Trabalhando em projetos de viabilidade da utilização de biomassa, em especial biodiesel redijo este texto para expor um pouco do meu conhecimento e defender a corrente que acredita que a jatropha curcas linn, pinhão manso seja uma das importantes fontes de matéria prima para o programa de produção de biodiesel no Brasil.
Em 2004 em parceria com engenheiro Luis Sans Castro comecei a desenvolver projetos específicos para produção de biodiesel no Brasil. Partindo das orientações e dados das comissões interministeriais responsáveis pelo planejamento estratégico do programa brasileiro do biodiesel. Tais comissões definiam como pontos básicos e pilares estruturais: a agricultura familiar, a mamona, o óleo de palma, regime de produção batelada e o insumo etanol.
Com estas premissas fomos para a Europa maior produtor mundial de biodiesel. Visitamos os principais fornecedores de tecnologia da Áustria, Itália, e Alemanha.
Os técnicos europeus polidamente alertavam que a mamona apresentava sérios problemas operacionais de processamento no domínio da cinética das reações com a formação de ésteres secundários e outros empecilhos devido às hidroxilas no décimo segundo carbono, e principalmente à impossibilidade de atender as normas européias vigentes, bem como as americanas.
Que a opção pelo etanol alem de ser mais caro que o metanol aumentaria o volume utilizado no processo em 80%, com acréscimos no consumo de energia, reduzindo a produção, reduzindo a velocidade das reações e principalmente nas fases posteriores das dificuldades de separações dos sais residuais e etanol na glicerina e no biodiesel.
O uso do etanol implicaria no aumento dos custos finais do produto biodiesel em mais de 6%. O custo da unidade de retificação do etanol hidratado resultante no processo industrial para ser reutilizado obrigaria a utilização de uma peneira molecular devido ao azeotropo de mínimo formado. Seria uma unidade industrial mais cara que a de produção do biodiesel.
Quanto ao óleo de palma que o Brasil, era importador logo não viam possibilidades de curto prazo como fonte de matéria prima.
Visitamos unidades fabris, centros de pesquisas, consumidores proprietários de frotas cativas, consumidores públicos, revendedores atacadistas e postos retalhistas toda a cadeia.
Das planilhas de custos industriais que nos foram apresentadas tomamos ciência que o principal insumo da cadeia produtiva era o óleo responsável por 70% a 85% dos custos, uma escolha mal feita da fonte fatalmente levaria os empreendimentos ao fracasso.
Voltamos ao Brasil com muito mais duvidas, e um dever de casa bastante extenso inclusive de procurar alternativa. Mesmo alertados fizemos estudos sobre a cadeia produtiva da mamona e da palma para confrontação dos dados. Aprofundamos as analises com relação ao uso do etanol e a orientação do programa, regime de batelada, rota etílica (o correto é falar rotas acidas e ou básicas), pois metanol e etanol são insumos, das falhas na norma publicada pela ANP. A constatação era que o programa ainda estava bastante incipiente. Aja visto que ainda hoje a norma não corrigiu as distorções dos itens: glicerina total e o teor residual de álcool com relação ao ponto de fulgor.
Durante os trabalhos deparamos com uma seqüência de inconsistências nas orientações técnicas passadas à Comissão Interministerial do Biodiesel e a Casa Civil.
Como técnico e brasileiro me senti na obrigação de alertar. Protocolei correspondência ao então Ministro da Casa Civil Dr. José Dirceu expondo minhas observações e preocupações. É importante frisar que trabalho no sentido que o programa de biodiesel brasileiro tenha êxito. No texto encaminhado não me furtei das minhas duvidas mesmo me colocando contrario às diretrizes gerais.
Agora tendo tomado conhecimento do manifesto acima e do aval do representante legal do MDA, condutor importante na questão da agricultura familiar no programa do biodiesel me sinto na obrigação de falar de alertas e omissões, mas identificando individualmente cada uma e me sujeitando às criticas. (e.mail: neddozecca@yahoo.com.br).
Sou um dos incentivadores do plantio do pinhão manso não me furto ao debate. Critico sim a forma como foi assinado e referenciado o manifesto, não deixando claras as reais intenções. Fica a duvida qual é o real objetivo?
Das refutações:
Como a intenção de todos é que o programa de certo, vamos fazer uma analise critica completa, pois alguns dos signatários do manifesto têm ou tiveram expressiva importância quando das orientações básicas do programa brasileiro do biodiesel na sua partida e estão influenciando ainda no seu andamento.
