Até dois anos atrás, parecia impossível pensar que os fatores fundamentais que regiam o mercado mundial de commodities agrícolas poderiam mudar radicalmente de uma hora para outra. No caso do principal mercado internacional de grãos, a Bolsa de Mercadorias de Chicago (Cbot, em inglês), era difícil imaginar operadores monitorando os preços do petróleo ou negociando mais contratos de milho do que de soja.
Mas é olhando para trás que Dave Lehman, o economista-chefe e diretor executivo da Cbot, consegue mensurar o impacto que os biocombustíveis tiveram na sua própria bolsa e em todo o mercado agrícola. “O biodiesel, mas mais ainda o etanol, estão mudando as regras do jogo em Chicago”, constatou ele em visita a São Paulo . Lehman participou de um seminário de commodities promovido pelo IBC Brasil e pela Agra FNP no dia 23.
Aos poucos, os operadores de mercado e a própria Cbot estão se adaptando a uma nova realidade: Lehman conta que o crescimento da produção de biocombustíveis está aumentando a volatilidade de preços. “A soja tem uma volatilidade historicamente alta, mas no caso do milho estamos vendo uma volatilidade bem acima da média histórica. E volatilidade traz especulação”, constata.
Com o petróleo em alta e cada vez mais estados norte-americanos exigindo a mistura de etanol à gasolina, os Estados Unidos estão dobrando a capacidade de produção do biocombustível. O detalhe é que o país já é o maior produtor mundial. Segundo Lehman, estão operando hoje 115 refinarias capazes de produzir 21,5 bilhões de litros de álcool de milho. Mas as 79 plantas em construção terão capacidade de fabricar mais 24 bilhões de litros.
Diante dessa explosão na produção de etanol, os agricultores vêem no milho as melhores perspectivas de remuneração, o que impacta o preço de todos os outros produtos agrícolas que devem perder espaço para o cereal.
Isso explica por que os contratos futuros de óleo de soja alcançaram sua maior cotação desde junho de 1984 na última sexta-feira. Os agricultores norte-americanos pretendem reduzir a área plantada com soja em 11%, para sua menor extensão desde 1996 para plantar milho, segundo a última projeção do departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, em inglês).
“A questão do mercado no momento é exatamente se os produtores norte-americanos terão mesmo condições de migrar toda essa área de soja para o milho”, assinala Lehman. Na avaliação do executivo da Bolsa de Chicago, o clima não está colaborando para o plantio de milho, o que pode fazer os produtores optarem pela soja, que possui uma janela de plantio maior e pode ser semeada mais tarde.
Além disso, Lehman diz que não há certeza se as fabricantes de fertilizantes terão condições de atender a todo o crescimento da demanda por produtos voltados ao milho. Caso não consigam o insumo ideal, os agricultores também podem desistir do milho e ficar com outras culturas.
Mas a Cbot não se contentou em ser apenas a principal formadora mundial de preços das principais matérias-primas dos biocombustíveis — milho e soja. “Acredito que o milho é uma fonte intermediária de etanol nos EUA”, avalia Lehman, considerando o avanço das pesquisas para a produção a partir da celulose.
Para não perder o barco dos biocombustíveis e ainda abocanhar um mercado que hoje é negociado na concorrente nova-iorquina, a Nybot, a Cbot já possui contratos futuros de etanol. “Os futuros do etanol ainda têm uma liquidez baixa, e por isso acabamos de lançar os contratos de swap de etanol, que serão importantes até o fortalecimento do mercado”, relata Dave Lehman.
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário