamentos. Enquanto isso, os 87 municípios descartados pelo estudo buscam crédito e confiança do mercado para implementar seus cultivos.

O problema vem a partir daí. Muitos municípios cearenses almejam estar no ainda seleto grupo zoneado. Mas um critério específico estabelecido pela Embrapa — responsável pelo zoneamento — os impede. Segundo o gerente do Programa Biodiesel do Ceará, da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), Valdenor Feitosa, entre os critérios básicos do mapa do zoneamento, a altitude é o mais restritivo. Para entrar nesse mapeamento, o município deve estar de 300m a 1.500m de altitude.

Fora esse critério, em todos os outros, os municípios do Estado se encaixam. Temperatura média entre 20º e 30º, solos com textura leve (não encharcáveis) e pluviosidade de 500mm a 1.500mm. “O Ceará se adequa a todos os fatores, mas a altitude impede de inserir os demais. Mas a Embrapa é irrefutável nesse critério”, diz o gerente Valdenor Feitosa.

Discordâncias

Ainda de acordo com o gerente da SDA, há pesquisadores que discordam do “conflitante” critério. “Acho que a água e solo são os mais importantes para o desenvolvimento da cultura”, explicita Feitosa. Ele adianta que novos cultivares de mamona já estão sendo pesquisados pela Embrapa — variedades que poderiam se adequar, sem problemas, a locais de baixa altitude. Ele acredita que em breve, praticamente todo o Estado será englobado pelo zoneamento do Ministério da Agricultura (Mapa).

Até lá, somente quem foi zoneado tem benefícios de receber orientações do Mapa e, pela SDA, receber sementes, assistência técnica e, o mais importante, ter garantia de financiamentos bancários. Além disso, pode ter o enquadramento de operações de custeio no seguro do Banco Central, Proagro. Feitosa resume os benefícios dizendo: “É como se não estando zoneados, em tese, os municípios não seriam recomendáveis para os agentes bancários. Não tendo acesso aos financiamentos”.

Apesar disso, ressalta, o cultivo da mamona pode ser feito em qualquer parte do Estado. Nesses casos, as prefeituras acabam tendo que arcar com os riscos e despesas da experiência. Ele diz que a Secretaria respeita o zoneamento, mas “excepcionalmente, atende certas demandas por sementes, como no caso de Limoeiro”. O município ficou fora do zoneamento, mas, ainda assim, está investindo no cultivo.

Sucesso do rendimento

O zoneamento é um estudo técnico que pretende orientar os produtores e amenizar os riscos na produção, explica o coordenador geral de zoneamento agropecuário do Ministério da Agricultura, Francisco José Mitidieri. Nesses casos, ele diz que há 80% de chances de sucesso do rendimento da cultura. “Ou seja, em 10 anos, você tem oito anos de chances de ser bem sucedido”.

Conforme nota técnica da Portaria nº201 do Mapa, a região Nordeste é responsável por 85% da área plantada com a cultura de mamona no País e por mais de 78% da produção nacional de bagas. Semeada de dezembro a maio, a mamona é uma cultura perene, mas tolerante à seca. A cultura da mamona se estende por dois anos. Segundo Mitidieri, cerca de 70% do que foi plantado no ano passado renderá este ano.

Mitidieri adianta que, após os resultados de 2007, o estudo será revisado, prevendo a elaboração de um novo zoneamento no ano que vem.

CRISTIANE VASCONCELOS
Repórter

O QUE ELES PENSAM
Produtores querem ampliação

A maioria dos pequenos produtores ainda permanece desconfiada e precisa ser convencida de que a mamona é uma cultura alternativa e viável. Acredito que na ação do governo do Estado de incentivo ao plantio, das áreas zoneadas, mas avalio o programa veio atrasado para este ano. Para 2008, o cenário deve ser favorável, caso o governo mantenha os incentivos. As terras são preparadas em dezembro e não se sabia dos incentivos de melhoria do preço mínimo e do pagamento de R$ 150,00 por hectare.
Manoel Loiola de Sena - Secretário de Agricultura de Tauá

O zoneamento é um instrumento técnico e orientador para o cultivo da mamona. Assim como para o produtor receber benefícios. Fora dele, os municípios não têm financiamentos e, conseqüentemente, não aderem ao seguro Agromais (produtores do Pronaf). Sem o zoneamento, só planta com recurso próprio, mas o produtor assume o risco. Ainda assim, a grande maioria que plantou esse ano, foi sem subsídio. Acho que o critério que restringe, da altitude, deveria ser revisto.
José Wilson Souza Gonçalves - Secretário de Política Agrícola da Fetraece

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