O desequilíbrio entre oferta e demanda de álcool que se desenha para este e o próximo ano, na esteira dos volumosos aportes e aumento de produção no país, levantam uma questão preocupante para o setor sucroalcooleiro brasileiro: como administrar os estoques para não haver pressão negativa sobre os preços.
O Brasil deverá atingir neste ano uma produção recorde de 18 bilhões de litros de álcool, e que deverá subir para 22 bilhões em 2008. A expectativa de consumo no mercado interno — apenas uma parte pequena é exportada hoje — é de 14 bilhões de litros.
Roberto Ardenghy, superintendente de abastecimento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), afirma que o governo não chegou a uma conclusão sobre a proposta de formação de estoques reguladores do combustível. “O problema de formar estoque é quem vai pagar o custo, se serão as usinas, o governo, as distribuidoras. Seria um custo enorme fazer estoque de etanol por cinco meses, já que a safra dura sete meses e o mercado interno consome 17 bilhões de litros durante todo o ano”, afirmou ele.
Para o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, falta uma política de estocagem, mas ele descarta uma intervenção unilateral do governo federal.
“Não acho que o governo tem que tomar conta desse negócio. É um assunto estratégico para o país e o governo tem que estar presente, mas não ser o executor e responsável pela estocagem”, disse Rodrigues, durante o Ethanol Summit, realizado ontem em São Paulo. “Deve haver uma política de estocagem adequada, com instrumentos de mercado, e um grande agente para isso poderia ser a BM&F. Já estou conversando com eles sobre isso”, disse.
Rodrigues, que coordena o centro de agronegócios da FGV, defende uma participação do setor privado em conjunto com o governo no financiamento desses estoques. “Se falamos de um estoque de álcool de 3 bilhões de litros, tudo bem porque o consumoé de 1,5 bilhão, então é um estoque de dois meses. Mas se for de 7 bilhões, o mercado joga o preço pra baixo. Então é preciso financiar a estocagem para que o preço do álcool não seja jogado para baixo”, diz. Quem vai bancar isso, diz, é que é a grande discussão.
Ele ressalta que o comércio de etanol, como qualquer commodity, está sujeito às oscilações de mercado. O que quer dizer que, em algum momento, as exportações também irão crescer devido às decisões mandatórias de mistura de álcool na gasolina que outros países devem adotar. “Quando exportar mais, os estoques vão cair”.
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