quarta-feira, 7 de maio de 2008

É sacanice mesmo

No festejado Dicionário Aurélio, sacanagem significa procedimento ou dito de sacana; sacanice, devassidão, bandalheira, libertinagem, ou, na culinária, salgadinho feito com salsicha, queijo, pimentão, etc., espetados num palito. Foi esse o termo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou ontem em Manaus para rebater o que classifica de campanha dos países ricos contra os biocombustíveis brasileiros, que, em dizer de seus “especialistas”, afetariam a produção de alimento no mundo.

Além de considerar “sacanagem pura e malandragem pura” contra o Brasil, Lula foi mais incisivo sobre o que muita gente vem falando a respeito da devastação da Amazônia para produção de cana-de-açúcar e etanol. “Nunca vi tanta gente dando palpite. Se eles cuidassem da floresta deles, como querem cuidar da nossa, não seriam países carecas, porque já desmataram tudo. (...) Não queremos que palpiteiros venham aqui dizer o que devemos fazer. Quando a gente quiser conselho, a gente pede. Quando a gente quiser opinião, a gente pede”, contra-atacou Lula.

Seja como for, a reação do presidente tem que ser dura e imediata. Ela vem no momento em que o petróleo bate sucessivos recordes de preços, o mundo se debate sobre a inflação dos alimentos, enquanto países do chamado primeiro mundo usam os biocombustíveis como bode expiatório para a fome em países miseráveis e emergentes – um problema que, historicamente, nunca incomodou os ricos da Europa ou dos Estados Unidos. Muito pelo contrário.

Agora, de repente, o problema do aumento dos preços dos alimentos no mundo chama a atenção para a tecnologia do etanol, dominada pela indústria brasileira e capaz de superar os combustíveis fósseis no tanque dos automóveis. Isso preocupa mesmo. Se não, organismos internacionais, como a própria ONU, encontrariam outros pretextos para justificar a omissão e indiferença que sempre tiveram com relação à fome no Planeta.

Na realidade, o consumo de alimentos tem aumentado em proporção maior do que a capacidade de produção dos campos agrícolas. O de arroz, por exemplo, excede a atual produção, havendo o risco de mais de 1 bilhão de pessoas ficarem desnutridas. E a sugestão desses organismos internacionais é no sentido de se fazer uma moratória na produção de biocombustíveis para aumentar a área plantada, principalmente de grãos. Contudo, no Brasil em particular, apenas 2 % da área agricultável é utilizada na produção de cana-de-açúcar para álcool. Mas eles querem boicotar a concorrência do combustível limpo.

No Maranhão, esse percentual é ainda muito mais ínfimo. Daí a urgência na definição e implantação de uma política agrícola agressiva, tecnologicamente avançada e capaz de atender à demanda interna de alimentos. Esse imenso mercado em evolução e ebulição em busca do que comer não tem volta. A tendência é crescer, e para atendê-lo é necessário planejar e agir. Terra existe, o clima é dos melhores e mão-de-obra no campo não falta.

Nunca no Maranhão as condições estiveram tão favoráveis ao desenvolvimento de uma agricultura sustentável e capaz de garantir o abastecimento da panela do maranhense, sem precisar importar arroz do Vietnã, farinha do Pará, feijão da Bahia e melancia do Rio Grande do Norte. O Maranhão tem como inverter esta realidade. Só falta começar a botar a mão na massa.


Editorial
Fonte: O Imparcial - MA

Nenhum comentário: