segunda-feira, 23 de abril de 2007

Com terras disponíveis, Brasil é "celeiro" para alimentos e bioenergia

Nos 14 países de maior área agrícola no mundo, 49% das terras agricultáveis ainda estão disponíveis para plantio. Poucos, contudo, têm potencial para expandir fortemente o cultivo de grãos, de forma que a oferta possa atender à simultânea - e crescente - demanda das áreas de alimentos e biocombustíveis. Esta é a principal conclusão de um estudo, recém-concluído, do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa), vinculado à Fundação Instituto de Administração (FIA/USP). O estudo é baseado em dados da FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura.

Segundo o levantamento, de 1,862 bilhão de hectares de terras aráveis distribuídas em países como Brasil, EUA, Rússia, Índia, China, além da União Européia, 917,7 milhões não são aproveitados para produção agrícola. O problema, aponta Marcos Fava Neves, coordenador do Pensa, é que nas regiões onde os planos de expansão do plantio para atender ao setor de biocombustíveis são mais ousados não há área disponível em amplitude suficiente. Exceto no Brasil.

Na União Européia, a meta é adotar uma mistura de 5,75% de etanol na gasolina a partir de 2010, e o mesmo percentual para a mistura de biodiesel no diesel. Em 2020, os índices serão elevados para 10%. Para atender a essas demandas obrigatórias, o bloco terá que reservar, em 2010, 22,7% de sua área agricultável para produzir grãos destinados a biocombustíveis. Em 2020, a área para agroenergia terá de ocupar 38,4% das lavouras européias para atender à demanda doméstica.

Atualmente, a UE cultiva 102,9 milhões de hectares e tem 16,3 milhões de hectares disponíveis, ou 15,8% da área total agricultável - suficiente para atender à primeira fase de expansão, mas não a segunda. "Hoje a Europa já não tem área disponível para fazer essa ampliação. Muito se fala na Rússia, que conta ainda com mais de 87 milhões de hectares disponíveis, mas há uma grande restrição climática e problemas fitossanitários sérios no país", disse Fava Neves durante seminário realizado em São Paulo.

Estudo realizado pela RC Consultores com base em dados da FAO revela que, até 2013, a União Européia terá uma demanda obrigatória de 18,4 bilhões de litros de biodiesel para consumo interno por ano, mas terá capacidade para produzir apenas 6,3 bilhões. A Europa já é grande importadora de óleo de palma da Malásia para a produção de biodiesel, o que, associado ao plano do país de produzir 5 bilhões de litros ao ano para uso próprio, tem levado os preços da commodity a recordes históricos. "Na Índia e na Malásia não há área para expansão agrícola. Na China, eles enfrentam um sério problema com a falta de água, e na Austrália tem a seca. Restam os países da África, que têm políticas complicadas, e o Brasil", afirmou Fava.

Ainda conforme a RC, Europa, EUA e Brasil demandarão juntos, em 2010, 11 bilhões de litros de biodiesel por ano, o que equivale a uma produção de soja de 61,1 milhões de toneladas ou uma área próxima a 22 milhões de hectares.

Nos EUA, a meta é elevar o consumo de biocombustíveis, até 2012, dos atuais 4,7 bilhões de galões (17,8 bilhões de litros) para 35 bilhões, ou 132 bilhões de litros - sendo que 90% desse volume será de etanol. "Os EUA vão precisar ampliar a área plantada com milho em 145% [46,11 milhões de hectares adicionais] para garantir esse volume e eles não têm terras apropriadas em disponibilidade para isso", acrescentou Marcos Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Ícone). Ele observa, no entanto, que o país tem restrições climáticas para essa ampliação.

A RC indica que a demanda extra de etanol pelos principais países consumidores de combustíveis fósseis deve chegar a 44,3 bilhões de litros por ano em cinco anos - 7,4 bilhões de litros na UE, 4,5 bilhões na China e 30 bilhões nos EUA. Hoje, o consumo global é de 55 bilhões de litros por ano. "Poucos países têm condições de oferecer produção de grãos e cana suficiente para atender aos mercados de alimentos e energia. O Brasil é um deles, basta fazer um bom planejamento dessa expansão", afirmou Fava Neves.

Na área de alimentação, a FAO estima que, até 2020, a população global passará de 6,2 bilhões de pessoas para 8,3 bilhões e, com esse crescimento, a demanda por alimentos se expandirá de 2,45 bilhões de toneladas de alimentos, para 3,97 bilhões. Isso significa que será necessário dobrar a produção agrícola mundial em 13 anos. "Os países terão que reavaliar as áreas utilizadas na produção e investir em produtividade, para evitar forte pressão de demanda", alerta Tito Díaz, diretor de produção animal e saúde da FAO.

com informações do

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