quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Agroenergia: uma nova era na agricultura brasileira

O lançamento, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, do Plano Nacional de Agroenergia (PNA), em outubro de 2006, representou o inicio de um esforço de ordenação das ações em uma área que promete revolucionar a agricultura no Brasil. No referido plano, são estabelecidas as bases para um avanço coordenado das diversas cadeias produtivas relacionadas ao aproveitamento de produtos agrícolas para a produção de energia renovável.

O documento, elaborado sob coordenação da Embrapa, analisa os cenários mundial e nacional sobre as necessidades energéticas da sociedade, no presente e no futuro. Mantendo-se o consumo atual de petróleo, calcula-se que as reservas conhecidas seriam suficientes para abastecer o mundo por mais 40 anos. As reservas brasileiras, por sua vez, atenderiam a demanda nacional por mais 18 anos. Agravando a situação, prevê-se que a demanda de energia crescerá a uma taxa de 1,7% ao ano, nos próximos 30 anos. Como as reservas mundiais vêm sendo acrescidas por novas descobertas a taxas médias de 0,8% ao ano, pode-se concluir que a escassez de petróleo será vivenciada pelas gerações atuais.

Além das previsões de esgotamento das reservas, a crescente escalada dos teores de gás carbônico na atmosfera, proveniente da queima dos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral), têm causado sérias alterações no clima do planeta. Os teores de CO2, o principal gás de efeito estufa, aumentou 31% nos últimos 200 anos, alcançando os valores mais elevados dos últimos 20 milhões de anos. A queima de combustíveis fósseis é responsável por mais de dois terços da energia consumida globalmente e coloca cerca de 6,3 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera a cada ano. A utilização de fontes alternativas de energia provenientes da biomassa reduz drasticamente as emissões de gases de efeito estufa. Isso ocorre porque os gases emitidos na queima de combustíveis de biomassa formam anteriormente retirados da atmosfera pela fotossíntese.

Com terras abundantes, clima favorável e um extraordinário aporte de conhecimentos em agricultura tropical, o Brasil desponta como o país mais competitivo do mundo para a geração de energia a partir de biomassa vegetal. O álcool combustível, produzido a partir da cana-de-açúcar, soma conquistas agronômicas e industriais, que colocam o Brasil na vanguarda de produção de energia renovável no planeta. Há necessidade, no entanto, de repetir esse extraordinário sucesso na expansão do aproveitamento de biomassa florestal e de resíduos agroindustriais, e na estruturação da cadeia produtiva do biodiesel a partir de óleos e gorduras vegetais e animais.

Os combustíveis líquidos renováveis têm importância fundamental na substituição dos derivados de petróleo, gerando uma oportunidade formidável para o fortalecimento da agricultura no Brasil. Estudos de cenários apontam para a necessidade de duplicar a produção de etanol nos próximos dez anos, atingindo cerca de 30 bilhões de litros por ano. A produção de biodiesel, somente para atender a legislação atual que permite a mistura de até 2% no diesel de petróleo, necessitaria cerca de 800 milhões de litros anuais, já a partir de 2006. Isso significaria uma área de 3 a 4 milhões de hectares de soja, por exemplo. Vale ressaltar que a legislação eleva essa proporção para 5%, em 2013.

As oportunidades são ilimitadas para a agroenergia no Brasil, tanto para o atendimento das necessidades internas, quanto para as exportações. Aquecem esse mercado a necessidade de fontes energéticas alternativas à escassez dos combustíveis fósseis e a necessidade de mitigação do efeito estufa. A energia renovável vem sendo disputada por países desenvolvidos, tanto por serem altamente dependentes dos combustíveis fósseis, quanto por serem signatários do Protocolo de Quioto, no qual assumiram compromisso de redução das emissões de gases de efeito estufa.

O grande desafio é conciliar a expansão de áreas de cana-de-açúcar, oleaginosas e essências florestais, com uma ocupação ordenada e sustentável. Não há espaço na sociedade atual para uma expansão produtivista, sem preocupação ambiental e social. Esta grande oportunidade de fortalecimento da agricultura brasileira através da agroenergia não terá sentido se não contemplar princípios de preservação do solo, da água, do ar, da biodiversidade e das diferenças culturais, assim como se não houver a inserção das populações locais, através da geração de empregos e renda.

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