A Vital Planet, pequena empresa de origem holandesa com apenas um ano de operações, quer entrar com vigor no mercado brasileiro de biocombustíveis e se prepara para iniciar testes de produção em duas semanas. Como matérias-primas, a companhia usará 90% de soja e 5% de álcool anidro, que são misturados por enzimas biocatalizadoras para produzir biodiesel. A novata é controlada pela Vital Foundation, com sede na Holanda, que tem como meta reinvestir todo o lucro em projetos nas áreas onde atua.
Como trunfo, a empresa tem o uso exclusivo de uma nova tecnologia para fabricação de biodiesel patenteada pelo Instituto Fraunhofer, um dos principais institutos de pesquisa da Europa, e que tem 90% de suas pesquisas financiadas pelo governo da Alemanha.
A tecnologia permite a produção de biodiesel a partir de qualquer oleaginosa sem necessidade de calor ou pressão e sem catalisadores químicos, tudo dentro do reator. O processo também não produz glicerina, indesejável no processo. Rafael Geraets, presidente do comitê supervisor da Vital Planet e entusiasta da tecnologia, explica que mesmo sem a utilização de produtos químicos, caldeiras ou secadores, e sem resíduos, o processo resulta em biocombustível a preços competitivos. "E como a planta é flexível e pode ser transportada de um local para outro, as máquinas podem ser adaptadas para produzir pequenos ou grandes volumes, instaladas perto das grandes bases das distribuidoras ou perto da produção", afirma ele.
A empresa se prepara para iniciar os testes para a produção de 25 mil litros de biocombustível por dia (750 mil litros por mês) em uma planta piloto instalada em Campos dos Goytacazes, no interior do Estado do Rio. Serão investidos R$ 13 milhões na planta e em uma unidade para a construção dos equipamentos. Esse trabalho, a cargo da Vital Industries, também será em Campos. Quase metade desse valor será financiado pelo Fundo de Desenvolvimento de Campos (Fundecam), que usa parte da receita obtida pelo município com royalties sobre a produção de petróleo e gás na bacia de Campos.
A fase de testes para adequação das plantas à portaria 240/2003, da Agência Nacional do Petróleo (ANP), deve começar em duas semanas. Só depois disso, e dos laudos da Feema (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente) e do monitoramento pela ANP, é que a empresa espera obter autorização para comercializar a produção em escala industrial, o que deve ocorrer em maio ou junho.
Para fortalecer sua estratégia, a Vital Planet contratou Sergio Presgrave, ex-Ale, para o cargo de diretor executivo. Presgrave antecipa que já negocia com uma grande distribuidora de combustíveis a venda da primeira produção. Presgrave não revela o nome da companhia, mas diz que ela está entre as maiores associadas do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom).
O plano, segundo o holandês Rudolf Peelen, presidente do Vital Planet, é ter sete plantas com a tecnologia do Instituto Fraunhofer até o fim do ano. Mas não é só. Peelen conta que a empresa já analisa fazer uma oferta pública de ações, o que já foi objeto de uma reunião sua com o ABN-Amro Bank, em São Paulo, na semana passada.
As estimativas são de que o mercado brasileiro de biocombustíveis vai absorver até 1,9 bilhão de litros em 2008 e 2009. Tanto Peelen quanto Geraets dizem que o grupo "está preparado" para suprir até 500 milhões de litros desse total. No ano passado, foram produzidos no país 54 milhões de litros de biodiesel puro entre janeiro e novembro, segundo a ANP. A Vital concorrerá com empresas que já produzem, como Agropalma e Brasil Ecodiesel.
Os executivos da Vital Planet dizem que encontrar um supridor ainda é um dos gargalos do setor. A empresa busca parceiros, como esmagadores de pequeno porte, para fazer negócios. Em São Paulo, por exemplo, surgiu uma proposta inusitada: um usineiro com planos de dobrar a área plantada e ampliar sua frota de 600 para 1.200 veículos propôs uma parceria para construção de uma usina de biodiesel exclusiva para o abastecimento de sua frota. "Ele quer usar 100% de biodiesel como combustível e nos pediu para fazer uma proposta de preço. Não é usual e estamos fazendo os cálculos para fazer nossa oferta", diz Peelen.
A Fundação Vital Planet foi criada com recursos de 15 investidores "pessoa-física" na Suíça. Segundo Peelen, eles não visam lucro, mas aportes em projetos ambientalmente sustentáveis. A escolha do Brasil para os testes-piloto da nova tecnologia, conforme ele, explica-se pela produção de oleaginosas e porque o país pode suprir 60% do consumo mundial de biodiesel.
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