segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Operários paralisam construção de usina

Operários de trabalham na construção da Usina de Biodiesel da Petrobras paralisaram porque pedem que seus diretos trabalhistas sejam assegurados (Foto: Alex Pimentel)
Cronograma de conclusão da unidade de biocombustíveis da Petrobras poderá ser atrasado pela greve

Quixadá. Cerca de 450 operários da construção da usina de biodiesel da Petrobras, que está sendo instalada em Juatama, a 17km do Centro de Quixadá, entraram em greve, na manhã de ontem. Com a paralisação, o prazo de conclusão da obra, previsto para o início de março do próximo ano, será afetado. Cada dia sem atividades resultará em 10 dias de atraso, segundo informou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem Geral no Estado do Ceará (Sintepav), Raimundo Nonato Gomes, ao anunciar o início do movimento de paralisação.

A decisão ocorreu após a constatação do que os sindicalistas consideram ser uma série de irregularidades trabalhistas. Algumas delas são salários e horas extras atrasados. Denunciam também a existência de um banco de horas, apontado como um “esquema” utilizado pelas empreiteiras para burlar a legislação. “O operário trabalha as horas a mais e ao invés de receber pelo que produziu, o período extra lhe é devolvido com folgas, dependendo do interesse do patrão”, explica o presidente do Sintepav.

As denúncias mais graves dão conta dos casos de doenças. Quem necessita de cuidados médicos é obrigado a permanecer no alojamento. A afirmação é feita por alguns trabalhadores que foram demitidos. O pedreiro Valdemar Holanda da Silva, 58 anos, é um deles. Diz que teve uma costela fraturada quando estava de serviço. O acidente de trabalho lhe rendeu a demissão. “Assim como o meu, existem outros casos”, alerta ele. Enquanto faz a denúncia, aponta para a ambulância saindo do canteiro de obras. “Mais uma vítima, embora a placa fixada ao lado do portão registre 289 dias sem acidentes”, observa.

De acordo com os representantes do Sintepav, a fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho já foi acionada. As medidas legais para decretação da greve, também. Quando a mobilização foi iniciada, na manhã da última quarta-feira, 30 empregados já haviam se recusado a trabalhar. Agora, todos cruzaram os braços e ainda não definiram quando retornam às atividades.

Assalto

Algumas horas após o início da manifestação, uma funcionária da Intecnial — construtora gaúcha contratada para executar as obras da usina — foi assaltada a pouco mais de 2km do local da obra. Ela seguia num automóvel da empresa para a usina. Foi interceptada pelos bandidos que seguiam numa camioneta Fiat Strada de cor vermelha e numa motocicleta. Um disparo de arma de fogo atingiu o pára-brisa do veículo. A auxiliar administrativa sofreu apenas um corte na mão esquerda. Equipes das polícias Civil e Militar cercaram a região.

O delegado regional de Quixadá, Edmar Granja, informou que a intenção do bando era roubar valores que poderiam estar sendo transportados para o pagamento dos operários.

SEGURANÇA

Clima tenso na manhã de ontem

Quixadá. No início da manhã de ontem, sindicalistas e operários, que retornavam à jornada de trabalho, se depararam com forte aparato armado no portão de acesso à obra. Eles ficaram revoltados. Acreditavam que a construtora havia adotado a medida para intimidar os grevistas. O clima ficou tenso, mas funcionários da construtora explicaram que a segurança foi acionada logo após o assalto. Temendo que os bandidos retornem, o serviço particular de proteção armada foi contratado pela direção da empresa Intecnial.

Mesmo assim, os manifestantes ficaram desconfiados. Alguns passaram a especular que a construtora estaria atribuindo a tentativa de roubo a uma armação dos próprios operários, como forma de pressionar a construtora e sub-empreiteiras que realizam a obra a atenderam as reivindicações da categoria. Por conta da falta de diálogo e do que consideram ser provocação, decidiram paralisar a obra.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem Geral no Estado do Ceará (Sintepav), Raimundo Gomes, informou que operadores de máquinas, metalúrgicos, pedreiros e serventes decidiram retornar ao trabalho somente quando a direção da Intecnial resolver sentar à mesa para dialogar e discutir soluções para os problemas apontados pelos filiados. Ele ressaltou que, atualmente, mais de 7 mil trabalhadores com especialização na área da indústria, construção e terraplanagem estão associados ao sindicato.

Até o encerramento desta edição, a direção da Intecnial não deu retorno sobre a solicitação de entrevista. A reportagem esteve no canteiro de obras, mas o gerente administrativo, Noberto, afirmou não ter nada a declarar.

Alex Pimentel
Colaborador

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