terça-feira, 5 de junho de 2007

Novo contrato futuro de álcool em gestação

Novos traders poderão entrar no mercado de venda física de álcool anidro, que é usado na mistura com gasolina. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) acertam detalhes para o fechamento de um convênio que permitirá que pessoas físicas e jurídicas, além de usinas, possam negociar etanol no mercado interno, via contratos futuros.

Pela legislação atual, negócios com entrega física de álcool anidro só podem ser feitos entre usinas, distribuidoras de combustíveis e postos. O contrato que a BM&F oferece hoje de etanol é voltado basicamente para o mercado externo e a entrega física só pode ser feita por usinas (pessoas físicas e empresas que negociam o contrato fazem a liquidação antes da data de vencimento).

Segundo Roberto Ardenghy, superintendente de abastecimento da ANP, as instituições estão na fase final para a criação de um novo contrato futuro de etanol, que será voltado para o mercado interno e cuja liquidação poderá ser feita por outros tipos de empresa e por pessoas físicas. “Todos podem participar do mercado, desde que desejem assumir o risco de preços do etanol”, disse ele. Para isso, falta ao governo resolver dois entraves. Um é modificar a legislação para permitir que outros agentes possam entregar o etanol. Outro é fazercomque a Receita Federal isente o contrato de entrega do pagamento de PIS/Cofins, hoje em 8,02%. A expectativa é que o protocolo seja assinado em 40 dias.

O objetivo da medida, segundo Ardenghy, é permitir a formação de um mercado futuro para a comercialização de etanol voltado ao mercado interno, no qual os preços oscilem conforme a relação de oferta e demanda, mas sem que o mercado fique dependente das variações de oferta durante safra e entressafra da cana-de-açúcar.

Segundo a ANP, também não há uma definição do governo sobre a possibilidade de elevar a mistura de álcool anidro na gasolina para 25%. Hoje, o índice de mistura é de 23%. Ardenghy observou que a ANP tem feito esforços para evitar as misturas irregulares de álcool na gasolina. Recentemente, obrigou as usinas a alterar a cor do anidro, para que ele não seja vendido como álcool hidratado (usado nos veículos flex).

Com a medida, segundo ele, o índice médio de adulteração caiu de 10% para 2,5% a 2,7% e houve a entrada de 1 bilhão de litros de anidro vendido de forma regular, o que trouxe um retorno fiscal de R$ 400 milhões. “Este é um mercado em alta expansão e que precisa de mecanismos efetivos de controle e de apoio à comercialização”.

Para a atual safra, a expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que a produção de álcool anidro aumente 13,74%, para 9,35 bilhões de litros. Para o hidratado, a previsão é de uma expansão de 15,39% na produção, para 10,63 bilhões de litros. A produção total de álcool (incluindo para outros usos) é estimada em 20,01 bilhões de litros, 14,54% mais que na safra 2006/07, o que representa uma oferta extra de 2,54 bilhões de litros.

Em relação ao mercado externo, preocupa aos agentes do setor a dificuldade de o Brasil fechar negociações que garantam maior abertura de mercado. Felipe Gonzalez, ex-premiê da Espanha e responsável pela implantação do programa de biocombustíveis naquele país, disse, no seminário Ethanol Summit, realizado em São Paulo, que o Brasil já tem um papel fundamental no comércio internacional de etanol, mas precisa melhorar as suas relações com os países do hemisfério Norte. “O Brasil fechou acordos importantes para ampliar a produção e o comércio de etanol nos países do hemisfério Sul e continuará liderando o mercado na região. Mas precisa fechar parcerias para uma melhor relação SulNorte”, disse, referindo-se à abertura comercial com Europa e EUA.

Marcos Jank, presidente de honra e fundador do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacional (Icone), observa que os dois principais mercados para o etanol são EUA e Europa e, futuramente, China e Índia. “As relações com esses países têm de ser trabalhadas. O Brasil é o único país exportador de etanol, mas precisa fazer um trabalho de convencimento para garantir participação nesses mercados”, afirmou ele.

A UE adota até 2011 mistura de 5% de etanol na gasolina, o que implicará uma demanda anual de 7,4 bilhões de litros. A partir de 2020, ampliará a taxa para 10%. Nos EUA, a meta é adotar mistura de até 5,7% de etanol na gasolina até 2012, com demanda potencial de 30 bilhões de litros anuais.

Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da FGV, alertou para a necessidade de se criar na Organização Mundial de Comércio (OMC) um capítulo especial sobre agroenergia nas regras de comercialização agrícola vigentes, até que seja definida a rodada de renegociação de Doha. “Tenho proposto que a OMC crie um capítulo especial para a agroenergia porque é tão importante agora quanto a questão alimentar do planeta. Deveria haver um tratamento para isso. A gente precisa de uma visão mais completa do que vai acontecer na frente”, disse.

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