Das matérias primas eleitas pelos técnicos e o porquê de acreditarmos, no pinhão manso como uma das potencias oleaginosas que darão sustentação ao programa brasileiro de biodiesel.
Primeiro a mamona, oleaginosa defendida por alguns dos signatários do Manifesto.
Exige terreno neutro pH próximo de 7, pouco conhecimento com relação às ervas daninhas e pragas, as áreas não devem ter inclinação superior a 12%, altitude ideal 400 metros, índice pluviométrico de 500 mm, consumo elevado de fertilizantes, rotação de cultura a cada 2 anos, baixa variedade de possíveis consorciamentos e deve ser evitado consorciar com milho e o sorgo (Fonte - EMBRAPA).
O Brasil já foi o maior exportador de óleo de mamona e o declínio se dá a partir da morte de dois importantes pesquisadores da CATI (IAC), tínhamos produtividades de até 1600 kg de bagas por hectare hoje nossa melhor media é de 800 kg/hectare na Bahia. (fonte CONAB). O grande exportador era a Bungue.
Do professor da USP Herman Ritner, consultei sua publicação sobre a mamona, sua cultura, extração do óleo e seus processamentos industriais. Engenheiro químico com reconhecimento junto à associação americana de químicos. Os dados contidos no livro confirmam os alertas dos técnicos europeus.
Ficava claro que se não temos competência para vender o óleo de mamona no mercado internacional onde o preço era de 1200 USA $ a tonelada. Como seriamos capazes de processá-lo industrialmente para vender a 700 USA $. Existe inconsistência econômica. Que só se viabiliza com elevados subsídios e forte renuncia fiscal.
A Índia maior produtor exportador mundial de óleo de mamona, lançou um programa de produção de biodiesel e não optou pelo óleo de mamona. Uma das escolhas feita pelos indianos para produzir biodiesel nas suas terras degradadas foi a Ratanjot = purgueira = Jatropha Curcas = o nosso pinhão manso.
Cultura levada pelos portugueses no século XVI. A premissa é a agricultura familiar, mas muito mais arrojada pretende atender 300 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da miséria nunca tiveram acesso à luz elétrica e o objetivo gerar energia para atender estas comunidades foco diferente da proposta brasileira.
A China, o segundo no mercado mundial de óleo de mamona (digo produtos oriundos do óleo da mamona) também aposta no pinhão manso para o seu programa.
Da viabilidade técnica no uso do óleo de mamona para produzir ésteres.
O óleo de mamona apresenta uma característica muito especial 90% é constituído de acido ricinoleico. Base para a produção de mais de 400 produtos onde destaco o acido sebacico.
Mesmo processado (esterificado) o ester obtido apresenta ainda uma viscosidade elevada que coloca o produto fora das normas internacionais para uso como biodiesel. Tendo ainda à presença da dupla ligação entre os 9 e 10 carbono que permite a formação de polímeros (nylon 11) à baixa temperatura, que não é conveniente que aconteça dentro dos pistões dos motores.
Alem da hidroxila no, décimo segundo carbono mencionada anteriormente facilitadora da obsorção de água gerando problemas de estabilidade. Recomendo a leitura do trabalho conduzido pela NREL nos USA. Falta consistência técnica na escolha da mamona para produzir biodiesel.
Todos sabem das toxinas presentes quando do processamento das sementes de mamona as ricinas e ricininas. O pinhão também tem a curcas.
Mas o que difere as duas culturas são os componentes mutagenicos alérgicos, presentes somente na cultura da mamona e a sua maior concentração se dá pólen, as albuminas 2s, no manuseio das sementes e durante o processamento para a obtenção do óleo.
Pessoas que as aspiram ou tomam contacto com estas albuminas tornam se alérgicas para toda a vida, algumas que apresentarem pouca imunidade e baixa resistência sofrerão problemas como edema de glote e até a morte.
Nunca vi por parte dos signatários nenhum alerta ou preocupação com relação à questão informando da necessidade do uso obrigatório de mascaras pelos agricultores familiares e das pessoas que habitam vizinhas as suas plantações no período de floração. Não temos ainda vacinas prontas e testadas, o alerta é uma obrigação, uma questão de saúde publica e compete aos que tem o conhecimento alertar.
