Silenciosamente observadas, as novas tecnologias brasileiras já são vedetes no multibilionário setor energético mundial. O neonato H-Bio, da Petrobras, é considerado uma revolução nos fóruns energéticos.
A ministra do Desenvolvimento Sustentável da Suécia, Mona Sahlin, afirmou em entrevista ao jornal The Guardian: "Deve sempre haver alternativas para o petróleo, nenhum motorista deveria ter somente gasolina para abastecer seu carro. Queremos estar mentalmente e tecnicamente preparados para um mundo sem petróleo". Sahlin, titular da nova pasta criada para substituir o Ministério do Meio Ambiente, acredita que a dependência do seu país ao petróleo poderá acabar em 2020. Hoje, 30% da energia do país vem de fontes renováveis.
Sintonizada nas ações globais, a renomada Academia Real de Ciências da Suécia, responsável pelos prêmios Nobel, estuda a correlação do petróleo com mudanças climáticas, flutuação dos preços, recessão econômica global e movimentos inovadores de players da economia energética mundial, entre eles os da Petrobras.
O relatório Estado do Mundo 2005, do WWI-Worldwatch Institute (download gratuito em português no site http://www.wwiuma.org.br), resume os custos e riscos do uso do petróleo em três categorias. Concluindo que o ponto que fez com que o petróleo outrora tenha nos ajudado a garantir a segurança humana, hoje nos tornou mais vulneráveis, afirmam os pesquisadores.
Biocombustíveis podem reduzir significativamente a dependência global do petróleo.
Enquanto o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) informa que investimentos do setor de petróleo no Brasil deverão alcançar US$ 100 bilhões na próxima década, 75% oriundos da Petrobras, o relatório intitulado "Biocombustíveis para o Transporte", produzido pelo WWI em conjunto com a GTZ e FNR, agências alemãs de cooperação, revelam que os biocombustíveis poderiam prover 37% de combustível de transporte norte-americano dentro dos próximos 25 anos (os EUA usam 43% da gasolina do planeta para movimentar 5% da população global), e de 20 a 30% na União Européia.
Com a pressão dos preços do petróleo e a contabilização dos prejuízos das mudanças climáticas, a comunidade internacional passou a prospectar potenciais pólos para rotas de capitais voltados à bioenergia.
Os biocombustíveis abrem janelas para investimentos internacionais no Brasil, país pouco conhecido, e o pouco ainda dominado por notícias negativas na imprensa internacional.
Na corrida por energias limpas, a Europa produz 95% do biodiesel do mundo, a Alemanha com mais da metade e o resto dividido entre Itália e França. A demanda mundial de álcool é de 120 bilhões de litros por ano.
O Brasil, que lidera o mundo nas safras sucroalcooleiras com a produção de cana-de-açúcar em cerca 6 milhões de hectares, produzindo 400 milhões de toneladas de cana e 16 bilhões de litros de álcool, exibe o status de único país do mundo com possibilidades de grande expansão no cultivo da cana-de-açúcar, com 89 projetos de usinas, um investimento estimado em US$ 13 bilhões.
Hoje, cerca de 700 mil brasileiros estão ocupados na cultura da cana-de-açúcar.
Como juntar as oportunidades da corrida mundial por biocombustíveis e o potencial do capital natural do Brasil, maior potência bioenergética do planeta, investindo em inovações tecnológicas para otimizar a produtividade no novo paradigma de econegócios, gerando lucro social, econômico e ecológico de forma integrada?
Como será que a Petrobras (51º lugar entre as maiores empresas do mundo e 14º entre as petrolíferas) usará os trunfos e os coringas, que só o Brasil tem, para posicionar-se neste jogo de desenvolvimento limpo?
O plano de negócios da empresa para o qüinqüênio 2007-2011, com foco alargado em energias renováveis, visa liderar a produção nacional de biodiesel e ampliar significativamente a participação no etanol. Investimentos realizados em redes de tecnologia, pessoal e em energias alternativas buscam superar desafios tecnológicos dos próximos anos.
Apostando na integração e na sinergia das redes, o projeto que pode ser chamado "Petrobras 2020" prevê o fortalecimento dos centros regionais de pesquisa e a formação de cadeias de fornecedores onde, além das grandes, micro e pequenas empresas são incluídas.
Uma visão inovadora da economia bioenergética que usa a força do petróleo e vai além, investindo em conhecimento aplicado, matéria-prima para a paulatina transição do modelo centrado nas energias fósseis para as renováveis.
A Academia Real de Ciências da Suécia, nos seus discretos movimentos, acompanha a criatividade e a flexibilidade com que o Brasil, signatário das Metas do Milênio, da ONU, aparelha-se para usufruir do seu potencial bioenergético, contribuindo para a melhoria da economia, da sociedade e da sustentabilidade do planeta.
Os resultados das suas observações só os seus membros, no momento oportuno, podem revelar.
Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil. Artigo publicado no
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