terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Produção de biodiesel em xeque na Europa

O ministro da Energia da União Européia (UE) acertou nesta semana a definição da meta obrigatória de uso de 10% de biodiesel na mistura da gasolina e diesel para veículos até 2020, mesmo em meio aos problemas enfrentados pelos produtores europeus do combustível feito a partir de vegetais.

A petrolífera francesa Total e a refinaria Neste, que ambiciona tornar-se a maior de biodiesel da Europa, desistiram dos planos para construir uma usina do combustível, com capacidade de produzir 200 mil toneladas por ano. Um dos motivos foi a tecnologia.

Fontes do setor disseram que a tecnologia consistia em um processo no qual os óleos vegetais são transformados em hidrocarbonetos por meio de um mecanismo que exige mais energia do que na produção normal de biodiesel, devido à alta temperatura necessária.

O grupo de engenharia espanhol Abengoa, também nesta semana, ameaçou suspender a produção de sua maior fábrica de etanol. A usina utiliza trigo, que é mais caro e rende menos combustível por tonelada em comparação a outras culturas, como milho. Os preços do trigo na Europa acumulam alta de 50% este ano.

A Abengoa tem dificuldades para vender em seu mercado doméstico porque a maioria dos motoristas espanhóis prefere carros a diesel, que não pode ser misturado com o etanol, mas com gasolina.

A maior usina de biodiesel do Reino Unido, controlada pela Biofuels, opera com apenas metade da capacidade e a empresa procura mais financiamento. Mesmo na Alemanha, maior mercado de biodiesel da Europa, a demanda não vem sendo encorajadora. Caiu mais de 30% neste ano, depois de o governo ter aplicado um imposto de 0,09 por litro no biodiesel em agosto passado. Há planos para elevar a taxa até 2012 para o 0,45 por litro cobrado do diesel fóssil.

O executivo-chefe da fornecedora britânica de biocombustíveis Greenergy, Andrew Owens, no entanto, destacou que o declínio na demanda na Alemanha foi compensado pelo aumento em outros países da UE. "A produção global de biocombustíveis vem aumentando drasticamente nos últimos anos e isso pressiona os preços das matérias-primas", diz Owens.

A posição da Alemanha como produtora de biodiesel dominante no mundo também sofre com o aumento na produção da Malásia, dos Estados Unidos e da América Latina, onde freqüentemente sua elaboração é mais barata.

O óleo de palma, usado para fabricar biodiesel, é negociado a cerca de US$ 550 por tonelada, em comparação aos US$ 580 do óleo de colza, que é a principal matéria-prima usada pelos produtores de c biodiesel na Europa. O óleo de soja, matéria-prima mais usada para produzir biodiesel na América Latina, é negociado em tomo a US$ 670 por tonelada. Os três produtos tiveram aumentos de preços nos últimos 12 meses, impulsionados justamente pela demanda do setor de biocombustíveis.

O contrato futuro de óleo de palma valorizou-se mais de 25% nos últimos 12 meses e, em dezembro, atingiu o maior patamar em sete anos. O contrato futuro de soja na bolsa Chicago, nos EUA, chegou a US$ 30,85 por libra-peso neste mês, em alta de 50% desde o início do ano passado e maior cotação desde maio de 2004.

Na Europa, os contratos futuros de óleo de colza foram lançados apenas em janeiro, para atender crescente apetite dos investidores para negociar commodities ligadas a biocombustíveis. Os preços da colza aumentaram mais modestamente, com valorização de 12% nos últimos 12 meses. As bolsas de commodities apresentam volumes recorde de negociação.

A alta no preço das matérias-primas, em um momento no qual as cotações do petróleo bruto acumulam uma queda de 25% em relação ao pico verificado no terceiro trimestre do ano passado, coloca em dúvida o futuro econômico do setor de biocombustíveis que depende pesadamente de subsídios e isenções fiscais do governo.

Os bancos de investimentos, no entanto, estão otimistas com a economia do setor e suas perspectivas, na medida que ampliam suas mesas de negociação de contratos agrícolas e mais produtores internacionais de etanol e biodiesel usam os mercados de commodities para proteger sua produção futura.

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