Segundo o relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change), o estudo mais recente sobre as causas e conseqüências do aquecimento global, a humanidade deve substituir as fontes de energia fósseis pelas ecológicas, o mais rápido possível. Algumas dessas alternativas energéticas são os biocombustíveis.
Para nós, brasileiros, é particularmente importante saber o que eles são, como podem ajudar o ser humano a livrar-se dos combustíveis fósseis e evitar desastres ambientais ainda maiores do que os já inevitáveis. De quebra, podem contribuir muito no crescimento da economia do Brasil.
Os biocombustíveis são obtidos através de produtos vegetais e animais, que são fonte de energia renovável e têm efeitos menos prejudiciais ao meio ambiente. Por esses motivos, aliados ao fato de o petróleo ser uma matriz energética finita e cara, os biocombustíveis são, hoje, uma das excelentes soluções para o desenvolvimento sustentável mundial.
O etanol e o biodiesel são os biocombustíveis mais promissores, pois o mercado já os aceita. Por isso, os cientistas depositam neles a esperança de um futuro de energia limpa, que vão ajudar o progresso da humanidade sem agredir ainda mais a natureza - o que pode tornar impossível a vida em nosso planeta.
Álcool do bem
O etanol é um álcool incolor, solúvel em água e extraído através do processo de fermentação da sacarose, de produtos como a cana de açúcar, milho, uva e até mesmo da beterraba. Ele já é utilizado como combustível para automóveis e na fabricação de diversos outros produtos.
Na verdade, o etanol é hoje um produto de diversas aplicações no mercado, largamente utilizado como combustível automotivo na forma hidratada (misturado à água) ou junto à gasolina. Também tem aplicações em produtos como perfumes, desodorantes, medicamentos, produtos de limpeza doméstica e bebidas alcoólicas. Merece destaque como uma das principais fontes energéticas do Brasil, além de ser renovável e pouco poluente.
Mais que ser mais barato do que a gasolina, esse álcool é bem menos agressivo ao meio ambiente do que o combustível fóssil. A quantidade de dióxido de carbono liberada pela queima do álcool etílico (nome comercial do etanol), é muito pequena - graças à composição química desse biocombustível, sua queima produz calor sem resíduos de fuligem.
O motor díesel foi criado em 1843, por Rudolf Diesel, em Augsburg, Alemanha. Por incrível que pareça, essa invenção foi planejada para usar óleos vegetais como combustível. Segundo a afirmação de seu criador, feita entre 1911 e 1912, "o motor a diesel pode ser alimentado por óleos vegetais, e ajudará no desenvolvimento agrário dos países que vierem a utilizá-lo. O uso de óleos vegetais como combustível pode parecer insignificante hoje em dia. Mas com o tempo irão se tornar tão importantes quanto o petróleo e o carvão são atualmente."
Entretanto, o petróleo ainda era uma fonte de energia mais barata e fácil de se obter. Como naquele tempo havia abundância de petróleo, a idéia de se usar óleos vegetais como combustível foi esquecida. Mas diante da situação climática de nosso planeta, pode-se dizer que o barato saiu caro.
A boa notícia é que - como o motor díesel foi desenvolvido para usar óleos vegetais como fontes comburentes - não é necessário fazer alterações nas máquinas movidas a díesel, para elas funcionarem com óleos de origem vegetal.
Testado e aprovado
O biodiesel é obtido através de um processo químico, conhecido como transesterificação, no qual óleos vegetais ou até mesmo gorduras animais sofrem reações químicas ao serem adicionados ao etanol ou ao metanol.
Dessas reações, resultam a glicerina e o ésteres (nome químico do biodiesel) que substitui o óleo díesel. A glicerina e o biodiesel são separados por gravidade, ou por centrifugação. Depois, o biocombustível é filtrado para que se elimine o excesso de etanol. A glicerina obtida é totalmente aproveitada pela indústria farmacêutica.
Além disso, o biodiesel tem a completa aprovação do Clean Air Act, de 1990, dos Estados Unidos e é autorizado pela EPA (Agência Ambiental Americana). Entretanto, muitos óleos vegetais puros ainda não são reconhecidos por essas entidades norte-americanas.
O biodiesel é biodegradável, não é tóxico, e está livre de poluentes. Tem mais: o dióxido de carbono produzido é liberado em quantidade tal que torna possível a sua reabsorção pelos vegetais, que por sua vez podem produzir mais biodiesel. Isso tudo faz dele, uma fonte de energia limpa.
Energia de tudo o que vive
Tudo o que é vivo possui biomassa, ou seja, animais, vegetais e todos os produtos e resíduos liberados por eles. A cana-de-açúcar, restos de madeira, estrume de gado, óleo vegetal ou até mesmo o lixo urbano são exemplos de biomassa que podem ser transformados em biocombustível. Entretanto, há compostos capazes de fornecer energia também na sua forma bruta, como o biogás (ou gás natural).
Através de processos químicos como a fermentação, gaseificação e combustão, a biomassa de produtos agrícolas, florestais, e animais são transformados em biocombustíveis capazes de fornecer energia elétrica e calorífica.
A biomassa se renova pelo ciclo do carbono, que por meio dos processos de queima e decomposição, libera dióxido de carbono para a atmosfera. Então, as plantas absorvem o CO2 e liberam o oxigênio - através da fotossíntese. O uso da biomassa como biocombustível, ao contrário das fontes de energia atuais, pode ser utilizada a longo prazo, sem que a atmosfera sofra grandes mudanças.
Brasil em primeiro lugar
Para quem diz que as soluções ecológicas não são economicamente viáveis, diversos estudos comprovam que o Brasil pode se tornar uma potência mundial em termos de fontes de energia renovável. E essa realidade não está muito distante: o Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador do mundo, de etanol.
Em relação ao biodiesel, a projeção econômica brasileira pode ser igualmente próspera. Segundo o PNPB (Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel), "o Brasil apresenta reais condições para se tornar um dos maiores produtores de biodiesel do mundo por dispor de solo e clima adequados ao cultivo de oleaginosas. Assim, além de assegurar o suprimento interno, o biodiesel produzido no Brasil tem grande potencial de exportação".
Todas essas alternativas ecológicas, entretanto, devem ser usadas de maneira consciente. A maior alteração que deve ser feita em prol do meio ambiente e de tudo o que nele vive, é a mudança de consciência do ser humano. Este deve substituir seu velho hábito predatório de se utilizar da natureza como se ela fosse uma fonte de recursos infinita. É unânime a opinião, na comunidade científica, de que todos somos responsáveis pelo aquecimento global - e de que todos seremos suas vítimas.
Mariana Aprile - estudante de biologia na Universidade presbiteriana Mackenzie
Fonte: UOL Notícias
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