segunda-feira, 28 de abril de 2008

Saiba o que se disse sobre biocombustíveis e crise dos alimentos

- ONU, Bird e mídia internacional criticaram modelo do Brasil
- Governo brasileiro e União Européia defendem a produção dos biocombustíveis

A discussão sobre a crise mundial dos alimentos e a polêmica sobre a produção de biocombustíveis retomou fôlego ainda no fim de março, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou "emergência global", com a alta nos preços de alimentos em todo o mundo, afirmou que a alta no preço de alimentos deve durar até 2010 e que o estoque mundial de alimentos é o menor em 30 anos. A ONU declarou também que a estabilidade global está ameaçada pela alta no preço dos alimentos.

Na última semana, no entanto, o debate esquentou com declarações de outros organismos mundiais como Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), da mídia internacional e do governo brasileiro.

O FMI foi o primeiro a se manifestar sobre o problema da crise dos alimentos. No dia 10 deste mês, o diretor-gerente do fundo, Dominique Strauss-Kahn, afirmou que a inflação pode ter voltado ao mundo por conta da alta dos preços dos alimentos, apesar da desaceleração generalizada da economia.

O Bird fez críticas mais duras e foi criticou diretamente a produção dos biocombustíveis. "Os biocombustíveis são sem dúvida um fator importante" no aumento da demanda em produtos alimentares, afirmou o presidente do banco, Robert Zoellick, em entrevista à rádio pública americana NPR.

No dia seguinte (11), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, na Holanda, que a elevação mundial do preço dos alimentos é uma "inflação boa", que "convoca" os países a produzir mais e atender à demanda por alimentos no mundo.

'Crime contra a humanidade': A ONU voltou a se pronunciar na última segunda-feira (14), o dia mais quente do debate, quando o relator especial para o Direito à Alimentação, o suíço Jean Ziegler, em entrevista a uma rádio alemã, declarou que os biocombustíveis são um "crime contra a humanidade".

No mesmo dia, a União Européia se pronunciou a favor da produção dos biocombustíveis e disse não ver relação com a produção de alimentos. "No momento, não há hipótese de suspendermos a meta de biocombustível", afirmou Barbara Helfferich, porta-voz da Comissão Européia sobre o meio ambiente.

"Realmente não vemos um perigo enorme, dentro do contexto da UE, de uma grande mudança da produção de alimentos para a produção de biocombustível", disse Michael Mann, porta-voz de agricultura da comissão.

O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, declarou que a produção de biocombustíveis no Brasil não concorre com a de alimentos.

Mídia internacional: Na terça-feira (15), o jornal britânico "The Independent" publicou reportagem em que dizia que a experiência do Brasil com o etanol pode servir como um exemplo para o mundo das desvantagens apresentadas pela suposta "revolução energética" criada pelos biocombustíveis.

Governo brasileiro: Na última quarta (16), o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, defendeu o programa brasileiro de desenvolvimento de biocombustíveis e disse que a produção de etanol no país é compatível com a de alimentos.

O ministro de Minas e Energia, Edson lobão, também se manifestou. “Aqueles que nos criticam não estão produzindo biodiesel. Não seríamos irresponsáveis de prejudicar a produção de alimentos, mas não vamos deixar de fazer o que é certo porque estamos sendo criticados por estrangeiros com interesses específicos”, afirmou.

Na quarta-feira (16), foi a fez de o presidente Lula rebater as críticas de Ziegler. Sem citar o relator da ONU, Lula disse que “é muito fácil alguém ficar sentado num banco da Suíça dando palpite no Brasil ou na África”.

'Pior está por vir': Na última sexta-feira (18), o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse temer que "o pior" ainda esteja por vir nos distúrbios causados pela crise alimentícia em países pobres."Nas revoltas da fome, o pior, infelizmente, talvez esteja à frente de nós", disse.

O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Jacques Diouf, declarou que a alta dos alimentos só será enfrentada com vontada política.

"Tudo vai depender das ações políticas e das ações humanas como respaldo a essa vontade política. Se colocarmos mais recursos na agricultura, se colocarmos mais recursos na agricultara familiar, se podemos assegurar que os produtores pobres terão acesso aos insumos... podemos mudar a situação", afirmou o chefe da FAO, acrescentando que essas mudanças não podem ser colocadas em prática "em dias".

Fonte : O Estado de S. Paulo.

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