Pergunto a quem caberá a responsabilidade se acontecer algum óbito e o Ministério Publico for acionado ficará a indagação se foi homicídio “culposo ou doloso”? Nunca vi por parte dos signatários especialistas na mamona o alerta neste sentido. Isto sim é omissão grave. Não se esqueçam da lei de Murphy.
O Brasil é signatário e se compromete junto a UNIDO no documento de combate à desertificação. Tendo destinado parcelas expressivas dos seus orçamentos nos últimos anos nesta tarefa. De todas as plantações no mundo a mamona junto com o feijão e a mandioca são as culturas que mais facilitam a erosão do solo, pois não impedem ação mecânica das chuvas e dos ventos.
A UNIDO elegeu uma planta como referencia a jatropha curcas.
Penso que não se deva incentivar o plantio da mamona no agreste nordestino, que em alguns pontos caminha para a desertificação. Outro alerta omitido pelos signatários.
Os projetos que receberam incentivos para plantar mamona destinada ao biodiesel não decolam e apresentam diversos problemas. É flagrante a falta de viabilidade econômica, inconsistência técnica e o potencial passivo de saúde e morte. As autoridades superiores devem ser avisadas, pois continuam a incentivar o plantio inclusive distribuindo kits internacionalmente.
Unidades instaladas para produzir biodiesel estão recorrendo, a outras fontes de matéria prima como: óleo de soja, gorduras animais, óleo de girassol, nabo forrageiro e outras para cumprirem suas obrigações nos leilões vencidos junto à Petrobras.
Com relação à palma. O Brasil não tem participação expressiva no mercado internacional como produtor. Importamos óleo de palma para suprir parte de nossas necessidades alimentares e das indústrias de sabão. Penso ser difícil pensar em energéticas e exportar.
No Brasil muitos empreendimentos para plantar e produzir óleo de palma foram tentados desde a década de 1950. Só um sobreviveu, o da Agroplama com uma luta de algumas décadas. Um ativo que passou de um banco para outro banco.
A empresa hoje exporta ácidos graxos orgânicos que gozam de preços internacionais mais confortáveis. A plantação base é da tenera um híbrido (dura + pisifera). Todo e qualquer projeto para ter consistência deverá levar em conta à necessidade de aclimatar, fazer os cruzamentos e os manejos, estamos falando em 9 anos.
São necessárias condições climáticas especiais principalmente com relação aos índices pluviométricos, umidade relativa do ar elevada bem como a temperatura. As regiões no Brasil possíveis para projetos são restritas e localizadas em pontos com escassez de infra-estrutura.
Foge completamente da base da formulação do programa de agregar a agricultura familiar. Só, e somente só se a empresa que tiver capitaneando o projeto tenha experiência e muita competência no assunto. Devemos levar em conta que quando da colheita dos cachos tem inicio a deterioração e formação de ácidos graxos livres não podendo ser estocados, deverão ser processados o mais rápido possível sendo necessário um sistema de logística e industrial muito eficiente.
Tecnicamente é possível se produzir biodiesel oriundo de matéria prima palma tanto do dendê ou do palmiste da amêndoa. No caso especifico da empresa é muito particular sua produção de biodiesel, pois tem como fonte, resíduos do processo industrial. Fruto de uma boa gerencia empresarial aliada a uma acessória técnica competente aproveitam os resíduos, ácidos graxos livres, que processados em rota acida permitem fazer biodiesel de boa qualidade e não mais sabão.
Não devemos tomar como base esta solução especifica de um resíduo industrial e reaplicar para o Brasil. O País tem um enorme potencial de oleaginosas para produzir biodiesel, mas com certeza não serão a mamona e a palma seus principais sustentáculos.
Do manifesto e das refutações:
Destacamos a nominação dos signatários e por ultimo da bibliografia que serviu de base para as afirmações. Tenho conhecimento da primeira referência.
Documento elaborado pela IPGRI (FAO) de numero 1 de uma coleção muito importante. O próprio título é uma importante indicação a respeito da cultura: “Promoting the conservation and use of underutilized and neglected crops”. Destaco negligenciadas, expressão verdadeira com relação ao pinhão manso no Brasil.
Da segunda referencia “Viagem à Índia para prospecção de tecnologias sobre mamona e pinhão manso. Embrapa Algodão: Campina Grande, 2006 (Documentos, 153).” Imagino que seja a mesma apresentada no seminário sobre o pinhão manso na FEPAD em Brasília me abstenho de fazer comentários.
