segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

QUANDO O PETRÓLEO ACABAR


Sempre ouvi dizer que não se deve sofrer por antecipação, mas não consigo evitar. Estou meio deprimido com algo que deve acontecer dentro de uns cem anos, talvez um pouco antes. E terá sido tudo culpa nossa.

Ninguém ignora que o Brasil - homenageado recentemente em Sundance pela sua corrupção e violência extremas - é uma fábrica de sonhos despedaçados, de esperanças que são vencidas pelo medo. Isso acontece pela quase absoluta incapacidade de o país se concentrar, com afinco, geração após geração, no que realmente é necessário - educação, formação acadêmica, melhora de padrão de vida, entre outras coisas.

A partir daí, não é surpresa a safra de "líderes" que o Brasil ostenta. JK seria, talvez, a única e honrosa exceção. O resto prima pela miopia. E agora nos aproximamos de uma encruzilhada estratégica, que é mais ou menos da seguinte forma: o Brasil possui a maior reserva de água doce do mundo. O Brasil, com sua enormidade de reservas naturais, é governado por um incapaz e/ou míope e/ou corrupto depois de outro, e não parece que esta situação vá mudar, pelo menos num futuro previsível.

De outro lado, o mundo caminha para uma catástrofe. O petróleo vai acabar em breve, e as únicas alternativas razoáveis e comprovadas, no momento, são o álcool e o biodiesel que o Brasil produz. Além disso, a água doce vai acabar no resto do mundo. Já há estudos mostrando o tamanho da encrenca, e ele não é pequeno. Ao contrário, é de ciclópicas proporções. Muita gente, países inteiros vão ficar sem água. Muitos deles mais fortes do que o Brasil, militarmente falando. Muitos deles - ou quase todos - ficarão preocupados apenas com uma coisa: sobrevivência. Na hora do aperto, não será necessário nem olhar no mapa-múndi. Todos se lembrarão do país que tem de tudo, não desenvolve nada, e ainda por cima é bastante amistoso com os homens da mala, sejam eles louros, de nariz grande ou sisudos - o jeitinho é o "Brazilian way of life".

Não vai ser difícil tomar o que existe por aqui, seja por bem, seja por mal. Isso, claro, depois de o povo brasileiro estar enfrentando mais uma dificuldade: o território, hoje com extensão mais que suficiente para sua população ter o que comer e produzir energia renovável, estará alimentando e energizando o resto do mundo. Em vez de plantar mandioca para o povo comer, a ordem será plantar mamona para a exportação do biodiesel. Vai dar uma fome danada.

E se as metas estabelecidas pelos mais fortes não estiverem sendo atendidas, a invasão territorial, pura e simples, será a solução para "botar essa gente na linha".

Só então alguém vai se lamentar e pensar que o Brasil realmente podia ter se desenvolvido mais, se tornado mais forte, mais influente, mais poderoso, mais avançado tecnologicamente, menos dependente de soluções vindas de fora - afinal, sempre teve tudo à sua disposição desde o descobrimento. Esteve sempre destinado a garantir seu lugar entre todos os outros, só que não deu.

Claudio Lessa

Fonte: Direto da Redação

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