A partir de restos gordurosos de animais, pesquisadores da Universidade de Brasília conseguiram obter um combustível renovável muito parecido com o diesel comum, que não exige adaptação de motores e pode melhorar a vida de moradores de comunidades isoladas, que dependem do diesel para gerar energia. Batizado de “bio-óleo”, ele rendeu um prêmio da Petrobrás ao autor do projeto.
Diferente do biodiesel comum, o bio-óleo não é feito a partir de plantas, mas de restos de animais, e também de soja. “Usamos uma série de resíduos dispensados pelas indústrias”, explicou o autor da pesquisa, André Santos ao G1. “De frangos, utilizamos absolutamente tudo que você não encontra no supermercado: peles, penas, vísceras, miúdos. Usamos também sebo de boi e a borra que sobra do processo de retirada da acidez da soja”, conta.
O combustível é considerado “renovável” porque a soja e as plantas consumidas pelos animais utilizados absorvem carbono da atmosfera. Ou seja, o bio-óleo não só libera dióxido de carbono quando queima, mas, antes de tudo, o consome. Isso não acontece com combustíveis comuns, derivados de petróleo. O carbono que eles liberam na atmosfera passou séculos preso debaixo do solo. Na atmosfera, ele se torna um “extra”, que acaba contribuindo para o aquecimento global.
Por não ser feito a partir de plantas, mas de resíduos gordurosos, o bio-óleo de Santos é quimicamente bem parecido com o diesel. Para conseguir isso, a matéria-prima passa por um processo chamado “craqueamento térmico”. Seu objetivo é quebrar as moléculas de gordura, através do calor, e transformar os triglicerídeos em hidrocarbonetos -- o mesmo composto químico do petróleo.
Aquecida a mais de 400ºC, toda a gordura se liquefaz e, logo em seguida, vira vapor. “Esse vapor já é combustível”, diz Santos. O gás formado é, então, resfriado, em contato com o ambiente, e se liquefaz novamente. A água formada no processo (cerca de 15% do total) é retirada. Todo o resto é combustível -- a maior parte, bio-óleo, parecido com o diesel; uma pequena porção, no entanto, é de um combustível com cadeias de carbono menores, mais parecido com a gasolina.
Com as mesmas propriedades químicas do diesel, o bio-óleo não exige qualquer adaptação. Apesar disso, André Santos não acredita que ele será útil em larga escala. “O objetivo não é abastecer metrópoles. Não tem porquê. As cidades têm outros meios limpos de obter energia”, afirma. “O que gostaríamos que acontecesse é que pequenas unidades geradoras de bio-óleo fossem montadas em comunidades isoladas, que dependem do diesel para gerar energia, e que pagam muito caro, bem acima da média das cidades, por isso”, diz ele.
“Acreditamos que o bio-óleo pode servir bem às necessidades de pequenos produtores, que têm sua criaçãozinha ali, de onde pode retirar a gordura, e que precisa de energia confiável. A idéia é ajudar a agricultura familiar”, afirma Santos.
O pesquisador alerta, no entanto, que apesar do combustível ter se mostrado eficaz e seguro nos testes, ele ainda não foi regulamentado pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). “Estamos no aguardo”, diz ele. (Udop, O Globo Online, 26/10/06)
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