quarta-feira, 11 de junho de 2008

Soja X Biodiesel : uma relação previsivel!

Quando em novembro do ano passado publicamos a matéria "Uso da soja como matéria-prima para a produção de biodiesel", levantávamos algumas questões sobre os problemas que o Brasil enfrentaria com a opção, em nossa opinião, equivocada, da escolha da soja como principal fonte de matéria-prima do biodiesel. De lá para cá, não só a opção foi confirmada, como o equivoco da sua escolha também. Veja na matéria abaixo do Estado de São Paulo:

A disparada dos preços dos alimentos vem provocando mudanças na estratégia da Petrobrás para os biocombustíveis. A empresa decidiu se focar na pesquisa de oleaginosas que não concorram com a indústria alimentícia, evitando a soja, hoje principal matéria-prima do biodiesel do País.

Além disso, mantém suspensa a produção de H-Bio, combustível lançado em 2006, que consiste na produção de diesel de petróleo com uma mistura de 10% de óleo vegetal, também proveniente da soja.

“Nossa política é tentar não usar matéria-prima alimentícia, para evitar competição com a comida”, afirma Cyntia Maria Xavier da Silva, da área de biocombustíveis da estatal. Em relatório divulgado ontem, o Banco Merril Lynch destaca que a produção de biocombustíveis tem contribuído para garantir o crescimento do consumo de energia no mundo, mas concorda com as avaliações de que há impactos nos preços dos alimentos.

“Nós estimamos que a crescente produção de etanol a partir do milho nos Estados inflacionou os preços do milho em 21% desde 2004”, diz o texto, assinado pelo chefe da área de commodities do banco, Francisco Blanch.

A Petrobrás diz que, por questão de responsabilidade social, decidiu focar suas pesquisas nas matérias-primas alternativas, como a mamona. Em palestra na segunda-feira, Cyntia citou ainda o babaçu, árvore muito comum no Tocantins, como possível fonte de combustível ainda pouco pesquisada no Brasil. “Não existem pesquisas sobre o potencial energético do babaçu”, disse.

As novas matérias-primas podem ser usadas nas fábricas de biodiesel da Petrobrás ou na produção do H-Bio, em substituição ao óleo de soja. Lançado com festa em maio de 2006, o H-Bio teve sua produção interrompida em meados do ano passado em razão da disparada dos preços do óleo de soja. Três refinarias foram preparadas para produzir o combustível e outras cinco estão em processo de adequação.

Cyntia afirmou, porém, que a produção se limitou a alguns lotes. Isso porque a companhia não consegue repassar o alto preço do óleo de soja ao diesel final vendido nos postos. Segundo dados do Centro Avançado em Pesquisa Econômica Aplicada (Cepea), da USP, a cotação do óleo de soja no Porto de Paranaguá ronda hoje os R$ 2,7 mil por tonelada, ou R$ 1 mil a mais do que o vigente quando a estatal decidiu pela suspensão da produção de H-Bio.

O biodiesel se tornou obrigatório no Brasil em janeiro deste ano, a uma razão de 2% de óleos vegetais em cada litro de diesel vendido nos postos, o que garante um consumo de 800 milhões de litros por ano. É consenso no mercado que o óleo de soja é a matéria-prima mais competitiva para abastecer grande parte dessa demanda. Em julho, o volume de mistura obrigatória passa para 3%. Estima-se que cerca de 80% do biodiesel vendido no País seja feito com soja.

Nicola Pamplona
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