Por Mario Osava, da IPS
Participantes da Conferência Internacional Rio + 15, que terminou quinta-feira no Rio de Janeiro, defenderam que a fome se deve à pobreza, sendo uma questão de falta de renda em vastos setores da população, e não da oferta de alimentos.
No último dia do encontro, realizou-se um painel sobre biocombustíveis. Expedito Parente, o engenheiro que criou e patenteou o biodiesel no Brasil, há 30 anos, e que agora lidera a empresa Tecbio Tecnologias Bioenergéticas, destacou que “expandir a bioenergia contribui, inclusive, para combater a fome, já que gera novos empreendimentos econômicos e empregos. Jorio Dauster, presidente da Brasil Ecodiesel, por sua vez, afirmou que o debate que opõe biocombustíveis a alimentos é “emocional”. Supondo que se proíba nesse setor o uso de matéria-prima alimentar, “não haverá redução da pobreza no mundo e o preço do petróleo subirá ainda mais, com mais guerras e fome”.
Para Dimitri Pauwels, da Virgin Fuels, muitos interesses em jogo atropelam um debate racional, quando o risco maior, a seu ver, são os subsídios, que não deveriam ser aplicados à produção de matéria-prima para biocombustível, porque distorcem o mercado e aumentam os preços dos alimentos.
A fome se deve à pobreza, é questão de falta de renda em vastos setores da população e não de oferta de alimentos, segundo participantes da Conferência Internacional Rio+15, que terminou quinta-feira no Rio de Janeiro com um painel sobre biocombustíveis. Expandir a produção de bioenergia inclusive contribui para combater a fome, ao gerar novos empreendimentos econômicos e empregos, destacou Expedito Parente, o engenheiro químico que criou e patenteou o biodiesel no Brasil há 30 anos e que agora formou a empresa Tecbio Tecnologias Bioenergéticas, que desenvolve o bioquerosene para aviação.
O debate que opõe biocombustíveis a alimentos é “emocional”, afirmou Jorio Dauster, presidente da Brasil Ecodiesel, firma pioneira que atua fortemente na produção de biodiesel. Supondo que se proíba nesse setor o uso de matéria-prima alimentar “não haverá redução da pobreza no mundo e o preço do petróleo subirá ainda mais”, com mais guerras e fome, disse Dauster no fórum que por dois dias reuniu uma centena de políticos, ativistas, empresários e acadêmicos brasileiros e estrangeiros que debateram os resultados da Cúpula da Terra, ou Eco 92.
Muitos interesses em jogo “atropelam um debate racional”, quando “o risco maior são os subsídios”, que não deveriam ser aplicados à produção de matéria-prima para biocombustível, distorcendo o mercado e aumentando os preços dos alimentos, disse, por sua vez, Dimitri Pauwels, da Virgin Fuels, empresa de investimentos em energia limpa que opera na Europa e nos Estados Unidos. “Biocombustíveis, oportunidades e impactos” foi o tema do último painel da conferência promovida pela Ecosecurities, empresa que impulsiona projetos que geram créditos de carbono dentro do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto.
Parente destacou o bioquerosene, outro invento seu a partir de óleos vegetais que provou ser efetivo em um primeiro vôo feito em 1984, mas que na época não prosperou. Agora, a idéia é ressuscitada pelo interesse das companhias aéreas, como a Boeing, que se vêem diante do desafio de garantir a disponibilidade de combustíveis adequados para os aviões que começam a ser construídos e têm, pelo menos, 30 anos de vida útil. Trata-se de um processo complexo, por envolver fabricantes de turbinas e muitos outros componentes de aviões que se modernizaram nos últimos anos. Porém, o cientista disse à IPS esperar que “dentro de dois ou três anos” o bioquerosene seja aprovado tecnicamente.
Suas matérias-primas principais serão óleos derivados de frutos de diversas palmeiras, com o coco da Bahia, na realidade proveniente da África, e outras nativas do Brasil, como o babaçu, abundante em uma extensa região do nordeste e norte do País. Há palmeiras de forte potencial produtivo, se forem domesticadas e melhoradas geneticamente para uma produção em grande escala, por isso os biocombustíveis representam uma excelente oportunidade para o desenvolvimento de seus cultivos, afirmou Parente. Em sua visão, os biocombustíveis cumprem primeiro uma missão ambiental, ao mitigar as mudança climática e a contaminação urbana. Eliminam grande parte das emissões de partículas que responde por boa parte das mortes nas grandes cidades em razão da chamada “tuberculose moderna”, explicou.
A missão social, de gerar “oportunidades de emprego e renda”, é favorecida pelo fato de, no geral, os biocombustíveis terem preços firmes, ao contrário de produtos alimentícios. Constituem também um item estratégico, ao “preparar o mundo para o fim da era do petróleo”, em transição para a “era solar” da qual fazem parte a bioenergia e outras fontes renováveis”. A polêmica dos biocombustíveis tende a acabar com o tempo e os ajustes no mercado. É uma “questão economia, não ética”, afirmou Dauster. As empresas dedicadas as sua produção “querem ser menos vulneráveis às oscilações do mercado”, não estando sujeitas a acusações e pendências do setor alimentar, acrescentou, mas, admitiu que é prematuro dizer quais matérias-primas serão as principais do setor.
Inicialmente predomina a soja, que não apresenta a melhor eficiência energética, mas é a que dispõe de estrutura produtiva em 20% a 30% do total de suas matérias-primas, disse Dauster à IPS. O girassol é uma excelente matéria-prima, mas sua produção era quase nula no Brasil e somente agora, com o biodiesel, ganha novas perspectivas de expansão, inclusive em combinação com a soja e outros cultivos de verão, acrescentou. O rícino passou a chamar a atenção, mas, até agora relegada, sua produtividade no País chega a apenas 500 quilos por hectares, menos da metade registrada na Índia, afirmou o presidente da Brasil Ecodiesel.
As possibilidades são numerosas e incluem também o algodão, que em muitos casos tinha suas sementes jogadas fora ou destinadas inadequadamente à alimentação do gado. Porém, tudo isso exige uma nova estrutura produtiva, com a instalação de indústrias de óleo, e a eliminação de distorções na economia brasileira, que favorecem, por exemplo, a exportação de soja em grão, em lugar do óleo, concluiu Duaster, que é ex-diplomata. Além dos biocombustíveis, outro tema sensível no Brasil, o uso da terra, mereceu um painel no qual se defendeu a necessidade de fortalecer a “economia das florestas em pé” para reduzir o desmatamento, principal contribuição brasileira ao aquecimento global.
Virgilio Vianna, secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, informou sobre iniciativas de seu governo em favor da conservação das florestas. A Lei Estadual de Mudanças Climáticas, a primeira adotada no Brasil, fortalece as áreas de conservação, cria um fundo para financiar projetos nessa área e forma de remuneração por serviços ambientais. Além disso, cria a “bolsa-florestal”, que estabelece o pagamento mensal às famílias que se comprometem com o “desmatamento zero” em suas terras, manter os filhos na escola e participar de ações comunitárias. “Promovemos essas políticas estaduais como forma de influir em políticas nacionais”, afirmou Vianna à IPS. É um movimento do Estado do Amazonas, cujo território equivale e mais do que toda a América Central e 50% mais do que a Indonésia, uma medida semelhante à implementada no Estado norte-americano da Califórnia, acrescentou.
(Envolverde/ IPS)
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