A produção mundial de biodiesel tem, há tempos, a Europa liderando o ranking. A Alemanha responde por 50% do total da produção européia. Integra o cenário da guerra pela energia que vem se travando, nas últimas décadas. A busca de combustíveis alternativos é um objetivo central na estratégia global do desenvolvimento.
No Brasil, o biodiesel é apresentado como uma matriz energética aqui criada. Um equívoco mortal. A Europa, repito, é o maior produtor mundial de biodiesel. E o Brasil é o maior produtor mundial de etanol, proveniente da cana-de-açúcar, com um nível de eficiência superior até seis vezes ao produzido pelo milho, trigo e outros bens primários que têm os Estados Unidos como pioneiros. E que garante aos produtores uma carga de subsídios de elevada monta. Na Espanha, na região da Andaluzia já se obtém biodiesel a partir do caroço de azeitona.
A Petrobras definiu há anos uma estratégia. Não ser apenas uma petroleira, mas uma empresa de energia forte e pioneira. É o que vem sendo perseguido nas últimas décadas. Daí ter estudado e pesquisado outras fontes produtoras e geradoras de energia, a partir da agricultura.
O biodiesel brasileiro tem aí a sua origem. Essa estratégia impediu que o Brasil fosse atropelado, ante a descoberta de diversas fontes na produção de biodiesel. O uso do biocombustível está entre os temas centrais da Rodada de Doha, na OMC (Organização Mundial do Comércio), onde os EUA e a Europa vêm oferecendo resistência para os produtores de biodiesel de nações emergentes, destacadamente o Brasil.
No etanol, a importância brasileira tem sua matriz na década de 70 do século passado, quando introduziu através do Proálcool o seu uso na frota de veículos nacionais, no auge da crise do petróleo. Anos depois, por fatores gerenciais e de incompetência, o programa foi sendo gradualmente desativado. Felizmente agora ressurge, estimulado por fundamentos ambientalistas como alternativa para um maior equilíbrio do meio ambiente.
Nossa posição, no curto prazo, é muito confortável. O biodiesel e o etanol estão no núcleo central da guerra da energia que começa a ser travada. O petróleo não é um bem infinito, ao contrário, é finito. Daí o valor econômico que as nações geradoras de combustíveis alternativos terão, se não forem atropeladas por governos que ignoram visão estratégica e planejamento de longo prazo.
Na produção mundial de cana-de-açúcar, ao longo de séculos, Brasil e Cuba ostentaram indiscutível liderança. Ainda hoje a base da economia de Cuba é a produção de cana-de-açúcar. Pragmaticamente, os EUA já traçaram com competência a seguinte estratégia: assegurar uma transição democrática negociada na ilha caribenha. O objetivo é claro. Destina-se a fazer forte inversão de capitais na produção de etanol oriundo da cana-de-açúcar. A segurança energética dos norte-americanos desfrutaria de uma situação privilegiada. E não tenham dúvida, outros países centro-americanos se integrariam nessa rota produtiva. Guatemala, Honduras, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua, República Dominicana, Haiti e Jamaica, por exemplo.
Ao invés de slogans e ufanismos carregados de um triunfalismo juvenil, o Brasil deve definir uma política energética séria e enérgica na defesa dessa riqueza nacional. A nível interno, o grupo francês Louis Dreyfus já é o segundo maior processador de cana-de-açúcar no País. Controla unidades agroindústriais em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Paraíba e acaba de comprar em Pernambuco o grupo Tavares de Melo, que inclui quatro usinas em operação e uma em construção. Investidores europeus e norte-americanos estão adquirindo ativos e dominando o estratégico setor sucroalcooleiro.
Se o Brasil bobear será atropelado mortalmente na guerra do etanol. A presença de George W. Bush no Brasil está umbilicalmente ligada a formar parceria em uma “Opep do etanol”. Nela seríamos atores ou coadjuvantes? Sigamos o conselho do norte-americano John Foster Dulles: “Uma nação não tem amigos, tem interesses”.
Hélio Duque é doutor em ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi deputado federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.
Fonte: Paraná OnLine
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