segunda-feira, 5 de março de 2007

Inclusão Social do Biodiesel


Em 1975 que o Governo federal lançou o Proálcool. Com o decreto n° 76.593, pretendia-se diminuir a dependência de petróleo e cuidar de questões sociais, como as disparidades regional e de renda. Assim como se planeja com o biodiesel no diesel, o etanol foi aos poucos sendo incorporado na gasolina. Passado algum tempo, as montadoras fizeram alterações nos motores, a fim de que o combustível passasse a ser utilizado de forma pura nos automóveis.

No entanto, na avaliação do diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs), Eudoro Santana, o projeto foi um "desastre". E com o biodiesel, para Santana, não está descartada a possibilidade de acontecer o mesmo. "Existe um risco concreto de que se não for através da inclusão dos produtores, vai acontecer o mesmo que houve com o Proálcool", observa. Para o representante do Dnocs, o biodiesel só tem importância para o semi-árido se realmente promover a inclusão social.

Com o Proálcool, como lembra Santana, o resultado foi uma região repleta de bóias-frias e denúncias de trabalho escravo, além de uma produção foi absorvida pelo grande empresário. No interior paulista, trabalhadores nordestinos iam para as plantações de cana e, em alguns lugares, tinham seus documentos apreendidos, trabalhando mesmo como "escravos brancos". Para o diretor-geral, a idéia é que a mamona seja uma plantação adicional ao feijão dos agricultores familiares. Assim, a subsistência estará garantida e a oleaginosa passará a ser um lucro extra.

Na avaliação de Santana, o álcool não teve financiamento do Governo e assim as minidestilarias não funcionaram. Além disso, foi retirada terra da produção de comida para se plantar cana. "Sem apoio governamental, sem governadores para assumirem nos estados o apoio à agricultura, dificilmente teremos bom resultado", observa. O diretor-geral do Dnocs afirma ter buscado garantir que não aconteça o mesmo com o programa de biodiesel.

A articulação está sendo feita com os ministérios da Integração Nacional e o do Desenvolvimento Agrário. Santana, porém, espera mais. "Estive com o presidente Lula e falei: se o biodiesel não entrar no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), dificilmente ele vai ter êxito", enfatiza. Em março deve ocorrer uma discussão sobre o assunto, no Banco do Nordeste do Brasil, com a presença, inclusive, do ministro da Integração Nacional, Pedro Brito, além das instituições ligadas à questão, como bancos, governo do Estado e Embrapa. "Esperamos que esse evento possa ser um marco e seja repetido em outros estados", defende. (Camille Soares)

Fonte: Jornal O Povo

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