sábado, 26 de abril de 2008

Itamaraty pede que FMI combata subsídios agrícolas, e não bioenergia

O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) pediu nesta sexta-feira que organismos multinacionais, como o FMI (Fundo Monetário Internacional), combatam os subsídios agrícolas na Europa e nos Estados Unidos, em vez de atacar a bioenergia e vinculá-la à atual crise dos alimentos.

"Se o Fundo Monetário Internacional pode ajudar a conseguir que os países mais ricos eliminem os subsídios a suas ineficientes agriculturas, dará muito mais" do que quando critica a produção de biocombustíveis, disse Amorim a jornalistas.

O ministro das Relações Exteriores fez essas declarações dentro da 30ª Conferência Regional para a América Latina e o Caribe da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), que terminou nesta sexta em Brasília.
Celso Amorim contestou as afirmações do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, que disse nesta sexta-feira, em Paris, que "o pior" pode estar por vir na crise alimentícia global, e considerou também que os biocombustíveis produzidos com alimentos colocam "um verdadeiro problema moral".

Segundo Amorim, o Brasil --como grande produtor de álcool de cana-de-açúcar e de biodiesel-- é uma prova de que, se são produzidos com consciência ambiental e sem descuidar da segurança alimentar, os biocombustíveis ajudarão ao desenvolvimento dos países mais pobres.

"Produzir biocombustíveis na Europa seria absurdo", disse o chanceler, mas acrescentou que "não é no Brasil, na África ou na América Latina", regiões cujo potencial agrícola está reprimido devido aos "subsídios que o mundo desenvolvido concede à sua agricultura".

"O que o mundo deve discutir é a eliminação total desses subsídios, e não a eliminação dos biocombustíveis", afirmou.

Nesta semana, a bioenergia tinha sido condenada também pelo relator da ONU, Jean Ziegler, que disse que a produção e o uso de biocombustíveis se transformaram em um "crime contra a humanidade", devido aos problemas atuais com o aumento dos preços dos alimentos.

Na semana passada, o presidente do Bird (Banco Mundial), Robert Zoellick, afirmara que o forte aumento da produção de biocombustíveis nos Estados Unidos e na Europa é um fator importante da disparada dos preços dos alimentos no mundo.

Reação

Em resposta às declarações de Jean Ziegler, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na quarta-feira (16) que descartar a produção de biocombustíveis é o "verdadeiro crime contra a humanidade".

No mesmo dia, Lula chamou de "palpiteiros" os que têm relacionado a alta dos preços dos alimentos com a produção de biocombustíveis. "É muito fácil alguém ficar sentado em um banco da Suíça e ficar dando palpite no Brasil e na África. É preciso vir aqui meter o pé no barro", disse o presidente.

Lula disse que a alta recente nos preços dos alimentos não tem uma única explicação. Entre as causas, o presidente relacionou o aumento no preço do petróleo, a quebra em safras de mundo todo, o aumento no valor dos fretes, as variações cambiais, a especulação financeira e o aumento no consumo em países como China, Índia e da África e América Latina.

O presidente cobrou a criação de políticas globais para a segurança alimentar e criticou o protecionismo e os subsídios agrícolas nos países ricos. Ele ressaltou que o sucesso da Rodada Doha depende da abertura do mercado agrícola europeu e da redução de subsídios na Europa. "O Brasil não precisa ganhar, mas a Europa e os Estados Unidos precisam ceder e os países pobres ganharem", concluiu.

Lula criticou ainda o FMI, a quem acusou de não ter dado "uma única opinião" sobre a crise americana e disse que os países desenvolvidos só reagem em situações de emergência.

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