quarta-feira, 6 de junho de 2007

Professores da USP afirmam que Brasil “está em situação confortável”

Alternativas e um futuro - se não otimista - pelo menos esperançoso. Essa foi a conclusão da terceira parte do relatório sobre o aquecimento global, divulgado recentemente pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, da sigla em inglês), órgão da ONU (Organização das Nações Unidas) criado em 1988.

O documento, redigido pelos principais cientistas na área de mudanças climáticas do mundo, diferentemente dos relatórios precedentes, propôs soluções, indicou mudanças e previu a situação futura do meio-ambiente caso nada fosse feito. “Depois de um tom mais analista nos primeiros relatórios, o IPCC procurou, nessa última parte, passar uma mensagem mais realista, porém esperançosa. Apesar da dificuldade, temos como diminuir os impactos ambientais”, afirma Wagner Ribeiro, professor da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e presidente de Programa de Pós-Graduação de Ciência Ambiental da Universidade.

Segundo o relatório, para evitar mudanças desastrosas no clima global, a temperatura média do planeta não poderia subir mais do que 2ºC. O problema é que, para isso, seria preciso reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa entre 50% e 85% até 2050.

Essa redução significaria uma estabilização na concentração desses gases na atmosfera no valor de 445 partes por milhão. A grande novidade do relatório é o quanto isso influi na economia: o impacto seria de até 3% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Para Ribeiro, esse valor é relativamente pequeno: “esse dado significa que, se nada for feito já, os prejuízos serão altíssimos, muito mais caros que esses 3%”, explica.

Caminhos possíveis

Uma das principais ações discutidas pelo relatório do IPCC é a busca por fontes alternativas de energia, que não envolvam a queima de combustíveis fósseis, cujos gases influem diretamente no efeito estufa.

Segundo Ribeiro, além de encontrarmos saídas para uma geração de energia sustentável, “é preciso buscar também a eficiência energética – meios que demandem menos energia – e evitar o desperdício de energia, através de uma reeducação”.

O professor cita o Brasil como um dos países que está na frente na busca por fontes de energias alternativas. “O biodiesel e o álcool brasileiros podem ser uma grande solução”, diz. Ele ainda aponta o potencial da energia eólica na Alemanha e a energia de maré, em países como França e Japão. “Uma ótima hipótese no futuro, seria termos um mosaico de fones de energia”, afirma.

O professor Pedro da Silva Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, ainda cita a energia solar como uma possível alternativa. Mas aponta que seu uso em larga escala demanda mais estudos: “apesar da produção de energia por esse processo ser menos danosa ao ambiente, poucos sabem que para a construção do equipamento se gasta uma quantidade enorme de carbono que vai para a atmosfera. É uma alternativa boa, caso consigam técnicas que diminuam a emissão no processo de construção”, explica Dias.

Para ele, o importante nesse momento é centrar-se em pesquisas: “o aquecimento global é uma área recente e interdisciplinar. É complicado lidar com isso. Temos muitas idéias bonitas, mas precisamos ver se são viáveis”.

Alternativas brasileiras

“A situação do Brasil ainda é cômoda. O país tem um potencial imenso e diversas alternativas para se adequar à nova realidade que o relatório mostrou”, afirma Dias.

Esse quadro de relativo “conforto” para o Brasil vem do fato de que, ao contrário da maioria dos países, grande parte da emissão de gases do efeito estufa não está ligado com a produção de energia não-sustentável, mas sim com a má utilização do solo.

Desmatamento da Amazônia

O professor Wagner Ribeiro explica que 40% das emissões brasileiras provém do desmatamento da Amazônia. “Diminuir essa prática é, teoricamente, uma tarefa mais fácil se compararmos com a mudança dos padrões energéticos que muitos países terão que fazer, que afeta muito mais as pessoas e a economia do país”, afirma.

De acordo com Ribeiro, o desmatamento já vem diminuindo nos últimos três anos: “e para diminuir mais, é preciso mostrar que a manutenção da floresta pode render economicamente. Outras atividades como o ecoturismo e o extrativismo podem trazer benefícios”, acredita.

Utilizar a terra de forma racional, aumentar a produtividade e expandir o uso de técnicas são maneiras citadas por Dias para diminuir as emissões dos gases: “temos que pôr em prática técnicas que dêem o mesmo resultado final e colaborem com ambiente. Uma delas é o ‘plantio direto’, que evita a aração da terra, evitando, portanto, a volatilização de todo o carbono do solo para a atmosfera”.

O Brasil, por estar inserido na região tropical, é um dos países que mais pode sofrer com as conseqüências do aquecimento global. “Apesar de estarmos em uma área sensível ao aquecimento, temos que nos concentrar nas nossas diversas alternativas. Momentos de crise
devem ser convertidos em oportunidades”, conclui Dias.

Nossa culpa

A grande novidade da terceira parte do relatório do IPCC, segundo Ribeiro, foi a confirmação da participação humana no aquecimento do mundo. “Ficou claro que esse processo foi gerado a partir da ação humana”, diz o professor, que completa: “diante da nossa responsabilidade, temos que efetivamente tomar atitudes para melhorar as gerações futuras. Não há mais desculpas para não agir. Temos capacidade de evitar o pior”.

Dias vai mais além e comenta da ação de cada um, na mudança de seus hábitos cotidianos: “o brasileiro tem mania de se livrar do lixo, queimando-o. Mas, muitos não têm essa consciência do quanto é prejudicial ao meio-ambiente. Deve haver políticas públicas integradas no sentido não só de agir em larga escala, mas também de informar e conscientizar a população do como ela pode ajudar de dentro de sua casa”.

(*) Carolina Landulfo é jornalista da USP Online
Fonte: ( / Agência USP)

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