Existe um universo maior para consultas e embasamento para o assunto. Penso que os pesquisadores signatários já tenham contatado com os seus pares, centros de pesquisas, publicação que fazem parte da bibliografia da primeira referencia Heller (1996) indicados nas paginas 45 a 66 do documento seria um bom começo.
Destaquei 10 afirmações feitas e enumeradas no documento que vou tentar refutar usando a primeira referencia dada (Heller 1996). Pois os contraditórios de algumas das colocações já estão no próprio texto referencia.
Destaco uma afirmação que também enfatizo de numero 11.
As expressões marcadas foram extraídas do manifesto e numeradas.
1-“Esta escolha se baseia na expectativa de que a planta possua alta produtividade de óleo”
A abordagem para o óleo ser viável para servir como matéria prima em projetos de produção de biodiesel é o custo do litro de óleo. Ter alta produtividade é importante, mas a qualidade e o custo baixo muito mais.
Mesmo assim o pinhão apresenta produtividade maior que a mamona por hectare ano. Não devemos esquecer que a mamona no terceiro ano não pode ser plantada.
A semente do pinhão tem em media de 34-38% de óleo. Quando descascada a amêndoa fornece em alguns casos 60% facilitando a extração do óleo a frio.
2-“Grande parte das informações divulgadas sobre a cultura provém de fontes pouco confiáveis”
Não vou me ater à discussão de fontes pouco confiáveis seria mais correto se os signatários às identificassem. Acusações jogadas ao vento não nos parece um bom caminho para criticar. Penso que falar em fontes brasileiras confiáveis seria melhor como, por exemplo:
O informe agropecuário v.26-n. 229 ISSN 0100-3364 da EPAMIG “Produção de oleaginosas para biodiesel” nas paginas 44 a 78 um belíssimo artigo “Cultura do pinhão manso (jatropha curcas)” assinado por Heloisa Mattana Saturnino, Dilermando Dourado Pacheco, Jorge Kakida, Nagashi Tominaga e Nivio Poubel Gonçalves. Mostrando o trabalho de pesquisadores brasileiros, resgatando o que foi feito na década de 80, os trabalhos do CETEC com uma bibliografia vastíssima. Para mim são fontes confiáveis.
Dos trabalhos do Dr. Octávio de Almeida Drummond e de Lúcia Helena de Souza Cunha da EPAMIG sempre enfrentando as dificuldades para prosseguir nas pesquisas do pinhão manso, mas nunca esmorecendo.
Da edição do Jornal do Brasil de sábado 28-5-83 pagina 8, destaque: “Minas testa óleo de pinhão manso na substituição do óleo diesel” trabalho conduzido pela EPAMIG e o CETEC com sucesso. Falava dos ônibus da cidade de Belo Horizonte que estavam rodando com B30 (30% de biodiesel + 70% de diesel). Outra fonte confiável.
Do Dr. Octávio A. Drummond então pesquisador EMBRAPA-EPAMIG em 31 de março de 1986, destaco um relatório que informava que desde 1982 conduzia trabalhos com o pinhão manso em Janaúba, Jaíba, Acuã, Grão Mongol, Vale do Jequitinhonha, Governador Valadares, Felixlândia e Lambari um total de 94 hectares plantados.
E que em especial nos anos de novembro de 1983 a junho de 1984 quando obteve produtividade media de 5.662 kg de sementes por hectare em alguma das plantações.
Destaco ainda do texto a sugestão do Dr. Octávio
“...A cultura solteira permite o cultivo mecanizado integral da cultura do pinhão, mas havendo consórcio com o plantio de outra cultura nas ruas...”
“... Terminando, sugerimos que o projeto da produção do óleo do pinhão seja de imediato dinamizado, que a par dos recursos aplicados nos estudos da produção da planta e da tecnologia do óleo, que se inicie também a compra da semente em todo o Estado, a preço semelhante da semente da mamona, competitiva, de modo a se difundir no meio rural o interesse pela produção desta oleaginosa. Propomos isto baseados no fato de já haver uma pequena produção de pinhão em Minas, usada na fabricação de sabão domestico ou na indústria de sabonete. Basta que o projeto entre nesse comércio, durante 4 a 6 anos, para que a produção do pinhão se firme em grande escala......”.
