quinta-feira, 24 de maio de 2007

Brasil implantará agrovila na Nigéria para etanol e biodiesel

A tecnologia nacional para o desenvolvimento de projetos da cadeia agrícola está ganhando o mercado externo. Um pool de empresas brasileiras iniciará um projeto este ano na Nigéria, África subsaariana, para a implantação de uma agrovila.

O projeto consiste na construção de uma vila com capacidade para atender até mil pessoas inicialmente, em uma área de seis milhões de metros quadrados. A projeção inicial é de que as obras consumam cerca de US$ 100 milhões na primeira fase.

José Luiz de Vasconcelos Bonini diretor da JLVB Arquitetura e Urbanismo e um dos idealizadores do projeto, disse que, com base em experiências implantadas no Brasil, o know-how será exportado para o continente africano. “A agrovila ocupará uma área próxima da capital, Lagos. A idéia é atrair investidores locais para produção de etanol à base de cana-de-açúcar, diesel a partir do dendê, comum no país, além de mamona para biodiesel”, diz.

De acordo com o Bonini, as agrovilas também serão responsáveis pela geração de energia solar e eólica próprias. “O governo nigeriano nos autorizou a sermos os concessionários de energia da vila e poderemos desenvolver outras fontes alternativas de captação — no caso, a eólica”, conta.

A intenção, segundo Bonini, é incentivar as famílias que irão se instalar na região a serem os principais produtores de cana e, posteriormente, aportarem em mini indústrias processadoras do combustível.

“É um país rico em terra, e onde a cana é uma das principais culturas de subsistência econômica. A empresa Eco Energia será responsável pela extração de combustível da mamona, cultura que será adaptada na região, que tem o clima propício”, diz Bonini. A cidade de Lagos conta com uma população de 14 milhões de habitantes, semelhante à da Grande São Paulo. Haverá incentivos para as famílias interessadas em se mudar para a região. “Já estamos capacitando profissionais brasileiros para participarem do projeto. Também já estamos realizando um intercâmbio entre engenheiros agrícolas e de outras áreas para nos certificar do êxito da iniciativa”, revela Bonini.

Contrapartida
Em benefício, o governo nigeriano irá isentar os investidores brasileiros, por cinco anos, de todos os impostos e também da evasão de resultados. “Estamos em um momento de captação de parcerias locais para divulgação da agrovila e, no Brasil, à Associação Comercial Brasil-Nigéria é uma das incentivadoras.”

Para Berucke Chikaeze Nwabasili, presidente da comunidade nigeriana, ligada à associação comercial, a agrovila é um intercâmbio comercial que poderá impulsionar os negócios entre os dois países. “É um aspecto interessante para desenvolver a produção de cana-de-açúcar e o biocombustível”, constata. Há possibilidades de levar a experiência para outras regiões do país.

Expansão
A projeção dos envolvidos no projeto é de ultrapassar as fronteiras da região e levar o modelo para Índia, China e demais países da África e do Ocidente “A concessão deste tipo de agrovila não é possível no Brasil, por isso se torna necessário mirar para outros locais. Outros governos estão de olho neste potencial, mas inicialmente estamos prospectando a vila nesta área”, conta Bonini.

Produto nacional
A Vita Brasil é uma das empresas que irão participar do projeto exportando um composto alimentar de farinhas de trigo, mandioca, arroz e minerais para diminuir a desnutrição infantil. A intenção, de acordo com Marc Aygadoux, diretor de Marketing da companhia, é de triplicar em até um ano a exportação de produtos para a Nigéria, hoje com produção mensal de 100 toneladas. “Temos um projeto piloto na cidade de Mongaguá, litoral de São Paulo, onde, em um ano e meio, a queda da mortalidade infantil foi de 26 por mil para cinco por mil”, diz.

Segundo o diretor, a empresa está buscando investidores para levar efetivamente o projeto ao país africano.

“É um produto totalmente natural. Futuramente a intenção é produzi-lo na própria Nigéria”, constata.

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