A obtenção do biodiesel a partir do cultivo de plantas oleaginosas é a aposta energética de instituições privadas e governamentais para o Amazonas neste ano. Juntos, os setores público e privado estão destinando R$ 2,20 milhões ao plantio de espécies nativas, ao processamento de óleos vegetais e a novas pesquisas científicas.
A Embrapa Ocidental (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que desde 1997 possui uma usina de produção do óleo de dendê no município de Rio Preto da Eva (a 80 km de Manaus em linha reta), agendou para maio deste ano a inauguração da primeira usina de biodiesel do Estado. Construída com recursos de R$ 806 mil liberados pelo Fundo Setorial de Energia (Ministério de Minas e Energia) e pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), a usina já produz mil litros por dia para atender um motor de 55 kva instalado na comunidade São Francisco de Mainá (vila do Puraquequara), onde o Exército realiza treinamentos.
De acordo com a engenheira química do IME (Instituto Militar de Engenharia) e coordenadora do projeto, Wilma Gonzalez, a usina tem capacidade para processar até 3.000 litros por dia.
De acordo com a pesquisadora, cerca de 40% da produção atual de biodiesel são utilizados para abastecer o motor, enquanto os 60% restantes são distribuídos para três comunidades isoladas. “O projeto é realizado pelo IME, a Embrapa e a Fucapi (Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica) e faz parte do programa ‘Luz para Todos’, do governo federal. Nosso foco é o atendimento de comunidades isoladas”, explicou.
No campo experimental da Embrapa, em Rio Preto da Eva, a estatal produz 600.000 sementes da palmeira africana por ano, em uma área de 412 hectares.
Outro projeto de geração de energia elétrica a partir do dendê está sendo coordenado pela Embrapa no Pará. A professora Wilma Gonzalez afirmou que a Eletrobrás está aplicando R$ 2 milhões na construção de uma usina de processamento do óleo de dendê, cujo objetivo também é o de alcançar comunidades isoladas por meio do programa Luz para Todos.
Segundo a engenheira química, duas vantagens do dendê para a fabricação de biocombustível são a alta produtividade e a característica perene da planta. “O dendê pode ainda ser cultivado em áreas degradadas, o que significa dizer que ele não causa danos à floresta”, salientou a pesquisadora.
Programa Estadual do Biodiesel tem recursos de R$ 400 mil
Ainda no âmbito das iniciativas governamentais, o Programa Estadual do Biodiesel, elaborado em 2004, está sendo desenvolvido por meio de dois projetos. Um deles é o ‘Programa de Biodiesel para o Amazonas a partir de Oleaginosas Nativas’, do qual participam a Ufam (Universidade Federal do Amazonas), o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e comunidades isoladas da Reserva Extrativista do Médio Juruá.
De acordo com a secretária adjunta da Sect (Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia), Izaura Rodrigues Nascimento, o projeto deve durar dois anos e conta com investimentos de R$ 400 mil, sendo R$ 200 mil do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e R$ 200 mil da Fapeam (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas). “A proposta visa a consolidação do laboratório para o estudo de óleos e gorduras e o controle de qualidade do biodiesel, a partir de óleos obtidos do tucumã, do urucuri, do muru-muru e do babaçu, e abrange desde a análise do óleo até os testes em motores”, detalhou a secretária.
O segundo projeto do Amazonas na área do biocombustível é o ‘Programa de Biodiesel para o Amazonas: Dendê’, que ainda não recebeu financiamento.
Empresa investe R$ 1 milhão
No setor privado, um dos investimentos mais ousados no cultivo de espécies oleaginosas é o da empresa Biodiesel da Amazônia, criada este mês para trabalhar com a promoção, compra e beneficiamento de sementes. Com capital inicial de R$ 1 milhão, a corporação se instalou no município de Itacoatiara (a 170 quilômetros de Manaus em linha reta) visando a inserção do Estado no PNPB (Plano Nacional de Produção e Uso do Biodiesel), do governo federal.
A empresa já administra um plantio de 50 a 70 mil mudas de pinhão manso, planta comum em todo o país que fornece uma semente com o rendimento de 30% a 40% de óleo.
O empresário apontou que as principais características da planta são o fácil plantio, a boa adaptação a solos de baixa fertilidade, a alta produtividade e a vida superior a 40 anos, que minimiza os gastos com o cultivo. Do ponto de vista econômico, o pinhão manso exerce uma importante função social, pois constitui uma alternativa de emprego e renda aos pequenos produtores.
Na fase dos testes feita com as sementes compradas de uma empresa do Maranhão, a Biodiesel da Amazônia verificou que a espécie vegetal frutifica em até seis meses. Com essa resposta em curto prazo, o sócio da empresa acredita que o biodiesel extraído do pinhão manso pode dinamizar a economia dos municípios do Amazonas, podendo ser usado na navegação fluvial e nos veículos que possuem motores pesados, como picapes e utilitários.
Fonte: Jornal do Commercio - Manaus
Nenhum comentário:
Postar um comentário