quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007
Os passos do biodiesel
Ainda há muitas interrogações sobre o biodiesel brasileiro, muitas promessas futuras, poucos resultados presentes. Na qualidade de responsável pela primeira fábrica de biodiesel do país, abrangendo todo o processo de produção, Univaldo Vedana, diretor da BiodieselBR traçou um bom panorama da situação atual do setor, em entrevista a William Correia, do Projeto Brasil (www.projetobr.com.br).
O grande problema atual da produção nacional de biodiesel é a matéria prima. Hoje em dia, somente a soja poderia atender o mercado interno, mas seu preço está alto. Exatamente em função de sua utilização em nível mundial para biodiesel, o preço da soja aumentou de US$ 0,22 (R$ 0,46) por libra/peso em outubro de 2006 para cerca de US$ 0,30 (R$ 0,72) atualmente. Com o preço final do diesel em torno de R$ 1,70 e R$ 1,80, o usineiro de biodiesel não consegue pagar as contas e lucrar.
Além disso, seu uso em demasia pode prejudicar a indústria de alimentos. O Brasil amassa cerca de três bilhões de toneladas de soja por ano para uso alimentício, parte exportada, parte para o consumo interno. Se utilizar 50% desse óleo para combustível, vai haver problema de abastecimento do mercado interno.
O biodiesel brasileiro deve ser produzido sem mexer na safra de verão. A soja é colhida em fevereiro, março e abril praticamente no Brasil inteiro. Até novembro, pode se plantar girassol, nabo, granola, vinhaça e muitas oleaginosas no período de entressafra do verão.
Ainda há dúvidas sobre o futuro da agricultura familiar. Ela foi beneficiada pelo Selo Combustível Social, instituído pelo Decreto 5297. Usinas que produzirem biodiesel com 10% a 30% das matérias-primas oriundas da agricultura familiar terão isenção de 33% a 100% do PIS (Programa de Integração Social) e da Confins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social).
A idéia do Governo era incentivar a agricultura familiar. Mas somente os plantadores de mamona e dendê do Norte e Nordeste são premiados com 100% de isenção. Mesmo com esse incentivo, ainda não há uma produção expressiva de grãos em cima da agricultura familiar. O Governo disse que a mamona poderia ser plantada do Oiapoque ao Chuí para biodiesel e todos lucrariam, só que na realidade há limitações em algumas regiões.
Na região de Goiás, entre 2001 e 2004 a Caramuru Alimentos incentivou os produtores a plantarem girassol em fevereiro e março, garantindo a compra em contrato. Cerca de 80 mil hectares de girassol foram plantados. Com a valorização do Real, a empresa botou o pé no freio, porque compensava mais importar o óleo de girassol do que plantar. Com isso, as regiões que plantavam 20 ou 30 mil hectares de girassol na safrinha ficaram sem contrato e passaram a não plantar mais.
As exportações de biodiesel ainda levarão alguns anos. Primeiro, se terá que abastecer o mercado interno. A isenção de PIS, Cofins e ICMS deverá estimular as exportações, mas ainda existem problemas porto, infra-estrutura e produção a serem resolvidos, já que o biodiesel exige tanques fechados em navio separado e armazenagem específica no porto. Hoje em dia, se existissem condições de logística, o produtor de biodiesel preferiria exportar a abastecer o mercado interno.
Luís Nassif - 25/01
Fonte: Folha da Região - Araçatuba/SP
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