domingo, 11 de fevereiro de 2007

Biodiesel de gordura animal

O governo federal tem uma expectativa e planos para estimular a geração de energia a partir de fontes renováveis, criando-se assim alternativas dentro da matriz energética brasileira, a qual se diferencia e tem inovado o mercado global. Etanol, biodiesel, biogás e energia de biomassas são algumas das possibilidades dentro da agricultura e que devem ganhar mais espaço, quer pelo lado compulsório de leis que no Brasil obrigam o uso de biodiesel na proporção de 2%, devendo chegar a 5% até 2013 ou, no caso Europeu, atualmente usando 5,75%.

Essa tendência provém de um somatório de forças resultantes de evidências do aquecimento global, maior preço do petróleo e sua finidade anunciada, inclusão social em regiões agrícolas não tradicionais e comunidades isoladas, alta disponibilidade de resíduos industriais e agrícolas e, tecnologias de conversão energética disponíveis.

Na agricultura há grande expectativa e interesse para produzir biodiesel a partir de grãos de oleaginosas e de novos vegetais energéticos como palmáceas, mamona e mais de 20 outras espécies. Surgem nesse aspecto dois problemas, sendo o primeiro relacionado à necessidade de equilíbrio entre a produção de alimentos e de energia renovável. A competição foi visível no caso do álcool e açúcar no mercado global, levando ao desabastecimento de álcool no Brasil no inicio dos anos 90, proporcionando completo descrédito dos clientes de álcool combustível. O segundo, relaciona-se à eficácia da transformação energética e nisso é preciso considerar que o mercado necessita de grandes volumes e a preços competitivos com o diesel na bomba de distribuição. Pelo lado de volume, a logística de coleta, processamento e distribuição a partir de agricultura de pequena escala dificulta a viabilidade de empreendimentos eficazes, restando maior possibilidade de sucesso para as grandes áreas de oleaginosas agrícolas. Ouviu-se na Conferencia de Agroenergia realizada recentemente em Londrina, que o Brasil produzirá 85 milhões de toneladas de soja em 2011, passando a produção dos EUA que seria de 80 milhões de toneladas. Esse crescimento seria “puxado” pela demanda de biodiesel. Lembramos porém, que apenas 20% do grão têm destino para produção de óleos comestíveis e eventualmente pode ser usado para biodiesel. O restante constitui os farelos de soja, usados principalmente na indústria mundial de rações que se relaciona fortemente com a produção mundial de carnes, atualmente por volta de 260 milhões de toneladas. Haveria um excesso de farelos o que tende a baixá-lo de preço, aumentar confinamentos de bovinos e necessidade da busca por novos usos para os farelos de soja. Em contrário, a estimativa de produção de etanol nos EUA, a partir 65 milhões de toneladas de milho excedente, diminui a oferta mundial do grão, aumenta o seu preço e o custo de produção animal. Portanto, os biocombustíveis etanol e biodiesel poderão funcionar como freios de ajuste dos excessos da produção agrícola com finalidade nas diferentes cadeias alçimentares.

Assim sendo, na área de biodiesel e considerando os preços dos óleos vegetais comestíveis no mercado, as dificuldades acima mencionadas e que, somados ao custo de processamento do biodiesel, entendemos que a curto e médio prazo é economicamente inviável a produção de biodiesel a partir de óleos comestíveis, caso não existam subsídios. Como alternativas viáveis economicamente são lembradas as gorduras industriais, provenientes do abate animal. Essas, quando não destinadas ao setor farmacêutico ou, de ração animal deveriam com seus preços atrativos, ser direcionadas à produção de biodiesel. O setor de farinhas e de gorduras animais é responsável pela produção de mais de 2,5 milhões de toneladas de gorduras animais/ano no Brasil. A Inovação Tecnológica para produção de biodiesel nesse setor visa contribuir com alternativas e oportunidades para melhoria da matriz energética brasileira e têm como fundamentos: a) o desenvolvimento de produtos e co-produtos dessas matérias-primas; b) contribuir com novas soluções para melhoria e redução de riscos ambientais; c) melhorar à biosegurança animal fruto da retirada de produtos sanitariamente problemáticos da cadeia de alimentação animal e de carnes e d) agregar valor aos resíduos agroindustriais, com geração de empregos e renda.

Entende-se portanto, que devido à importância do setor de gorduras animais no contexto do agronegócio e da agricultura familiar, o governo federal através de seus ministérios deveria:

  • incluir nas estratégias governamentais de estimulo à bioenergia e no Plano Nacional de Agroenergia, item especifico para contemplar as gorduras animais;
  • estimular projetos de pesquisas e de desenvolvimento, com financiamento em linhas de pesquisa que tratem:
  • da preparação tecnológica das gorduras animais para iniciar o processamento na planta de biodiesel;
  • dos processos de produção de biodiesel e seus respectivos parâmetros, ajustados para as gorduras animais;
  • do desenvolvimento de novos produtos, a partir de subprodutos da produção de biodiesel e de subprodutos da indústria de farinhas e gorduras animais;
  • da melhoria da qualidade das gorduras animais definindo os parâmetros analíticos e estimulando a classificação baseada em variáveis laboratoriais e análises de risco sanitário.
  • Estimular o financiamento do setor com facilidades para o retorno de investimentos na produção de biodiesel a partir de gorduras animais.



Claudio Bellaver é PhD e pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.

Publicado no Portal ZooNews em 09/02/2007.

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