Dr. Drummond assinou e protocolou o documento junto ao coordenador Projeto Pinhão Antonio Álvaro C. Purcino. Outra fonte confiável.
Os técnicos da EPAMIG não se furtarão a confirmar os fatos e os dados. Técnicos com qualidades especiais não se omitiam e principalmente não cediam a pressões políticas. Pessoas como Drummond estão fazendo falta.
No ano passado foi realizada a:
“1st National Jatropha Conference, Exhibition, July 26-28, 2006 World Agro forestry Center (ICRAF) United Nations Avenue, Gigiri, Nairobi, Kenya.”
Destaco uma das apresentações dava como referencia: “Experiments of size of hollows, fertilization with superphosphate had been diverse facts, without superphosphate + manure, and others, looking for to follow the experience of the EPAMIG.”. Um excelente documento do histórico do pinhão manso no Brasil.
3-, “mas em nenhum deles esta cultura é tradicional, nem existem lavouras bem estabelecidas (com pelo menos 5 anos)”.
Na própria referencia inicial de Heller (1996) na pagina 34 mostra que o pinhão foi durante anos importante fonte de renda de Cabo Verde respondendo por parcela das receitas de exportação. Destinavam as sementes de purgueira para Portugal e a França. Não custa lembrar que Cabo Verde em um período do século XIX teve uma das maiores rendas per capita mundiais.
Talvez lendo o poema “Nós” de Cesário Verde; vocês encontrem alguma tradição:
“....Uma iluminação a azeite de purgueira, De noite amarelava os prédios macilentos. Barricas de alcatrão ardiam; de maneira Que tinham tons de inferno outros arruamentos. Porém, lá fora, à solta, exageradamente, Enquanto acontecia essa calamidade, Toda a vegetação, pletórica, potente, Ganhava imenso com a enorme mortandade!”
Ou na própria historia quando em 1836 nos anais da Câmara Municipal de Lisboa quando discutiram o aumento dos candeeiros de 1840 para 2300 todos alimentados a óleo de purgueira fazendo que a casa acumula-se uma divida de 131 791$00 réis e propunham a suas substituições.
Ou ainda quando em 1842 foi concedida a patente a um inventor português para “extrair o azeite da planta denominada purgueira”. Referiam-se a uma cultura tradicional da época purgueira = pinhão manso.
4- “não foram encontrados relatos científicos confiáveis que informem sua produtividade; há somente estimativas feitas com metodologia inadequada, como extrapolar a produção de uma planta isolada para produtividade em uma lavoura comercial (Heller, 1996)”.
Em nenhuma das 66 paginas do documento dado como referencia (Heller, 1996) localizei tal afirmativa. Gostaria que fosse nomeada a pagina onde o autor se expressa desta forma, e ver o contexto das razões para tal afirmação.
Sendo o Professor Joachim Heller um defensor ferrenho da cultura do pinhão manso (jatropha curcas) deste os tempos da GTZ em diversos trabalhos e publicações e hoje no IPGRI (FAO) e IPK me causou surpresa tal afirmação. Existem também trabalhos do Joachim Heller anteriores do combate às pragas e cuidados com a cultura da jatropha curcas.
É bom lembrar mais uma vez que a semente de purgueira foi a principal fonte de receita de Cabo Verde desde 1930 até meados de 1960 em certo período foram produzidas 5000 toneladas em um ano (Heller, 1996). Provando ser uma lavoura comercial.
5- “transesterificação do óleo.”.
Quais são as vossas duvidas?
6-“-o pinhão manso ainda não foi domesticado”
Parte do século XIX as cidades do Rio de Janeiro e Lisboa eram iluminadas com óleo de purgueira quando faltava óleo de peixe. Postes de ferro fundido com candeeiros dependurados. A purgueira fazia parte do farnel dos grandes descobridores portugueses que a levavam para todas as localidades onde pretendiam fincar raízes (vale a dupla interpretação).
7-“a cultura não possui um sistema de produção minimamente validado”
O pessoal de Cabo Verde deve ser notificado com urgência. Estão trabalhando a mais de um século e produzindo sementes com uma cultura não validada.
8-“e a colheita manual” e o que eleva o custo de produção”
A proposta do Governo é a agricultura familiar para gerar emprego e trabalho. Mas se for necessário existem possibilidades para colheitas mecanizadas neste caso seriam necessárias grandes plantações em extensas áreas.
Não me parece que o Governo esteja pensando em grandes áreas agrícolas individuais para a agricultura familiar. O argumento não tem consistência.
