sexta-feira, 2 de novembro de 2007

EBDA pesquisa o Pinhão-Manso

Mais uma alternativa para a fabricação de biodiesel está em fase de estudos avançados na Bahia. A Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) deu início à segunda etapa do Projeto de Desenvolvimento de Sistema de Produção para a Cultura do Pinhão-Manso, na qual estão sendo avaliados espaçamento, densidade, consórcio com culturas de ciclo curto, métodos e épocas de poda e adubação química e orgânica. A terceira e última fase de experiências deve ser realizada ainda este ano e a expectativa é de que o pinhão-manso comece a ser produzido em escala comercial no estado a partir de 2008.

A Bahia e Minas Gerais são os dois estados mais avançados em pesquisas com a cultura no Brasil. Os ensaios da segunda etapa do projeto foram instalados no recôncavo baiano, nas estações experimentais da EBDA nos municípios de Conceição do Almeida, Amélia Rodrigues e Alagoinhas, e nas dependências da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), em Cruz das Almas.

A primeira etapa, iniciada no ano passado, constou de 14 Unidades de Observação (UO), cada uma variando de ¼ de hectare a 1 hectare, implantadas para avaliar o comportamento da cultura em diferentes condições agroecológicas e socioeconômicas da Bahia, com objetivo de selecionar plantas matrizes para produção de sementes visando atender aos produtores baianos.

Os municípios selecionados para as UOs foram os de Amélia Rodrigues, Irará, Alagoinhas, Conceição do Almeida, Irecê, Itaetê, Utinga, Ourolândia e Ribeira do Pombal, com um experimento cada. No município de Itaberaba, foram instaladas duas unidades e em Iraquara, três.

“Nessas áreas estão sendo realizados os registros da incidência de ataque de pragas e de doenças, de floração e frutificação, altura de planta, número de ramificações por planta, de cachos por planta, número de frutos por cacho e tomada de dados pluviométricos”, explica o pesquisador da EBDA e coordenador dos trabalhos, Benedito Lemos de Carvalho.

Ele destaca que a seleção das plantas será assistida por marcadores moleculares, uma técnica que serve para identificar os melhores materiais através de um processo biotecnológico.

“Todos esses trabalhos vão gerar informações para aprimorar o Manual de Instruções Técnicas para o Cultivo do Pinhão-Manso, publicação da EBDA que é um instrumento importante para técnicos e produtores rurais na implantação de lavouras comerciais da cultura”, diz.

Os recursos para implantação e acompanhamento das atividades, até o momento, segundo o pesquisador, estão sendo exclusivamente da EBDA, embora já existam recursos alocados no Fundo de Desenvolvimento Científico, do Banco do Nordeste, e também junto à Petrobras. Na realização do Projeto de Desenvolvimento de Sistema de Produção para a Cultura do Pinhão-Manso, a EBDA está atuando em parceria com as universidades Federal da Bahia (Ufba), Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) e Católica do Salvador (Ucsal).

Quanto aos resultados já obtidos, Benedito Carvalho informa que, em função das diferentes épocas de plantio, em algumas áreas as plantas apresentam excelente aspecto vegetativo, já em frutificação, enquanto em outras a cultura ainda está em fase de floração. “Em Irecê, por exemplo, apesar do período de estiagem logo após o plantio, as plantas se comportaram de forma excelente, o que demonstra uma boa resistência ao estresse hídrico”, comenta.

O pesquisador também chama a atenção para a forma de polinização do pinhão-manso, que é realizada quase exclusivamente por insetos, com predominância de abelhas e vespas. “A polinização por abelhas é muito importante, pois, além de beneficiar a cultura, contribuindo para uma maior produção, vai possibilitar ao produtor uma renda adicional com a produção de mel”, assegura.

Vantagens - Encontrado em quase todo o território baiano, o pinhão-manso tem na faixa costeira, a partir do litoral até uma distância de cem quilômetros, sua maior predominância, mas também é encontrado em diversos municípios do semi-árido. A planta tem como vantagens sua grande produtividade – que pode chegar a 8.000kg de sementes por hectare; a produção de óleo por semente – uma amêndoa produz até 40% de óleo; a adaptação a diversos tipos de solo, clima e altitude; sua colheita – realizada na estação seca; e ainda a propagação – que é tanto via sementes como por estaquia.

Como se trata de uma espécie que produz bem em altitudes de até mil metros, e com índices pluviométricos de 300 a mil, em faixas de temperaturas médias de 20 a 28 graus, os pesquisadores da EBDA vêem amplas possibilidades de cultivo em todo o estado da Bahia.

Outro diferencial da planta, apontada por Benedito Carvalho, é com relação ao plantio e colheita, realizados manualmente, o que absorve um grande contingente de mão-de-obra. “É um fato considerado de grande relevância, do ponto de vista de inclusão social, para a agricultura familiar, reforçado pelo baixo custo, fácil manejo e pela sua perenidade, visto que a planta vive de 30 a 50 anos”, ressalta o pesquisador.

Carvalho salienta que “o pinhão-manso não veio para competir com a mamona, como vem sendo propalado”. Segundo ele, essa cultura pode ser plantada em áreas de baixa altitude, onde não é recomendável o plantio da mamoneira, sendo mais uma alternativa para o sistema produtivo do agricultor.

“Além disso, o óleo do pinhão-manso serve exclusivamente para a produção de combustível, enquanto o óleo da mamona é, preferencialmente, indicado para o uso industrial na ricinoquímica”, observa o coordenador, frisando que o óleo de pinhão-manso, quando queimado, não produz fumaça nem deixa resíduos no ambiente.
O pinhão-manso já é cultivado em diversas partes do mundo, sendo a Índia e a Tailândia seus maiores produtores. Nesses países, o óleo produzido é utilizado para fins medicinais e na produção de sabão.


Fonte: Correio da Bahia

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