segunda-feira, 6 de novembro de 2006

A política para os combustíveis


Não se justifica a decisão do governo de aumentar de 20% para 23% a proporção de álcool anidro misturado à gasolina a partir de 20 de novembro. Ela atende, prioritariamente, às conveniências dos usineiros e, secundariamente, às da Petrobrás, mas não aos consumidores de veículos movidos a álcool ou bicombustíveis.

Na safra é normal a queda de preços. Mas os usineiros pretendiam a elevação da adição do álcool para 25%, assegurando um comprador cativo para o excedente. Segundo o jornal Valor, de 1/11, foram contrários à concessão tanto o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, como técnicos da pasta. A decisão, política, foi da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que interveio a favor dos produtores.

Os usineiros já são beneficiados pela demanda externa. As exportações de álcool etílico, entre janeiro e outubro, atingiram US$ 1,33 bilhão, com crescimento de 120% em relação ao mesmo período de 2005.

A política para o álcool depende não só do mercado - no caso, dominado por poucas empresas e, portanto, imperfeito -, mas da existência de estoques reguladores, cuja formação é responsabilidade do governo. Assim se atenderia à demanda na entressafra, quando os preços tendem a subir.

No primeiro trimestre, em plena entressafra, o litro do álcool chegou a R$ 1,22 para o produtor e R$ 2 para o consumidor. Não foi cumprido acordo entre governo e produtores para estabilizar preços.

Em março, o governo determinou a redução de 25% para 20% na adição, o que ajudou a derrubar os preços do álcool - e da inflação. Num único mês (janeiro) o álcool teve impacto de 0,1 ponto porcentual na inflação medida pelo IPCA de 15/1.

Agora, espera-se pequena redução dos preços da gasolina, em contrapartida à elevação dos preços do álcool, que afetará os proprietários de veículos flex fuel novos e seminovos.

A Petrobrás poderá manter, sem maiores críticas, sua política para a gasolina voltada para adequar os preços internos aos externos, apenas no longo prazo. Os preços da gasolina cairão nas bombas sem afetar o preço de realização das refinarias, ou seja, sem prejudicar os resultados da estatal, que recuperará o que deixou de ganhar quando manteve os preços, apesar da alta do petróleo. A estatal também terá mais petróleo e derivados para exportar.

Faltando pouco para um novo período de entressafra, o aumento da adição de álcool ajuda a poucos.

04/11
Fonte: O Estado de S. Paulo

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