quarta-feira, 21 de março de 2007

Biodiesel caseiro tem futuro?


O advento do biodiesel vem nos últimos tempos interferindo de forma significativa no cenário agrícola brasileiro e mundial. Uma das suas vantagens é que, além de ser produzido a partir de matéria-prima renovável – ao contrário dos combustíveis fósseis – possui baixa viscosidade e melhor fluidez do que o óleo vegetal bruto, facilitando a alimentação e a combustão em todos os tipos de motores de ciclo diesel. Por isso, a possibilidade de fabricarno biodiesel para ser usado na própria frota de tratores e veículos tem despertado interesse de grande número de produtores, prinicpalmente dos que estão localizados em regiões distantes das refinarias. Esses, normalmente, pagam um preço mais caro pelo óleo usado nas máquinas, e vêem a possibilidade como a luz no fim do túnel para reduzir os custos de transporte das lavouras.

Mas as iniciativas ainda são incipientes. Como a produção do combustível é relativamente nova no País, os estudos recém estão saindo do papel. Além disso, a estrutura necessária para a produção do material é cara, demandando altos investimentos e exigindo, também, conhecimento técnico. Segundo o diretor do Núcleo de Sementes da Fazenda Ataliba Leonel, unidade pertencente à Coordenadoria de Assistência Técnica Integral de São Paulo (Cati), João Paulo Whitaker, outra dificuldade é a disponibilidade da matéria-prima. “Se a propriedade rural produzir a oleaginosa, deverá ter área compatível com seu consumo. Ou seja, deve-se levar em conta a questão de dimensionamento para não depender de compra do produto, já que o mercado (disponibilidade e preço) é, quase sempre incerto”, explica.

Um procedimento que frequentemente tem ocorrido nas zonas rurais são produtores simplesmente misturando o diesel ao óleo vegetal, danificando o motor dos tratores e colheitadeiras, alterando seurendimento. “Há uma ânsia de os agricultores quererem produzir o próprio combustível”, declara o pesquisador da Embrapa Soja, Amélio Dall'Agnol. Como a mistura do combustível ao diesel passará a se tornar obrigatória em 2% em 2008, a fase é deadaptação. Alguns fabricantes de máquinas já aceitam, inclusive, o índice de 5%, caso da Massey Ferguson. “Estamos seguindo as normas recomendadas pela Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocomb ustíveis (ANP)”, diz Paulo Verdi.

Sem garantia – De acordo com ele, a Massey está com toda a frota pronta para receber o B5 (5% de biodiesel e 95% de diesel mineral), mas não há garantia a tratores e/ou colheitadeiras que utilizem índices mais altos do biocombustível. “Quando isso acontece, os veículos vão para a análise, e, se for constatado uso de combustível irregular, perde-se parv da garantia do veículo”, destaca. Uma colheitadeira, salienta, tem 12 meses de garantia ou 600 horas. Os tratores têm oito meses ou mil horas. “Em alguns casos, o agricultor arrisca”, reconhece.

Segundo o consultor e coordenador de projetos da AustenBio Tecnologia em Biodiesel, detana, n Londrina/PR, Richard Fontana, no afã de produzir alguma economia, o agricultor estará perdendo irremediavelmente o motor do veículo, pois a tendência deste será de fundir peças. “O residual irá agir como uma veradeira lixa impedindo o ciclo de lubrificação que este tipo de máquina deve possuir para ter durabilidade, continuidade normal de funcionamento e rentabilidade”, explica. Os principais danos ocorrem na bomba injetora dos veículos.

Na injeção direta, não havendo pré-aquecimento do combustível, o óleo vegetal puro, por ser muito viscoso, não flui adequadamente. “Em todo caso, qualquer combustível utilizado deve ter sempre ótima qualidade (pureza, uniformidade, etc.). Claro que o programa de manutenção do trator não deverá ser esquecido, devendo-se trocar filtros, óleos lubrificantes sempre no momento programado”, lembra Whitaker.

Para Fontana, da AustenBio o produtor precisa, basicamente, de um sistema industrial de extração pelo menos parcial de óleo vegetal, que engloba os processos de recepção, limpeza, secagem, armazenamento, prensagem e condicionamento do óleo vegetal, além de um sistema de transformação deste óleo vegetal em biodiesel. “Muito embora pareça ser complicado, na verdade, é extremamente simples e compacta uma unidade de produção de biodiesel nestas condições, e perfeitamente possível ao médio e grande empresário rural”, destaca.

Mini-usina

Um exemplo é o modelo de mini-usina produzido pela AustenBio, com capacidade para produzir 350 quilos do biocombustível a cada turno de oito horas, cujo projeto é direcionado e focado ao empresário rural que consuma cerca de 400 mil litros de combustível por ano. O módulo tem um valor de aquisição por volta de R$ 700 mil e, de acordo com o consultor, é possível o agricultor amortizar o investimento em cerca de 15 meses de utilização da máquina. “Produzir biodiesel é fácil, porém produzi-lo dentro das especificações de utilização em motores de ciclo diesel é algo complexo e depende de conhecimentos profundos de química, bioquímica, físico-química e outros fatores”, alerta Fontana.

Algumas iniciativas podem ter sucesso ao tentar diluir o custo de aquisição de uma máquina como a AustenBio e da mão-de-obra. Conforme Whitaker, uma forma seria através do sistema de cooperativismo ou associativismo. “Montar um sistema de extração diminui o custo para cada agricultor”, aponta. Mas ainda há muito o que evoluir no setor.

O governo, segundo ele, precisa favorecer projetos comunitários regionalmente, como oferecer assistência técnica capacitada, desenvolver as aptidões regionais, facilitar acesso ao crédito para aquisição de equipamentos, desburocratizar a produção e o uso de biodiesel pelo produtor rural ou por qualquer outro setor da sociedade, já que existem normas e leis que impedem a fabricação e o uso de biodiesel sem a autorização do governo.


Fonte: Agranja - Edição janeiro/2007

da Agência de Notícia UDOP

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