A União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica) anuncia hoje, oficialmente, a substituição de Eduardo Pereira de Carvalho, atual presidente da entidade, por Marcos Sawaya Jank, que em 2003 fundou o Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) e hoje é seu presidente de honra. Carvalho e Jank preferiram não dar detalhes sobre o assunto, e a Unica limitou-se a sinalizar que o “mistério” termina hoje. Jank é doutor pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Faculdade de Economia e Administração da USP e mestre em políticas agrícolas pela Faculdade de Montpellier, da França. Foi consultor da Divisão de Integração, Comércio e Assuntos Hemisféricos do BID entre 2001 e 2002 e assessor especial do Ministério do Desenvolvimento em 1999. Transformou o Icone, que é mantido por entidades que representam a iniciativa privada, em um centro de pesquisa aplicada em comércio internacional e política comercial. O instituto desenvolve projetos e tem parceria no país e no exterior.
O “rei milho” destronou o “rei carvão” como principal influenciador da política nos EUA. O resultado é a falta de uma política sensata para o etanol que, de repente, tornou-se o atalho favorito de todos para reduzir as emissões de gasesestufa e amainar o vício dos EUA por petróleo importado. Na verdade, as vantagens do etanol estão sendo exageradas e as conseqüências da corrida para produzi-lo, subestimadas. Não só eleva a procura pelas escassas terras cultiváveis, mas pressiona a alta do preço dos alimentos nos EUA e Europa.
A Comissão Européia pediu que os biocombustíveis substituam 10% da gasolina até 2020. O aumento da produção de biocombustíveis, contudo, já desencadeou um coro de reclamações de fabricantes italianos de massa, alemães de cerveja, mexicanos de tortillas e, nos EUA, dos pecuaristas, que usam o milho como ração. Conglomerados de produção de alimentos divulgaram alertas sobre lucros, avisando que ficarão abaixo do esperado, mas as empresas de energia não sentiram a ferroada. Como explicar o paradoxo?
A razão principal é que a estratégia pró-etanol é de trazer lágrimas aos olhos. O combustível baseado no milho, produzido nos EUA, requer o cultivo em vastas áreas de terra para poder substituir uma fração da gasolina usada nos carros. Mais do que isso, o etanol é só um pouco menos poluidor do que recorrer ao petróleo. A energia para transformar cereais em combustíveis poderia, em teoria, vir de outras fontes renováveis como a eólica ou a solar. Mas na maioria dos casos as refinarias de biocombustíveis usam o próprio petróleo ou carvão, ainda mais poluidor.
As atuais opções de cultivo local da União Européia (UE) não são melhores. A canola e o açúcar de beterraba são preferíveis ao milho, mas também exigem uso intensivo de terras e energia. Avanços tecnológicos ainda podem tornar gramíneas, aparas de madeira e outras formas de matéria orgânica em alternativas rentáveis e benéficas ao ambiente, mas já há outras opções melhores disponíveis.
A melhor entre elas é a cana-deaçúcar, que contém mais energia aproveitável do que a beterraba. O problema é que os climas europeus são, em grande parte, inóspitos para cultivá-la. Brasil e alguns países centro-americanos oferecem ambientes mais naturais.
Poderia haver problemas de escala mesmo no Brasil. Embora a terra cultivável ainda seja abundante e as melhorias na gestão do solo ainda possam ir mais longe, uma maior produção de etanol, em última instância, poderia significar menos floresta tropical.
Permitir a entrada de etanol de cana aos EUA e UE exigiria derrubar as suas tarifas de importação. Enquanto o rei milho dominar os EUA — e Iowa, no coração do cinturão de milho, onde ocorrem as primeiras eleições primárias, larga à frente na corrida para escolher o próximo presidente —, é improvável que isso ocorra. A maior barreira à adoção do etanol nos EUA é a indústria de etanol dos EUA. Já a UE deveria seguir o caminho encabeçado pela Suécia e acabar com as tarifas antes que seja tarde demais.
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