As florestas tropicais são os mais ricos armazéns de carbono e os mais eficazes esgotos de carbono do mundo. As estimativas atingem os 418 t C/ha (toneladas de carbono por hectare) para a quantidade de carbono existente, e a 5 a 10 t C/ha cativado por ano, em que quarenta por cento é carbono orgânico no solo [14] . ( Sustainable Food System for Sustainable Development , SIS27). A quantidade de carbono existente nas florestas antigas será sempre maior e, segundo um estudo recente no sudeste da China, só nos 20 centímetros da superfície do solo dessas florestas antigas, o carbono orgânico do solo aumentou em média a um ritmo de 0,62 t C/ha por ano entre 1979 e 2003 [15]. Quando as florestas tropicais são deitadas abaixo a um ritmo de mais de 14 mil hectares por ano, libetam-se umas 5,8 toneladas de carbono para a atmosfera, das quais só uma pequena parte será retida de novo nas plantações.
A pressão adicional sobre o solo por parte das culturas energéticas acarretará uma maior desflorestação e uma maior aceleração do aquecimento global e da extinção de espécies.
Até agora já foram limpas enormes extensões da floresta do Amazonas no Brasil para o cultivo da soja destinada a alimentar a indústria da carne. Se se acrescentar a exigência do biodiesel da soja pode-se provocar a morte de toda a floresta. Simultaneamente, as plantações da cana-de-açúcar que alimentam a enorme indústria do bioetanol do país também estão a invadir o Amazonas, mas incidem sobretudo na floresta atlântica e no Cerrado, um ecossistema de savana de grande variedade, dois terços da qual já estão destruídos ou degradados [16] (Biofuels Republic Brazil, nesta série).
A pressão sobre as florestas na Malásia e na Indonésia ainda é mais devastadora. Um Relatório dos Amigos da Terra, The Oil for Ape Scandal [17] revela que, entre 1985 e 2000, o desenvolvimento das plantações de óleo de palma provocou cerca de 87 por cento de desflorestação na Malásia. Em Sumatra e em Bornéu, desapareceram 4 milhões de hectares de florestas a favor do cultivo da palma; e está prevista a limpeza de mais 6 milhões de hectares na Malásia e 16,5 milhões de hectares na Indonésia.
O óleo de palma é agora chamado o "diesel da desflorestação" [18], porque se prevê um aumento dramático da produção do óleo de palma na Indonésia e na Malásia com a febre dos biocombustíveis. Já se utiliza amplamente na indústria alimentar e cosmética o óleo de palma, que substituiu a soja como primeiro óleo comestível mundial. E como os preços do petróleo e do gás subiram até aos píncaros, o óleo de palma está a ocupar o lugar de principal cultura energética. Com produções de 5 toneladas (ou 6 000 litros) de óleo bruto por hectare por ano, o óleo de palma produz muito mais do que qualquer outra cultura oleaginosa [19]; por exemplo, a soja e o milho geram apenas 446 e 172 litros por hectare por ano.
Prevê-se que a produção actual global de óleo de palma de mais de 28 milhões de toneladas por ano duplique em 2020 [18]. A Malásia, o maior produtor e exportador mundial de óleo de palma, está a tornar obrigatório que, em 2008, o diesel venha a conter cinco por cento de óleo de palma, enquanto que a Indonésia planeia reduzir para metade o seu consumo nacional de petróleo em 2025, através da sua substituição por biocombustíveis. A Malásia e a Indonésia anunciaram um compromisso conjunto de produzirem, cada uma, 6 milhões de toneladas de óleo bruto de palma por ano para alimentar a produção dos biocombustíveis.
Por Mae-Wan Ho [*]
O original encontra-se em http://www.i-sis.org.uk/BiofuelsBiodevastationHunger.php Tradução de Margarida Ferreira.
Fonte: Aamuta
Integra da Matéria
Nenhum comentário:
Postar um comentário