domingo, 11 de fevereiro de 2007

O programa de uso da mamona para a fabricação de biodiesel é uma piada nacional... e de mal gosto


Ele se baseia no uso de uma oleaginosa, cujo óleo vale mais de R$ 2.200/tonelada no mercado. O problema é que o biodiesel não vale mais do que R$ 1.800/metro cúbico no mercado (preço do mercado livre, sem subsídios). Considerando a densidade do biodiesel, teremos que o valor de mercado dele não ultrapassa os R$ 2.000/tonelada.

Obviamente percebemos que o óleo de mamona é muito mais caro que o biodiesel. E para aumentar o problema, ele é mais caro que o biodiesel já processado e pronto para venda, com impostos e tudo. Dessa forma fazer biodiesel com óleo de mamona, faz com que o preço desse biodiesel fique acima dos R$ 2,50/litro e em alguns caso chega a R$ 3,00/litro em processos menos eficientes usados hoje em dia em diversas usinas em operação.

Do ponto de vista financeiro, o uso de mamona para fazer biodiesel é um disparate.

As atuais industrias de biodiesel que compram mamona fazem de conta que usam ela para fazer biodiesel. Na prática vendem seu óleo e compram o óleo de soja no mercado brasileiro (o óleo de soja no Brasil vale hoje em sua versão degomada R$ 1.300/tonelada).

A operação é o que no mercado finenceiro se chama de arbitragem: vendo um óleo a R$ 2.200/tonelada e compro outro a R$ 1.300/tonelada. Operação muito vantajosa.

O governo faz de conta que o biodiesel está sendo feito com mamona e também de que os pequenos agricultores estão mesmo recebendo o valor justo pela mamona que entregam para essas industrias.

Na verdade os pequenos agricultores recebem pela sua mamona um deságio bem grande (em alguns casos chega a R$5,00/saca de deságio sobre os preços de mercado) e mesmo assim não conseguem vender toda a sua produção. Continuam a ter baixa produtividade pois não recebem em sua maioria nenhuma assinstência técnica como é prevista pelo programa de biodiesel com agricultura familiar.

No final, os pequenos agricultores continuam na miséria.

Outra coisa interessante é o cálculo apresentado pelo governo federal dando conta de que o programa de biodiesel familiar já "está proporcionando dignidade a 200.00 famílias".

Se considerarmos que cada família dessas possui na média 4 hectares e que ela consiga produzir 700 kg de mamona/hectare e que a mamona dá aproximadamente 45% de óleo que é transformado em biodiesel e que ainda cada 1 kg de óleo da aproximadamente 1 litro de biodiesel teremos que estariam sendo produzidos hoje 252.000.000 de litros de biodiesel de mamona no país.

A ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) mostra em seu site (www.anp.gov.br) que a capacidade autorizada, porém ainda não instalada é de produção para 280.020.000 litros/ano de biodiesel. Considerando-se que a mior parte dessas usinas autorizadas ainda não entrou em operação e não o devem fazer antes do primeiro semestre de 2007, percebemos que as supostas 200.000 famílias mencionadas pelo governo estariam produzindo muito mais mamona do que o mercado é capaz de absorver hoje em dia (desconsiderando-se o fato de que na verdade ninguém faz biodiesel de mamona pelas questões financeiras já mencionadas).

Alguma coisa nessa conta do número de famílias está errada portanto. Trata-se apenas de desinformação, enganos e fumaça na midia.

O uso de mamona para o programa nacional de biodiesel é um engano financeiro, social e tecnico monumental.

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