Causou-nos perplexidade o recente relatório da ONU sobre bioenergia, quando alertou o mundo acerca da ameaça para a oferta de alimentos devido à produção de biocombustíveis. Segundo o texto, o rápido crescimento na produção de biocombustíveis vai aumentar o preço das commodities agrícolas e pode ter efeitos econômicos e sociais negativos, particularmente sobre os pobres que gastam uma grande parte da sua renda com comida. O relatório adverte ainda que a produção de biocombustíveis já parece ter elevado o preço do milho em 2006 e 2007, além de informar que a disponibilidade da oferta adequada de alimentos pode ser ameaçada pela produção de biocombustíveis na medida em que a terra, água e outros recursos produtivos sejam desviados da produção de alimentos.
A produção mundial de biocombustíveis dobrou no últimos cinco anos e deve dobrar novamente nos próximos quatro anos.O que nos chama à atenção nesse relatório é que ele é muito modesto ao dizer que a produção de biocombustíveis parece ter elevado o preço do milho, pois se a produção de biocombustíveis dobrou nos últimos cinco anos, devido ao etanol estadunidense feito à base de milho, é óbvio que com a maior procura por milho , o preço forçosamente teria que subir. Ademais, com a possibilidade da produção novamente dobrar nos próximos quatro anos, podemos vislumbrar que o preço de todos os alimentos que servem de matéria prima ao etanol também subam.
As relações econômicas mundial de biocombustíveis está tomando o mesmo rumo histórico do petróleo e das demais matérias primas. Os países pobres e emergentes se tornarão fornecedores de biocombustíveis aos países ricos, enquanto estes continuarão detendo o controle da industria de ponta,capazes de os manter na liderança mundial, deixando os países do hemisfério sul dependentes econômicamente . A prova mais contundente dessa nossa afirmação é a notícia da Agência Reuters de que a Alemanha tem ociosidade em biocombustíveis. Uma forte tributação desanimou os produtores alemães, os quais já querem vender suas refinarias. Segunda a notícia, a indústria de biodiesel Alemã está trabalhando com cerca de 50% de sua capacidade devido a incidência de um imposto que impactou as vendas do produto, fazendo com que produtores estejam considerando encerrar as atividades. Atente-se que a Alemanha já está na fase do biodiesel, etapa superior ao etanol, mesmo assim está forçando a falência de todo o projeto.Exsurge a pergunta: por que o governo alemão está querendo acabar com essa indústria produtora de combustíveis renováveis e não poluentes? A resposta é cristalina: eles já sabem que terão os países do hemisfério sul como fornecedores de biocombustíveis.
O Brasil está sendo levado a uma armadilha por falta de visão estratégica, impulsionado por uma elite subserviente aos interesses estadunidenses. O maior absurdo é o Brasil se afastar do projeto do Gasoduto do Sul, o qual tem a capacidade de suprir toda a América Latina e o Caribe de uma energia limpa, barata e abundante,preferindo se submeter aos interesses dos países ricos, liderados pelos EUA . É lamentável assistir todos os dias o Brasil ser apresentado como a Nova Arábia Saudita, quando na verdade essa propaganda tem a nítida finalidade de nos manter meros fornecedores de matérias primas aos países desenvolvidos, continuando o processo de colonização existente há 500 anos.
MELQUISEDEC NASCIMENTO
PRESIDENTE DO INSTITUTO ABREU E LIMA
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