A produção de biocombustível a partir da celulose pode ser alcançada antes do que estimam os especialistas.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sediada no estado do Rio de Janeiro, está desenvolvendo estudos para a produção do etanol a partir de enzimas extraídas do bagaço da cana-de-açúcar e de outros resíduos agrícolas e florestais, como madeiras.
A pesquisadora Sonia Couri, responsável pelo Laboratório de Processos Fermentativos da Embrapa Agroindústria de Alimentos, disse à Agência Brasil que atualmente parte do bagaço da cana é utilizado para queima em caldeiras. Mas que grande parte desse resíduo poderá ser utilizada, através dessa bioconversão, usando enzimas específicas, ou seja, celulose, para a produção de etanol.
A pesquisadora reconhece que o processo de obtenção dessa enzima não é uma coisa muito fácil. “Hoje, já existem algumas biorefinarias que estão produzindo, mas a um custo muito alto quando você compara a produção do álcool a partir da cana ou a partir do amido, que é a um preço muito menor do que utilizar esse material, porque você tem um outro processo acoplado, que é a hidrólise da celulose”, explicou.
Sonia Curi estima que para ser viável o custo desse processo teria de diminuir cerca de 50 vezes. A meta da Embrapa, porém, é produzir uma enzima que seja eficiente e muito mais barata do que é hoje. A produção no Brasil dessas enzimas permitirá ao país reduzir a dependência das importações e os custos inerentes a essas operações, uma vez que a maior parte dessas matérias-primas é adquirida no exterior e chega ao Brasil com um preço três vezes maior do que o cobrado no país de origem, salientou Sonia Couri.
A diminuição dos custos estaria atrelada, segundo analisou, ao incentivo à produção dessas enzimas pelas indústrias nacionais, destacando a própria indústria que vai produzir o etanol. “Depende muito de políticas de incentivo e também de investimentos”, avaliou a pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Nos Estados Unidos, os investimentos programados no setor de biocombustíveis atinge em torno de US$ 1 bilhão.
A estatal, vinculada ao Ministério da Agricultura, decidiu partir para esse estudo em função de experiência realizada desde 1986 na produção de enzimas celulolíticas (ricas em celulose) para a indústria de alimentos. Foram estudadas várias frutas, oleaginosas e sementes, extraindo-se óleo por um sistema aquoso, utilizando enzimas, em vez de usar um solvente orgânico, que é muito tóxico. Sonia Couri salientou ainda que o processo de produção do etanol via enzima de celulose envolve uma tecnologia mais limpa, que não agride o meio ambiente. “Qualquer tipo de resíduo é menos poluente, desde que seja vegetal”, observou Couri.
Para viabilizar a produção dos microorganismos que produzem essas enzimas, a pesquisadora revelou que a Embrapa está lançando também um grande projeto de florestas plantadas energéticas. Será estudado o aproveitamento dos resíduos de florestas de eucaliptos e pinhos para a produção de biocombustíveis, além de outras aplicações consideradas mais convencionais, afirmou.
Couri informou, ainda, que outros institutos de pesquisa, como a Universidade de Campinas (Unicamp) e o Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro também estão efetuando pesquisas sobre a produção de biocombustíveis no Brasil, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia, e da Petrobras.
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