quarta-feira, 30 de maio de 2007

Yes, nós temos etanol

É maior do que se imaginava a chance de o Congresso dos Estados Unidos começar a eliminar, depois da eleição presidencial de 2008, a sobretaxa aplicada sobre o etanol importado do Brasil. Há boas razões para acreditar nessa possibilidade. Uma delas é a crescente insatisfação provocada pela explosão dos preços do milho, usado nos EUA na produção de álcool combustível. A outra é a limitada capacidade doméstica americana de aumentar a produção de etanol.

O Brasil está ganhando espaço nas mentes e corações dos americanos. A necessidade de independência energética e de mitigar o aquecimento global está, na avaliação do Eurasia Group, uma das maiores empresas de consultoria política do mundo, entre as forças que estão levando a opinião pública dos EUA a olhar com seriedade para a alternativa brasileira.

Pesquisa feita pelo instituto Ipsos mostrou que 57% dos americanos são favoráveis à redução da tarifa - de 54 centavos de dólar sobre um galão de etanol (3,8 litros) -, enquanto 29% são contra. Curiosamente, o apoio e a rejeição não variam muito de região para região nos EUA. A mesma pesquisa atesta a imagem positiva que os americanos têm do Brasil (ver tabela).

Dos entrevistados, 70% concordam que o etanol mais barato do Brasil tornaria os EUA menos dependentes de petróleo do Oriente Médio. Outros 65% acham que isso ajudaria a reduzir o aquecimento global. "Essas respostas demonstram que o público está claramente inclinado a fazer uma associação entre maior volume de importação de etanol brasileiro, independência energética e redução do aquecimento global", diz o analista Christopher Garman, do Eurasia.

Em torno da idéia de independência energética criou-se uma coalizão em defesa do etanol brasileiro. Ela reúne conservadores preocupados com a segurança nacional dos EUA e grupos ambientalistas, que vêem, num sistema global para o etanol, uma forma efetiva de desenvolvimento de combustíveis alternativos.

É evidente que a opinião pública, por si só, não tem como forçar os parlamentares americanos a mudarem de idéia em relação ao produto brasileiro. Basta ver que a pesquisa Ipsos constatou que 81% dos entrevistados desconheciam a existência da sobretaxa. Sem pressão pública, os congressistas não têm incentivo para agir. Democratas e republicanos estão, porém, dedicados à idéia de adotar medidas para aumentar a independência energética e elevar o uso de biocombustíveis. Não se deve esperar, no entanto, que os candidatos à sucessão de George W. Bush contrariem, antes das eleições, os produtores domésticos de etanol.

Os analistas apostam que a luta contra a sobretaxa virá dos consumidores e da indústria usuária de milho. O motivo: a escalada do preço do produto por causa da corrida do etanol. O preço do milho dobrou de 2006 para cá. A conta tem sido paga pelos produtores de carne, leite e aves e, claro, pelos consumidores. A situação deve piorar porque, enquanto seis anos atrás 6% da lavoura de milho era dedicada à produção de etanol, hoje, ela é de 20%.

A sobretaxa ao etanol do Brasil expira em 31 de dezembro de 2008. A pressão dos produtores de gado para que o Congresso não a prorrogue já começou. O Conselho Nacional de Produtores de Carne de Porco (NPPC, na sigla em inglês) está defendendo publicamente o fim da tarifa. O senador republicano Richard Lugar propôs a realização de estudos sobre os efeitos políticos e econômicos de uma alteração na sobretaxa.

Do "outro lado", há os produtores de milho do Meio-Oeste americano e a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA), que estão fazendo lobby para que, na nova Lei Agrícola dos EUA, seja fortalecido o papel dos produtores locais. O Congresso, diz Chris Garman, deve aprovar medidas para aumentar os Padrões de Combustível Renovável (RFS), de maneira a incentivar ainda mais a produção americana de etanol.

A Lei de Política Energética, de 2005, fixou meta, para 2012, de mistura à gasolina de 7,5 bilhões de galões de combustíveis renováveis. Em 2007, a produção americana de etanol deverá atingir 7 bilhões de galões, sendo que o Congresso tende a aumentar a meta estipulada dois anos atrás. O governo Bush, por sua vez, estabeleceu que, até 2017, os EUA deverão reduzir o consumo de gasolina em 20%. Isto significa o consumo de 35 bilhões de galões de biocombustível. "A atual meta de RFS terá que ser revista para cima. Um RFS maior significa demanda maior de etanol produzido a partir do milho, portanto, uma maior pressão sobre o preço do milho", diz Garman.

A expectativa dos especialistas é que a produção americana de etanol atinja seu pico em 2010, com algo entre 12 bilhões e 12 bilhões de galões. Essa diferença entre produção e as metas fixadas pelas autoridades terá que ser atendida em parte, explica Garman, por importações. É aí onde o Brasil, o maior e mais eficiente produtor de etanol a partir de cana-de-açúcar do mundo, poderá exercer seu papel. Falta pouco.

Letargia conveniente

O que faz o Itamaraty que ainda não emitiu uma declaração sequer sobre a escalada autoritária de Hugo Chávez? A cláusula democrática, inscrita no tratado que criou o Mercosul, deveria ser evocada, uma vez que a Venezuela se prepara para integrar-se ao bloco.

O silêncio é comprometedor. No fundo, o Itamaraty apóia as ações de Chávez. Só isso explica o mutismo diante do totalitarismo chavista e justifica esquisitices como a exigência de que, na volta de missões ao exterior, os diplomatas façam escala em Caracas para se submeter a uma espécie de purificação ideológica.


Cristiano Romero
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