quarta-feira, 25 de abril de 2007

Usina de biodiesel: como ficam os pequenos produtores?

Na edição do último dia 15 de abril, li neste prestigioso matutino que a Coplacana (Cooperativa dos Plantadores de Cana) construirá uma usina de biodiesel em Piracicaba, que deverá entrar em operação em janeiro do próximo ano, com um investimento inicial de R$ 8 milhões (cerca de US$ 3,7 milhões). A capacidade da usina, da ordem de 45 mil litros/dia, será obtida sob demanda de 300 toneladas/dia de matéria-prima (grãos de soja), o que exige uma área plantada de 35 mil hectares dessa oleaginosa.

Segundo o coordenador do Pólo Nacional de Biocombustíveis, o professor Weber Neves do Amaral, da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) /USP (Universidade de São Paulo) esta “é a única oportunidade para pequenos agricultores de cana terem controle de uma etapa importante da cadeia produtiva”. Informa também o professor Weber, que a equipe do pólo colaborou com o Plano de Negócios da usina, do ponto de vista agrícola, com relação às áreas necessárias, às matérias-primas, ao momento de a Coplacana entrar no mercado, e como os agricultores poderiam estar diversificando a sua produção.

A nosso ver, trata-se de iniciativa que implica em promover a substituição da cultura canavieira, de caráter semiperene (planta-se num ano e colhe-se pelos seguintes três, cinco anos), por cultura de plantas oleaginosas anuais (planta-se e colhe-se todo ano). É preciso deixar bem claro que a experiência brasileira com lavouras anuais tem provado, já desde longa data, que é fundamental o uso da técnica do plantio direto, tendo em vista a sensível redução nos custos de produção e o efeito altamente significativo na conservação do solo.

Todavia, essa técnica de plantio direto na palha, além de exigir conhecimentos agronômicos específicos, requer o uso de semeadoras especiais. Assim, essa migração requer investimentos tanto em reciclagem de conhecimentos como em equipamentos, totalmente diferentes dos típicos da lavoura canavieira.

Por outro lado, a colheita de oleaginosas (soja, girassol, amendoim) exige o uso de colheitadeiras combinadas, cujo investimento tanto em maquinaria como em adequação das áreas à colheita mecânica são em muito semelhantes às de colheita de cana-de-açúcar. A colheita manual e o uso de trilhadoras, no caso de soja e girassol, têm custos que inviabilizam essa prática para os pequenos produtores. Por outro lado, a mamona, embora possa ser colhida manualmente, exige máquina descascadora especial que não danifique as sementes, dado o risco de rancificação.

Tudo leva a crer que o Plano de Negócios de que fala a notícia sobre o tema, tenha sido elaborado criteriosamente e incluído estudos sobre as condições de produção das oleaginosas, na área de suprimento de matéria-prima da usina de biodiesel, ou seja, em nosso município e região.

Por se tratar de documento da mais alta importância para avaliação dos impactos socioeconômicos e ambientais, é da mais alta importância ser do conhecimento público, pois se trata de iniciativa que, certamente, terá reflexos na comunidade agrosilvopastoril do município.

Assim sendo, cabe-nos, como legisladores, solicitar informações ao Poder Executivo sobre a obra; sua conformidade com as normas legais vigentes e dos estudos sobre a probabilidade de seu impacto ambiental, uma vez que envolve instalação de duas unidades industriais interligadas (de extração de óleo e de produção de biodiesel) com manejo de resíduos. Uma geração de atividade agrícola que certamente envolverá o uso de sementes transgênicas e de defensivos químicos diferenciados.

Por outro lado, para que possamos fazer um estudo detalhado desse projeto, vamos solicitar à diretoria da Esalq a cópia do Plano de Negócios elaborado pelo Pólo Nacional de Biocombustíveis para a Coplacana, tendo em vista nossa ação política em defesa dos pequenos produtores rurais, que procuram adequar-se à atual legislação ambiental e praticar uma agricultura sustentável.
Fonte: Jornal de Piracicaba

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