O mercado de biodiesel no Brasil dá passos acelerados para sua consolidação. O ano de 2008 representará oficialmente o início da mistura de 2% do combustível renovável no óleo mineral. O suprimento necessário já está garantido com folga. Além disso, a firme expansão na produção do biodiesel permite projeções do governo federal de que, já em 2010, será possível obter um produto com 5% de insumo vegetal. A previsão inicial era de que este percentual só seria alcançado em 2013. Para tanto, o setor busca ainda formas de tornar o fornecimento de matérias-prima menos suscetível às variações das commodities agrícolas.
Atualmente, existem no país 20 unidades produtoras de biodiesel, com capacidade de ofertar 928 milhões de litros. Esta quantidade supera o total necessário (840 milhões de litros) para a mistura de 2%, conhecida como B2, que entrará em vigor em 2008. Para se atingir o composto B5 em 2013, ou seja com 5% de óleo renovável, o governo estimou, em sua política nacional de biodiesel que o fornecimento deveria ser de aproximadamente 2 bilhões de litros.
Elevar a produção do biodiesel a esse patamar não representa qualquer dificuldade, e por isso, é possível considerar que já em 2010 a mistura B5 estará disponível. O principal obstáculo é compatibilizar o uso de matérias-primas com a demanda mundial por commodities, uma vez que grande parte do biodiesel brasileiro, 90%, é obtido com o esmagamento da soja. Manter a oferta de combustível atrelada às variações do mercado de alimentos pode tornar o diesel caro. "Para aumentar a competitividade do biodiesel, temos que aumentar a produção com variedades que não servem de alimento", observa o superintendente de abastecimento da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Roberto Ardenguy.
A soja ganhou espaço no suprimento de biodiesel em função da cadeia produtiva bem estruturada. No longo prazo, porém, não é considerada uma boa opção. Apenas 20% do grão é composto de óleo, o que gera cerca de 700 litros por hectare. Já se conhecem espécies que podem gerar de quatro a cinco mil litros por hectare. O coordenador do Departamento de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Ângelo Bressan, crê que a soja continuará garantindo a oferta enquanto os experimentos com outras espécies estiverem maturando. "Qualquer solução não virá rapidamente, estamos procurando a ´cana´ do biodiesel", diz em referência ao grande potencial energético da matéria-prima do etanol.
A Brasil Ecodiesel, empresa com sete unidades e maior produtora de biodiesel no país, está apostando em uma produção futura baseada principalmente na mamona e no girassol. Ambas as espécies possuem um coeficiente energético melhor do que o da soja. "Quando mais rápido sairmos da soja, melhor", afirma o presidente do Conselho de Administração, Jório Dauster. Até o fim do ano, a companhia chegará a uma produção de 800 milhões de litros, dos quais 75% extraídos da soja.
Até 2010, quando o empresário julga que a mistura B5 já terá entrado no mercado, a Brasil Ecodiesel, espera reduzir a 20% a contribuição da soja, elevando o girassol à variedade mais representativa de sua oferta, com 45%. Também será ampliado o uso da mamona, 30%, e pode se obter já uma parcela de 5% do óleo extraído do pinhão-manso. Esta última espécie, conta Dauster, surpreende por se adaptar em várias regiões do país, e se irrigada, é capaz de produzir o ano inteiro.
O chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Frederico Durães, considera que da forma como está se estruturando, o mercado de biodiesel já estará consolidado em um período de 10 anos. Ou seja, com preços e abastecimento estáveis. "No estágio atual, os resultados já são ótimos, o que tem estimulado governo e a iniciativa privada a investir", pontua. No médio prazo, a grande aposta da Embrapa é na palma de dendê. Pesquisas iniciadas há uma década, fazendo o cruzamento do dendê, uma espécie africana, com o caiué, variedade nativa, estão produzindo resultados com significativo potencial econômico. Segundo Durães, a capacidade de oferta de sementes ainda é bastante reduzida, equivale ao plantio de 20 mil hectares. No entanto, ele acredita que se houver demanda contratada de empresas, a Embrapa seria capaz de ampliar sua produção de sementes e mudas.
"Não há porque não antecipar a meta da mistura de 5%", argumenta Jório Dauster, frente ao bom panorama de produção de biodiesel. Ele ressalta ainda que não apenas a demanda do setor de transportes tem despertado os investimentos. Há ainda um grande mercado entre grandes usuários. A Vale do Rio Doce, por exemplo, consome 1 bilhão de litros de diesel por ano. Agora, a mineradora estuda introduzir uma mistura de 20% de biodiesel em suas locomotivas, o que geraria um consumo semelhante a um terço de toda a produção atual.
Além de casos como esse, aponta o presidente da Brasil Ecodiesel, há também a possibilidade de abastecer frotas de ônibus urbanos e geradores de energia. Basta lembrar que cidades inteiras no Norte do país, Manaus entre elas, têm fornecimento de energia à base de óleo diesel.
Roberto Ardenguy, da ANP, menciona que a inserção do biodiesel na cadeia dos combustíveis dependerá também de adaptações tecnológicas. A frota de caminhões, notadamente antiga no Brasil, precisa ser testada para se ter certeza se reagirá bem à mistura de 5% de biodiesel, pondera. Além dos motores, estudam-se quais as melhores formas de transportar e armazenar o insumo, que é biodegradável.
O Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) desde 2003 estabeleceu um rede de pesquisa sobre o biodiesel. Os investimentos são feitos através dos fundos setoriais, e até agora somam R$ 16 milhões, envolvendo 58 instituições e 208 pesquisadores. Um novo período de dois anos de apoio a pesquisa termina em 2008 e deve consumir mais R$ 20 milhões com experimentos em toda a cadeira produtiva. Isso inclui melhorias na matéria-prima e processo produtivo, e também nos meios de armazenamento. De acordo com o MCT, cerca de R$ 12 milhões adicionais serão investidos em normatização dos produtos e órgãos de verificação de qualidade.
18/05/2007
Fonte: Gustavo Faleiros/
Agência de Notícia UDOP
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