O equipamento de colheita mecanizada esta fora da realidade da agricultura familiar brasileira neste instante. Mas como recomendou o Dr. Octavio em 1986 à própria EPAMIG e EMBRAPA ser viável a mecanização não me parece existir empecilhos.
Até a presente data não vi por parte dos signatários criticas com relação à não mecanização das colheitas de mamona.
Quanto aos custos: os da mamona serão sempre superiores ao do pinhão manso. Mas com uma vantagem enquanto a mamona destrói, pois existe um limite do uso da sua torta como fertilizante, já o pinhão fertiliza e recupera o solo degradado evita a desertificação (Heller, 1996).
9-“no Brasil, não há mercado estabelecido para o pinhão manso, podendo haver poucos compradores e preços baixos ao produtor”
No Brasil existem atualmente projetos para produção de 2 bilhões de litros de biodiesel e a Petrobras será o grande comprador. Parece que vocês duvidam da capacidade de compra da Petrobras.
Caso algum de vocês queira produzir tenho comprador internacional para comprar até 300 000 toneladas ano de óleo de pinhão manso com garantias de banco de primeira linha europeu.
10- “Diante deste cenário, conclui-se que no Brasil ainda não é possível plantar pinhão manso de forma racional”
O que é racional? Mamona?
11- “No entanto, por se tratar de uma planta perene, que só estabelece a produção após o quarto ano, estima-se que serão necessários vários anos para que se disponha de informações mais seguras sobre a cultura.”
A produção se estabiliza a partir do quarto ano (depende irrigada ou não irrigada), mas nos anos anteriores é capaz de produzir mais que a mamona com um custo menor. Não devemos nunca, esquecer das rotações obrigatórias da cultura da mamona a cada 2 anos.
Do pinhão apresenta nas suas externalidades vantagem extraordinárias como: preservar a fertilidade do solo, combater à desertificação, resgatar terras degradadas, produzir fertilizante natural de excelente qualidade, possibilitar concorsiamentos diversos, fabricação de pesticidas orgânicos para pragas que atacam o algodão, bem como de sorgo e milho (Heller,1996).
Culturas perenes fixam os agricultores as suas propriedades e a presença do pinhão manso no futuro permitirá as autonomias energéticas das propriedades.
Paises com Índia, China, Indonésia, Malásia, Mali, Tanzânia, Alemanha, Itália, USA, Áustria, Gabão, Egito, Angola, Japão, África do Sul e muitos outros todos estão apostando no pinhão, mas como o pinhão pode ter origens no Brasil vai valer o ditado “santo de casa não faz milagre”.
Percebendo que o programa precisa urgentemente de novos ares. A FEPAD Fundação de Estudos e Pesquisas em Administração e Desenvolvimento da Universidade de Brasília realizou o seminário “Potencial do Pinhão Manso para o Programa Nacional do Biodiesel” com os apoios dos Ministérios da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento Agrário, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de Minas e Energia, da Petrobras, do Comitê Interministerial do Programa Nacional de Biodiesel da Casa Civil e da própria Embrapa.
Devemos sim agradecer em especial a todos os membros da corrente do pinhão manso aos Adãonetes, aos Trentos, aos Salemes, aos Ivans, os Drummonds, os Tominagas, a Heloisa com sua viagem homérica, aos Pedros, aos Lincolns, os Vedanas precursores e pioneiros, as Zenaides, aos Rossafas, aos Möllers e muitos outros não nominados que com esforços e recursos próprios continuaram a levar a bandeira do pinhão manso sem esmorecer apesar dos obstáculos naturais que toda cultura enfrenta e eventuais como este manifesto extemporâneo e inoportuno.
12- “Enfatiza-se ainda a necessidade de reforçar os investimentos em pesquisa para esta cultura, e sua manutenção por longo prazo, para que as atividades possam chegar a resultados definitivos, pois a interrupção desse apoio financeiro durante a execução do trabalho pode inviabilizar todo o processo.”
Afirmação que concordo sem nenhum questionamento principalmente pelo que já foi feito e o tempo perdido com a mamona.
Neddo Sandro Marcello Zecca mais um membro da corrente do pinhão manso.
Fonte:Portal do Agronegócio
Um comentário:
Qual a posição do governo federal em relação ás questões levantadas e aos FATOS narrados neste artigo/resposta?
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