segunda-feira, 22 de janeiro de 2007
Falta plano estrategico para o biodiesel no Brasil
Especialistas afirmam que, ao ir com muita sede ao pote do combustível verde, os produtores brasileiros e o governo poderão ver muitas oportunidades serem perdidas, por falta de um plano estratégico.
Todos os caminhos do biodiesel brasileiro, hoje, levam à UE (União Européia). Ao mesmo tempo em que é grande o potencial do produto nacional de entrar em um mercado importante, barreiras econômicas, ambientais e logísticas poderão impedir que esse fluxo tenha início.
"O Brasil ainda não exporta biodiesel, apesar de estar perto disso. Há uma série de barreiras externas que não podem ser desprezadas neste momento", disse à Folha o consultor em energia Roberto Kishinami.
A UE já anunciou sua opção pelo biodiesel. No documento "Visão para 2030", lançado no ano passado, fica claro que o objetivo do grupo europeu é chegar daqui a 23 anos com um quarto de seu sistema de transporte funcionando com combustíveis não-fósseis. Na semana passada, o bloco anunciou uma meta de redução de 20% nas suas emissões de gases de efeito estufa --novamente, com auxílio dos biocombusíveis.
"A Alemanha já definiu uma posição de restrição à importação de biocombustíveis que não comprovem cumprir com preocupações socioambientais", avisa o consultor.
Isso significa que óleo nenhum será comprado de lavouras onde existirem trabalho infantil ou escravo, onde houver desmatamento e uso excessivo de pesticidas, além do plantio das polêmicas sementes geneticamente modificadas.
Segundo Kishinami, a posição alemã já foi submetida aos dirigentes da UE, que deverá adotar a prática. "Essas questões são certamente ampliadas pelo lobby dos agricultores europeus, que não querem concorrência com o Brasil ou qualquer outro país competitivo".
O próprio presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Silvio Crestana, está ciente dessas dificuldades. Segundo ele, lá fora, existem hoje duas críticas principais ao país.
"A primeira é sobre a falta de garantia de um fornecimento regular. A segunda é sobre a certificação." Para o presidente da Embrapa, ligada ao Ministério da Agricultura, está na hora de o Brasil se preocupar com a questão da "acreditação". "Quem estiver fora dos padrões terá feito o investimento e não conseguirá vender depois", afirma.
O próprio Crestana compara a construção do projeto do biodiesel brasileiro a uma casa. "Nós, muitas vezes, começamos a obra pelo telhado. Não podemos esquecer a produção de biomassa", lembra o dirigente público.
Dentro dessa falta de planejamento nacional, Weber Amaral, diretor do Pólo Nacional de Biocombustíveis, órgão também criado pelo Governo Federal que funciona no campus da USP (Universidade de São Paulo) em Piracicaba, prefere fincar bem os pés na terra.
"Antes de mais nada é bom dizer que os biocombustíveis não são a solução de todos os nossos problemas. Em escala mundial, eles vão responder por, no máximo, 20% da demanda energética. Nunca haverá uma participação maior do que essa", disse.
Para Amaral, faltam planos estratégicos que identifiquem os principais gargalos para o mercado dos biocombustíveis de uma forma geral. "O Brasil não tem, por exemplo, uma padronização do álcool que é exportado hoje", lembra.
Em 2006, foram mandados para o exterior 3 bilhões de litros de etanol. A maior parte dessa produção foi descarregada nos Estados Unidos. O biodiesel, no curto prazo, não deve pesar muito nas exportações.
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