quinta-feira, 3 de abril de 2008

Aproveitamento de subproduto do biodiesel produzirá energia elétrica

Assim como já ocorre com a cana-de-açúçar, que gera, além do álcool, energia do bagaço e da palha, plantas oleaginosas e gorduras usadas como matéria-prima na produção de biodiesel vão fornecer também eletricidade. A equação é simples: cada litro de biodiesel produzido 300 mililitros de glicerina, em parte descartada, em parte usada pela indústria de cosméticos. O problema é que a necessidade de glicerina tem limite, o que provocará uma grande quantidade de rejeito, principalmente depois que o País adotar a adição de 5% de biodiesel ao diesel, em 2013. No lugar de jogado num aterro industrial, o resíduo pode virar biogás, de acordo com a professor Maria de Los Angeles Palha, do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que identificou microrganismos que se alimentam da glicerina, transformando a substância em gás.

As bactérias são extraídas do esterco bovino. "Não isolamos uma bactéria. Trata-se de um consórcio bacteriano composto por várias espécies de microrganismos", informa. A transformação da glicerina é feita num biodigestor, equipamento onde ocorre a fermentação de biomassa para a obtenção do biogás. O gás produzido é o metano, o mesmo liberado pelo gado bovino após a ruminação do capim ou pelos aterros sanitários e lixões das cidades. "É um gás para ser queimado, assim como o gás natural que usamos na cozinha", diz Maria Palha.

A partir de julho, quando o País começar a usar o B3 (diesel com adição de 3% de biodiesel), a estimativa é de um consumo de 1,3 bilhão de litros anuais de biodiesel. Como a cada litro já gerados 30% de glicerina, haverá no Brasil uma oferta de 390 milhões de litros de glicerina. "Hoje a glicerina é absorvida pela indústria cosmética como matéria-prima. Mas, quando a produção de biodiesel aumentar, haverá mais glicerina do que o mercado é capaz de absorver", adverte.

Hoje, usinas de cana-de-açúcar são auto-suficientes em energia. No futuro, as usinas de biodiesel também deverão ser, sem fazer uso do seu produto principal, mas extraindo metano que pode ser usado para gerar energia elétrica da sobra de glicerina. O estudo começou em abril de 2007, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCT). A equipe, integrada por alunos de mestrado, iniciação científica e outros professores do Departamento de Engenharia Química da UFPE ainda estuda a relação ideal entre a quantidade de glicerina empregada e a de esterco no processo. "Que o consórcio de bactérias degrada a glicerina, transformando a substância em gás, nós já temos certeza. Só falta analisar o teor de glicerina e de metano envolvidos." Segundo ela, 30 graus centígrados é a melhor temperatura para obter a fermentação e o gás. E será fundamental, completa, que empresas que detêm tecnologia de captura de gases contribuam com projetos de qualidade para sequestrar o máximo do metano liberado.

Um dos gases causadores do efeito estufa, fenômeno que provoca o aumento global da temperatura, o metano tem no gado seu principal emissor, equivalente à emissão anual de gás carbônico (CO2) de 36 milhões de veículos de passeio, informa a pesquisadora Mercedes Bustamante, do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), segundo a assessoria do Ministério de Ciência e Tecnologia. O metano é 21 vezes mais agressivo à atmosfera no caso do efeito estufa, do que o CO2. Sua queima, em vez da liberação pura e simples, reduz esse efeito.

Fonte: 24 Horas News

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