A cada dia observamos longas discussões, seja pelas órgãos governamentais ou pelas entidades não governamentais, empresas privadas e sociedade como um todo, abordando o futuro energético e do meio ambiente do planeta, com temas como a necessidade da proteção ambiental, a redução da emissão de gases que provocam o Efeito Estufa, a preservação da camada de ozônio, a substituição de fontes fósseis de energia por combustíveis biodegradáveis, entre outros.
Em setembro deste ano, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com base nas diretrizes do Ministério de Minas e Energia, promoveu dois leilões de biodiesel com previsão de comercialização de 380 milhões de litros, que deverão atender a demanda para 2008, assegurando o suprimento para a mistura B2 - acréscimo de 2% de biodiesel ao diesel, obrigatório a partir de janeiro de 2008. O leilão foi exclusivo a produtores que possuem o "Selo Combustível Social", concedido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
Há algum tempo já se fala sobre a mudança cultural pela qual passam as empresas socialmente responsáveis, utilizando-se de ferramentas e adotando princípios que as tornarão provavelmente as que garantidoras do processo de sustentabilidade do planeta e de seus próprios negócios. As organizações que não estiverem alinhadas ou preocupadas com preservação do meio ambiente e dos impactos de suas ações na sociedade como um todo no futuro poderão enfrentar barreiras nos negócios. Neste caso anterior, por exemplo, a participação do leilão só foi possível às empresas com responsabilidade socioambiental.
O cenário brasileiro destaca que o consumo de etanol dobrou num período de cinco anos com o aumento da produção dos veículos bicombustíveis. As montadoras de veículos instaladas aqui no Brasil apostaram na produção dos veículos movidos a álcool, acreditando numa nova tendência mundial, visivelmente perceptível. Há previsão de que 4 milhões de novos veículos "flex" sejam produzidos até 2013.
Para atender a essa crescente demanda, o Ministério de Agricultura criou metas para até 2011, que foram chamadas de Plano Nacional de Agroenergia. O principal objetivo da iniciativa é "desenvolver e transferir conhecimento e tecnologias que contribuam para a produção sustentável da agricultura de energia e para o uso racional da energia renovável, visando à competitividade do agronegócio brasileiro, e dar suporte às políticas públicas".
O Brasil assumiu a liderança mundial na geração produtiva do etanol, e o reconhecimento sobre o produto como o mais eficiente do mundo na solução socioambiental. O país, com isso, está cotado e qualificado a liderar a agricultura de energia e o mercado de biocombustíveis em escala mundial. Geograficamente privilegiado, existe a possibilidade de dedicar novas terras à atividade da produção do etanol, sem comprometer áreas utilizadas para produção de alimentos e obedecendo a legislações sobre impactos ambientais. Porém, há que se ter uma fiscalização rígida para que abusos e extrapolações não aconteçam.
Os grandes empresários brasileiros do setor, os usineiros, estão investindo na aquisição de terras e destilarias cerca de US$ 10 bilhões. Estão em construção mais de 80 novas usinas e uma busca frenética por novos pólos produtivos, principalmente na região Centro-Oeste do país, devendo gerar 200 mil postos de trabalho com a expansão da área de plantio.
No Brasil, existem cerca de 350 usinas em operação, estando boa parte ainda sob controle familiar, muitas delas caminhando com dificuldades financeiras. Mas esse cenário aos poucos vai mudando, com investimentos cada vez mais pesados de empresas e investidores internacionais. A participação de investimentos estrangeiros nesse setor é uma realidade, porém boa parte das empresas ainda não está preparada para atender as exigências desses investidores.
A responsabilidade socioambiental é uma das demandas que está no topo da lista dos investidores estrangeiros. No Brasil, muitas instituições financeiras já não disponibilizam financiamento se a empresa não apresenta um relatório responsável na área social e ambiental. Portanto, dificilmente haverá investimento futuro para uma solução energética onde nosso país pode assumir importante papel de liderança se não houver a conscientização das empresas de que devem atuar com responsabilidade socioambiental e garantir seu desenvolvimento sustentável.
Mauro Ambrósio é sócio-diretor da área de Responsabilidade Socioambiental da BDO Trevisan
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