sexta-feira, 25 de maio de 2007

Biocombustíveis, um novo debate

Vimos nos últimos dias um novo debate que tem surgido em torno dos biocombustíveis: a questão de utilizar alimentos para a produção de energia. Isso é aquedado? É o que todos se perguntam, principalmente num País que ainda registra casos de desnutrição e fome.

O Brasil precisa olhar de frente para esse desafio. A eterna busca para reforçar a matriz energética e nos deixar cada vez menos vulneráveis passa, de fato, pela questão da alimentação. E é possível trilhar nesse caminho, como é possível conciliar o desenvolvimento com as questões ambientais. Só teremos o tal desenvolvimento sustentável, se o campo for explorado com racionalidade.

Uma iniciativa nesse sentido está sendo feita na região de Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte. Assentados já produzem melão, que é exportado. Agora podem ganhar ainda mais ao plantar girassol para a produção de biodiesel. O plantio consorciado de frutas com oleaginosas será em áreas irrigadas, com dois objetivos: calcular exatamente o custo do girassol incluindo os gastos com irrigação e, principalmente, verificar na prática se é mesmo possível aproveitar a intensa insolação da região, para produzir três safras anuais.

Os estudos indicam que é possível e isso resultará em emprego para a mão de obra local durante o ano inteiro, eliminando-se a sazonalidade da agricultura local e utilizando a terra para dois fins: alimentação e produção de energia.

A produção de biocombustíveis com sebo de boi, uma realidade, é outra alternativa que se apresenta viável com a entrega de 50 milhões de litros para a Petrobrás no final do ano passado. Cada cabeça de gado fornece 15 quilos de sebo aproveitável e o Brasil, com o abate de 23 milhões de cabeças/ano, tem o potencial de produzir 350 milhões de litros/ano.

Os israelenses são especialistas em produzir alimentos em condições atípicas, no meio do deserto, e são também hábeis estudiosos em energias alternativas. Afinal a região é a única do Oriente Médio que não possui petróleo. Eles criaram por lá a geotermia e produzem energia a partir do vapor que sai de dentro da Terra. Perfuram poços de até 4.000 metros e conseguem temperaturas de 120º. Ao injetar água, transformam-na em vapor para produzir energia elétrica.

O Brasil tem potencial para também ter a sua geotermia. Os poços de água quente que abastecem Mossoró (RN) podem se transformar nessa fonte não poluente de energia. A vantagem é que a água já chega à superfície a 50º. Se essa água naturalmente quente for injetada em poços que podem ter apenas metade da profundidade dos de Israel, será transformada em vapor e então direcionada às turbinas de geração de energia. O investimento inicial é alto para cavar o poço e para o sistema de injeção, mas o processo é conhecido e viável.

Caminhos fáceis não existem, mas os governos e os empresários precisam trabalhar juntos e buscar soluções híbridas de produção de energia e alimento. (Carlos Zveibil Neto - Vice-presidente da Associação Paulista dos Empresá)

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