quinta-feira, 8 de março de 2007

Via Campesina diz que os biocombustíveis mantêm modelo colonial e EUA têm interesses ocultos

A visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, ao Brasil, na próxima sexta-feira (9), com a justificativa de lançar uma parceria com o país na produção de alternativas energéticas "limpas", oculta uma estratégia de grandes empresas interessadas em dominar o mercado internacional de biocombustíveis. A avaliação é da rede La Via Campesina, que reúne movimentos sociais rurais de dezenas de países por todo o mundo.

Reunida em seminário na semana passada, em São Paulo, a entidade divulgou nota criticando o modelo de produção de biocombustíveis que vem sendo endossado pelos Estados Unidos e pelo Brasil. "Aproveitando-se da legítima preocupação da opinião pública internacional com o aquecimento global, grandes empresas agrícolas, de biotecnologia, petroleiras e automotivas percebem que os biocombustível representam uma fonte importante de acumulação de capital", diz a nota.

"A biomassa é apresentada falsamente como nova matriz energética, cujo princípio é a energia renovável. Sabemos que a biomassa não poderá realmente substituir os combustíveis fósseis e que tampouco é renovável", segue o texto, que conclama os movimentos sociais a combaterem o modelo proposto pelos EUA.

Na avaliação dos movimentos ligados à Via Campesina, o atual modelo de produção bioenergética está assentado sobre “os mesmos elementos que sempre causaram a opressão de nossos povos: apropriação de território, de bens naturais e de força de trabalho”. No Brasil, a rede inclui, entre outros, o MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e o MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens.

De acordo com a rede, que reúne movimentos sociais camponeses de dezenas de países, a passagem de Bush pelo Brasil demonstra também uma “estratégia clara” da geopolítica dos Estados Unidos para enfraquecer a influência na região de países como Venezuela e Bolívia.

Na América Latina, a Via Campesina reúne entidades ligadas aos movimentos rurais do Brasil, Bolívia, Costa Rica, Colômbia, Guatemala e República Dominicana. Nesse encontro na capital paulista, discutiu-se a expansão da indústria da cana na América Latina.

Segundo a nota, a indústria da cana sempre serviu como instrumento para a manutenção do colonialismo nos países da região, “e a estruturação das classes dominantes que controlam até hoje grandes extensões de terras, o processo industrial e a comercialização”.

Para a entidade, o setor se baseia no latifúndio, na exploração do trabalho (“inclusive, escravo”) e na apropriação de recursos públicos, provocando a concentração da terra, da renda e do lucro. "Não podemos manter os tanques cheios e as barrigas vazias", conclui o manifesto.


06/03/2007
Fonte: José Carlos Mattedi /

AmbienteBrasil - portal ambiental

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