sábado, 17 de novembro de 2007

Cresce apetite por novos combustíveis

Etanol celulósico gera pesquisas e corrida também no país. "É a corrida do ouro da era moderna. Quem sair na frente, vai se dar bem", afirma Tadeu Andrade, diretor do CTC.

Mônica Scaramuzzo e Cibelle Bouças

Alvo de sigilosas pesquisas nos Estados Unidos, o etanol celulósico, considerado a jóia da coroa de uma nova geração de biocombustíveis que em breve começará a chegar ao mercado, está em franco desenvolvimento também no Brasil. Uma planta-piloto para a fabricação deste tipo de álcool, que no caso será produzido a partir da lignocelulose - sistema de quebra de enzimas de celulose do bagaço da cana - deverá começar a ser operada pela Petrobras no país ainda no primeiro semestre deste ano.

A estatal não é a única com trabalhos nesta frente no Brasil, mas como ainda não há resultados práticos sobre o uso da alternativa em larga escala, nem nos EUA, por aqui a ordem também é evitar barulho, até para evitar espionagem industrial. "É a corrida do ouro da era moderna. Quem sair na frente, vai se dar bem", diz Tadeu Andrade, diretor do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) - outro que está debruçado em pesquisas "confidenciais" na mesma linha.

Na Petrobras, os estudos ganharam fôlego em 2004. Por meio do Cenpes, seu centro de pesquisas, a estatal desenvolve a rota tecnológica de aproveitamento de resíduos agroindustriais (bagaço) em parceiras com as universidades federais do Rio de Janeiro, de Brasília e do Amazonas. Esta "rota tecnológica" consiste na quebra das moléculas de celulose e de hemiceluloses em açúcares, que então passam a ser fermentados por fungos.

A planta-piloto que começará a operar até junho ficará nas instalações do Cenpes. O projeto está em fase de pesquisa, e logo passará à etapa de ajuste tecnológico fino. A expectativa é produzir em escala industrial a partir de 2008, segundo Sillas Oliva Filho, gerente de comércio de álcool da Petrobras. Nesta rota tecnológica, o Cenpes já depositou duas patentes envolvendo tecnologias inovadoras. E, segundo Oliva, o centro vem avançando na produtividade do processo, com aumento para cerca de 220 litros de etanol por tonelada de bagaço. O aporte nessa frente faz parte do montante total de R$ 40 milhões por ano que o Cenpes investe em biocombustíveis.

Estima-se que, apesar de terem crescido, os investimentos na área no Brasil ainda representem menos de 5% do total aplicado nos EUA, que já supera US$ 500 milhões por ano. No caso do CTC (mantido por quase 150 usinas do país), Andrade informa que o trabalho também é na direção da quebra de celuloses. Ele explica que a quebra de celulose para a produção de álcool pode ser feita com qualquer matéria-prima vegetal - o que na prática, abre um variado leque de opções, do bagaço até lascas de madeira. Mas, no Brasil, a vantagem é mesmo o bagaço, devido à oferta abundante.

Mozart Schmitt de Queiroz, gerente de desenvolvimento energético da Petrobras, lembra que a estatal já fez álcool a partir da mandioca entre 1978 e 1983 e produz, até hoje, álcool de babaçu no Maranhão. Ele diz que outras fontes em análise para a produção de etanol celulósico são as tortas de mamona, pinhão-manso e soja. A base da "torta" é o farelo produzido no processo de esmagamento da baga para a extração de óleo. Segundo Queiroz, a expectativa da Petrobras é implantar a primeira usina-piloto de fabricação do etanol ligno-celulósico a partir de outras matérias-primas em 2010.

Em trilha paralela, a Votorantim Novos Negócios anunciou, na semana passada, a criação da Biocel, empresa que terá uma usina de etanol a partir do material celulósico da cana. A nova unidade receberá aporte entre US$ 30 milhões a US$ 40 milhões e deverá entrar em operação também em 2010.

Outra que está na corrida é a americana Alltech. Com atividades no Brasil, a múlti pesquisa nos EUA e no México, o uso da enzima Alzyme SSF (Solid State Fermentation) para a produção de etanol ligno-celulósico. Conforme Ari Fischer, gerente-geral do braço brasileiro do grupo, trata-se de uma tecnologia adotada pelos chineses há quatro mil anos para fermentar grãos, conhecida como "koji". Fischer diz que a empresa pesquisa a levedura há cinco anos e consegui, em laboratório, elevar a produção de álcool a partir do milho de 378 litros para 643 litros por tonelada de matéria-prima. Segundo ele, em breve haverá testes no Brasil.

Além do etanol celulósico, o uso de tecnologias mais simples seguem no alvo de diversos institutos de pesquisas e de empresas. Como já informou o Valor, a Imcopa, por exemplo, produz desde 2006 álcool a partir do melaço obtido no esmagamento de soja em Araucária (PR). A empresa produz 10 mil litros de álcool por dia, e está construindo outra unidade na cidade para chegar a 70 mil litros.

E, ainda na corrida do ouro, o próprio CTC, em parceria com Dedini e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), trabalha em um técnica denominada Dedini Hidrólise Rápida (DHR), que permite a produção de álcool por meio do bagaço de cana-de-açúcar na rota hidrólise ácida - outra técnica que permite o reaproveitamento do bagaço para a produção de álcool.

Fonte: Valor online (03/05/2007)

Do CTC - Centro de Tecnologia Canavieira


Ver Também:

Biocombustíveis de Segunda Geração

Processo de Produção de Bioetanol

Nenhum comentário: