Discussão
No contexto do estudo, foi realizado no dia 19/11 passado, na cidade de The Hague (Holanda) o seminário “Quality and sustainability of biodiesel for export from Brazil.” De comum acordo com entidades brasileiras, a Universidade de Wageningen nos convidou para fazer uma apresentação sobre o tema, a fim de embasar a sua discussão. Tanto a apresentação dos pesquisadores europeus, quanto a minha palestra, demoraram uma hora cada, mas a discussão estendeu-se além de duas horas!. Ao final, outras duas horas foram necessárias para acordarmos pontos básicos, que necessitam de aprofundamento ou estudo, para chegar-se a uma conclusão final, ou seja, o que precisamos melhorar em nosso país para sermos os fornecedores de biodiesel da União Européia.
Sustentabilidade
A Europa vai precisar, daqui a quatro anos, de uns 4 bilhões de litros de biodiesel. Em 2020 o número é assombroso, algo acima dos 25 bilhões. Convencer os europeus que o Brasil pode produzir esta quantidade de óleo, dadas as garantias contratuais de demanda, não foi muito difícil. Para tanto bastou demonstrar que temos solo, água, clima, sementes e outros insumos, agricultores capazes e empresários de primeira linha. Discutir as especificações técnicas do biodiesel, e como vamos cumpri-las, também não foi difícil. Para isto existe a inteligentzia brasileira nas universidades e outras instituições de pesquisa.
A parte empedernida ocorreu na discussão das questões ambientais e sociais. As ONGs baseadas no Brasil – financiadas pelo Primeiro Mundo – se encarregam de veicular uma imagem muito distorcida do que ocorre no Brasil. Fui questionado sobre desmatamento na Amazônia; soja ou pastagem no lugar da mata; soja e milho que provocam erosão e poluem os rios; trabalho escravo na Amazônia ou nos canaviais; o balanço de carbono e a emissão de gases de efeito estufa dos cultivos energéticos e dezenas de outros tópicos. Afinal, eram duas dezenas de europeus do outro lado, sumamente interessados em que não pairasse qualquer dúvida sobre a capacidade de o Brasil produzir biodiesel de forma sustentável.
Pelo balanço final do evento, acho que respondi, convenientemente, a todas as questões - ao menos é o que ficou registrado. Não deixar dúvidas sobre a sustentabilidade ambiental e social da nossa agricultura passou a ser o busílis da questão e é importante que não percamos esta perspectiva para o médio e longo prazo. Ou seja, produzir será relativamente fácil. Colocar em um mercado que a cada dia impõe novas e crescentes exigências além das especificações técnicas, é que são elas.
A agenda da União Européia
Relato abaixo, de forma sucinta, a agenda que foi colocada na reunião e que precisa ser cumprida por quem pensar em exportar biocombustíveis para a União Européia.
Está de bom tamanho ou ficou faltando algo?
Com o perdão da brincadeira, vai ficar mais fácil produzir e comercializar míssil interbalístico que alimentos ou biocombustíveis, tamanhas as exigências que as mudanças climáticas globais e a as atitudes ambientalmente e socialmente corretas imporão à produção agrícola. No entanto, assim como os alimentos vinham sendo submetidos a agendas sanitárias, ambientais e, mais recentemente, sociais cada vez mais rígidas, parece-me lógico que a agenda seria aplicada aos biocombustíveis.
Bem, meu registro final foi que o Brasil tem condições de cumprir esta agenda, integralmente. Desde que, o preço do produto contemple um bônus adicional pelas exigências não agronômicas ou não técnicas, que possuem um custo que representará um percentual elevado do custo de produção. E acho que esta deve ser a tecla da nossa negociação: sim, podemos entregar o produto exatamente do jeito que vocês estão encomendando.
Troco
Mas eu sou do tipo que dá um boi para não brigar e uma boiada para não fugir da briga. Os companheiros europeus foram lembrados que:
e que a principal razão do aparente descaso ambiental dos produtores agrícolas dos países emergentes é o alto subsidio agrícola do Primeiro Mundo, que derruba os preços dos produtos agrícolas deixando o agricultor sem capital para produzir, quanto mais para preservar.
Não alivia a nossa responsabilidade, mas ao menos empata o jogo!
Fonte: Jornal de Londrina - Décio Luiz Gazzoni - 22-11-2007
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