segunda-feira, 21 de maio de 2007

Usinas enfrentam gargalos para exportar mais

A corrida mundial pela substituição dos combustíveis fósseis por combustíveis renováveis provocou uma explosão de investimentos. A iniciativa privada de Estados Unidos, Brasil, outros países das Américas e Caribe têm investimentos previstos da ordem de US$ 100 bilhões para a instalação de usinas de etanol nos próximos cinco anos. Apenas no Brasil, há 88 projetos de novas usinas em curso, com aporte estimado em US$ 17,7 bilhões, que elevarão a produção do país de 17,7 bilhões para 27,8 bilhões de litros por ano até 2010.

As perspectivas para o mercado internacional também impressionam. Estudos apontam que, até 2010, a União Européia precisará importar 246 milhões de litros ao ano para consumo próprio. No Japão, a demanda será de 773 milhões de litros/ano; nos EUA , 407 milhões e na China, 71 milhões.

O cenário para o etanol é promissor, especialmente para o Brasil, que por quase três décadas foi o único país a adotar o combustível. Mas para manter-se como grande player, o setor privado brasileiro terá de superar alguns obstáculos que hoje inviabilizam o avanço nas exportações, na avaliação de representantes do setor que participaram, na sexta-feira, do seminário "Bioenergia: Fonte de energia para o desenvolvimento sustentável", promovido pelo Valor.

Um dos principais obstáculos, na avaliação de Henri Phillippe Reichstul, presidente da Brazil Renewable Energy Company (Brenco), é a ausência de um mercado internacional estabelecido. "Não existe oferta em grande escala contínua e com estrutura logística para convencer outros países a substituírem parte da sua matriz energética fóssil pelo etanol. Hoje, se o Brasil vender 1 bilhão de litros a mais, vai vender com um enorme desconto. O mercado ainda é limitado para o etanol brasileiro."

Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), observou que mesmo países que utilizam o etanol não estão abertos às importações. "Os EUA não pensam em importar grandes volumes do Brasil. Eles não deverão comprar mais que os 7% que importam hoje do Caribe", afirmou. A região mais atraente para o setor, em sua avaliação, é a Europa, que adotará mistura de 10% de etanol em gasolina em 2020. Mas, para alcançar este mercado, observou, as usinas terão de buscar certificações internacionais que comprovem a produção sustentável social e ambientalmente. "Nos Estados Unidos, as tarifas tenderão a aumentar. Na Europa, as barreiras não-tarifárias vão imperar."

Decio Zylbersztajn, coordenador-geral do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial da Universidade de São Paulo (Pensa/USP), reforçou a necessidade de as empresas melhorarem as relações com fornecedores de cana, via contratos e trabalhos de auditoria.

Zylbersztajn também orientou usineiros a estabelecerem uma relação mais próxima e aberta com as organizações não-governamentais, para demonstrar transparência. Na área governamental, sugeriu que os governos definam melhor regras relacionadas à áreas para cultivo da cana-de-açúcar e à concessão de licenças ambientais para a instalação de usinas.

Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (GV Agro) acrescentou ainda a necessidade de divulgar informações técnicas sobre o potencial de plantio da cana no país. Ele observou que o país utiliza 90 milhões de hectares para agricultura e pode aproveitar outros 90 milhões da pecuária para dobrar a produção. Mas desse total, apenas 22 milhões de hectares são aptos para a cana. "A cana só produz açúcar e álcool em regiões onde há períodos de clima seco. Na região amazônica é impossível plantar cana produtiva e isso precisa ser dito", afirmou.

Luiz José Maria Irias, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, reforçou ainda a necessidade de ampliar aportes em pesquisas para fazer frente aos avanços americanos. Recentemente, a Embrapa criou uma unidade para pesquisa em biocombustíveis, focada em quatro áreas: etanol lignocelulósico, pesquisa de oleaginosas para biodiesel, uso de resíduos para produção de biocombustíveis e plantio de árvores para carvão vegetal.

Fonte:
da Agência de Notícia UDOP

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